Em menos de um mês, 57 taxistas foram assaltados em Salvador

Taxista chegou a ser mantido cinco horas refém por criminosos, que embarcaram no Porto da Barra

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  • Fernanda Santana

Publicado em 31 de janeiro de 2022 às 05:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes

Em cinco horas, B., taxista há 24 anos, conheceu o “pior terror da vida”. Três criminosos se fingiram de passageiros, no Porto da Barra, entraram no carro dele e o mantiveram refém no último sábado (29). No fim, roubaram o veículo e R$ 5 mil, com compras no cartão de crédito e saques em bancos. Só em janeiro deste ano, foram 57 taxistas assaltados - 14 tiveram seus carros roubados - em Salvador, segundo a Associação Geral dos Taxistas (AGT).

Em janeiro do ano passado, foram 50 taxistas assaltados e 11 táxis roubados, o que mostra um aumento de até 14% na incidência dos roubos no início de 2022. Dos 14 carros levados por bandidos até então, 12 foram recuperados, ainda de acordo com a AGT. Seis taxistas foram mantidos reféns por assaltantes.Os crimes não têm horário, nem endereço marcado para acontecer: ocorrem de dia ou a noite. B. foi abordado às 15h15 por dois homens e uma mulher, na fila de táxis do Porto da Barra. Ele mexia no celular quando o trio entrou no carro e mandou seguir viagem para o bairro dos Barris. “Chegando lá eles colocaram a pistola na minha cabeça e ficaram com ela o tempo inteiro na cabeça. Desceram pela Lapa, Bonocô, Pirajá...”, lembra a vítima.No trajeto pela cidade, os bandidos compraram comidas, bebidas e roupas com o dinheiro do taxista. O carro até passou por uma blitz da Polícia Militar (PM), na altura de Pirajá, mas passou direto, sem ser parado. Taxistas ouvidos pela reportagem reclamam pelo fato de, segundo eles, não serem abordados em operações policiais.

B., o taxista assaltado no Porto da Barra, ingressará com um pedido no Ministério Público da Bahia (MP), ainda esta semana, para que a PM seja obrigada a abordar taxistas em blitzes. Os criminosos largaram a vítima na altura do bairro da Caixa D’água e seguiram com o carro. Em mais de 20 anos atrás do volante. B. tinha sido assaltado outras duas vezes. “Eu colaborei o tempo inteiro, eles dizendo que iam arrancar meu olho, cabeça, me ameaçando, um terror. Estamos assim, vivendo, nessa violência. A pandemia empobreceu o pobre que já era pobre e os bandidos encontram facilidade de nos saquearem, maltratarem”, diz B., que prefere não ser identificado pois retornará ao trabalho.O carro dele foi encontrado, no último domingo (30), no bairro do Politeama. Como ainda precisará regularizará a situação do carro, depois do roubo, serão pelo menos três dias longe do trabalho. "Às vezes a gente volta para casa com R$ 80 do dia, quando muito, então você imagine o prejuízo". 

Trio é apontado como responsável por três crimes

Embora os crimes não tenham horário para acontecer, Denis Paim, presidente da AGT, conta que o mesmo trio - dois homens e uma mulheres - que assaltou B. é apontado como responsável por assaltar outros oito taxistas. “Todas as vezes, com esses requintes de pedir dinheiro”, explica o dirigente. 

A concentração de assaltos, ainda conforme a AGT, está no centro de Salvador - onde os criminosos também costumam abandonar os veículos -, Avenida Paralela ou no bairro de São Rafael. “Infelizmente, não tem horário e eles estão se qualificando cada vez mais nisso. Tem gente que deixa de sair [trabalhar] de noite, aí vão e assaltam de tarde”, explica Paim. 

 

Em todo o ano passado, foram 519 taxistas assaltados e 101 carros roubados. Segundo Denis, tem se tornado mais comum não só roubar os pertences menores dos taxistas, como tomar seus carros e abandoná-los depois. Os criminosos, claro, se passam por passageiros para solicitar corridas - seja pessoalmente ou via aplicativos de taxistas. “Geralmente, eles pegam a corrida como passageiros. Ultimamente, eles estão levando mais os carros”.

A AGT planeja atualizar as estatísticas deste ano, para aprimorar a comparação entre os dois anos - 2021 e início de 2022. 

Já houve reuniões entre a AGT e o Comando Geral da Polícia Militar para que taxistas com passageiros a borda sempre abordados em blitzes, com vistoria do veículo e abordagem dos passageiros, segundo Paim. A PM respondeu à reportagem que já faz isso e afirmou que nos 15 primeiros dias deste ano, guarnições abordaram 5.028 taxistas ou motoristas de aplicativo.

As ações apreenderam 212 armas de fogo em toda a Bahia. A PM não informou, no entanto, se as armas estavam sob posse de passageiros.

Taxistas mudam rotina depois de roubos

Depois das 19h, é sempre hora de voltar para casa, exceto se algum cliente antigo tiver agendado uma corrida. A rotina de violência deixa os taxistas em alerta."Deixo de pegar várias pessoas de bem na rua por conta da desconfiança, pois fui assalto por dois elementos com fardas de trabalho", conta M., outro taxista que foi assaltado e mantido refém por dois criminosos, na manhã da última sexta-feira (28).Ele é taxista há seis anos e foi o primeiro assalto da sua vida profissional.

Os bandidos pediram a corrida no Politeama de Baixo com destino ao bairro da Caixa D'Água, às 9h40. Quando chegaram lá, anunciaram o assalto e rodaram com M. pela cidade - similar ao que ocorreu com B., o taxista assaltado na Barra. Tiraram dele a aliança, o relógio, dinheiro e o carro. Duas viaturas chegaram a passar ao lado dele, mas o carro não foi abordado e M. teve receio de chamar atenção dos policiais para pedir socorro. 

Até o meio-dia, M. ficou sob a mira do revólver. "Eles só me largaram depois". À noite, um colega encontrou o carro na Baixa dos Sapateiros. É por meio de um aplicativo de mensagens que os taxistas se comunicam, relatam assaltos e alertam sobre veículos encontrados. Há localidades onde alguns deles diminuíram a frequência de trabalho, como nas proximidades do Nordeste de Amaralina, Engenho Velhos da Federação, Uruguai e Alto das Pombas. Nem todas as ocorrências de roubo ou furto de veículo a taxistas constam nas estatísticas online da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Lá, aparecem, desde o dia 1º de janeiro, 18 veículos roubados ou furtados - sem especificação por veículos comuns ou táxis. As localidades, no entanto, não são nenhuma das áreas evitadas por taxistas.

As regiões que, neste mês, estão com com maior incidência de roubo de veículo entre Salvador ou Região Metropolitana, ainda de acordo com o boletim da SSP, são Lauro de Freitas e Camaçari. Os números podem ser atualizados. Em janeiro do ano passado, foram 65 veículos roubados ou furtados na capital baiana ou cidades do entorno.