Em menos de uma semana, Eva Luana recebeu mais de 2 mil relatos de abuso

Vítimas de todo o Brasil procuraram a jovem para perguntar como ela conseguiu se libertar das agressões

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  • Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2019 às 11:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Eva participou do Encontro com Fátima Bernardes (Foto: Divulgação/TV Globo)

Em menos de uma semana, a jovem Eva Luana da Silva, 21 anos, recebeu mais de duas mil mensagens de outras vítimas de abuso. A informação foi divulgada pela própria Eva, na manhã desta segunda-feira (25), no programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. "E não são relatos de abuso que aconteceram no passado. Elas estão vivendo agora, pedindo ajuda e perguntando como eu saí", contou a jovem, em entrevista à apresentadora. A história de Eva chocou o Brasil na semana passada. Na última terça-feira (19), a jovem, que é estudante de Direito, publicou um relato em seu Instagram, dividido em cinco partes, sobre o pesadelo que viveu com o padrasto nos últimos oito anos. Estupros, agressões, torturas física e psicológica eram acontecimentos diários. 

CONFIRA O DEPOIMENTO DE EVA LUANA NA ÍNTEGRA

O padrasto de Eva, Thiago Oliveira Alves, 37, está preso desde o último dia 13. Ele foi indiciado por tortura, violência contra a mulher e estupro de vulnerável, pela Polícia Civil. No entanto, de acordo com o Ministério Público do Estado (MP-BA), ele pode responder por mais de dez crimes. 

Durante o programa, Eva falou sobre as consequências que sofria quando tentava defender a mãe - e vice-versa. A mãe dela também foi vítima das agressões. "Eu tive medo porque, todas as vezes que uma defendia a outra, tomava uma proporção muito grande. A gente (ela e a mãe) se segurava e falava: uma hora a gente vai conseguir", disse, emocionada. Controle Em depoimento à imprensa, na quarta-feira (20), Eva contou que Thiago tomou conta de tudo. Da família, da casa, da loja de materiais elétricos que a mãe dela tem em Camaçari. Isso logo evoluiu para o controle de tudo que ela fazia na vida. Para onde ia, quando ia, com quem ia, como se vestia. Ela era obrigada a mandar fotos, praticamente em tempo real, de todos os lugares onde estava.  

Aos 13 anos, quando decidiu denunciá-lo, foi com a mãe à delegacia. Estavam certas de que aquele terror acabaria. Antes de ir à polícia, porém, passaram a noite na casa de uma amiga que as apoiava. “Quando a gente estava na delegacia, ele foi para a casa dessa amiga. Invadiu a casa dela armado. Deu chute no portão e entrou com vários homens. E eu percebi: não posso ir para a casa de ninguém. O único lugar que eu tenho para ir é a delegacia. Só que ele me ameaçou, me fez retirar a queixa e eu não consegui dar prosseguimento a isso”, contou, em entrevista ao CORREIO, na manhã desta quarta-feira (20).Só que, a partir dali, as coisas só pioraram. A quase denúncia não deu em nada e resultou em ainda mais sofrimento. “Ali eu perdi a minha alma. E o que eu fui denunciar,  1 ano de sofrimento, se multiplicou em mais 8 anos”, narrou Eva, em seu Instagram. 

Seis promotoras Para investigar o caso, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) chegou a designar seis promotoras para atuar na análise do inquérito – uma delas é Anna Karina Senna, substituta na 10ª Promotoria de Justiça de Camaçari. Em nota, o órgão informou que a denúncia foi oferecida no último dia 11. 

Em entrevista coletiva na sexta-feira (22), a promotora Anna Karina disse que não poderia revelar a tipificação dos atos cometidos por Thiago. Ela lembrou, no entanto, alguns dos crimes já explícitos nos relatos de Eva nas redes sociais."Abuso sexual, ameaça, tortura, lesão corporal, são muitos os crimes, todos de grande gravidade. Não podemos revelar detalhes por determinação da Justiça, principalmente pela criança. Eva foi vítima de pelo menos seis crimes, a mãe, outros três, e contra a irmã da jovem, que também está como vítima no processo", afirmou.O CORREIO entrou em contato com a Vara da Justiça Pela Paz em Casa de Camaçari (antiga Vara da Violência Doméstica e Familiar) e um servidor do órgão ratificou que o processo corre em segredo de Justiça por determinação do titular da vara, o juiz Ricardo José Vieira de Santana. O sigilo teria sido estabelecido devido à “natureza dos fatos”. 

Preso Na semana passda, a delegada Florisbela da Rocha, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Camaçari, informou que Thiago negou que tenha cometido qualquer um dos crimes. O padrasto já está no sistema prisional. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado (Seap), ele foi encaminhado ao Centro de Observação Penal, em Salvador. 

A exoneração de Thiago da Secretaria de Serviços Públicos de Camaçari foi publicada no Diário Oficial da cidade dequinta-feira (21). Na publicação, assinada pelo prefeito Elinaldo Araújo, a prefeitura destaca que a exoneração ocorreu em 31 de janeiro.