Em Salvador, 121 condutores são multados por dia por uso do celular

De janeiro a agosto, foram 24,9 mil multas pelo uso do aparelho no trânsito na capital

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  • Amanda Palma

Publicado em 1 de outubro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Você olha para um lado, para outro e não resiste em pegar o celular para responder àquela notificação no grupo do WhatsApp. Ou seu chefe liga e você atende, mesmo tendo as mãos ao volante. Situações como essas renderam multas para, em média, 121 motoristas por dia somente este ano, em Salvador, incluindo os motociclistas.

O uso do aparelho de celular no trânsito se tornou um fator de risco emergente e passou a chamar atenção até mesmo da Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Ao todo, de janeiro até agosto deste ano, a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) contabilizou 29.460 multas por conta do uso do aparelho celular no trânsito. No mesmo período do ano passado, foram registradas 22.789 multas em decorrência desse tipo de infração. Durante todo o ano de 2016 foram registradas 33.134 infrações, número menor do que o registrado em 2015, que foi de 40.547.

Em novembro do ano passado, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) incluiu dois outros tipos de multas para o uso do aparelho celular no trânsito: estar segurando ou manuseando o celular também viraram infrações gravíssimas. O valor da multa é de  R$ 293,47. Já usar o celular com fones de ouvido é considerado infração média, com multa no valor de R$ 130,16.

Campeão de notificações Segundo dados da Transalvador, entre os três tipos de infrações possíveis com o uso do aparelho, falar ao celular ainda é o campeão. Este ano foram 13.038 infrações por “dirigir veículo utilizando-se de telefone celular”.

Em seguida, aparece “dirigir veículo manuseando telefone celular”, com 9.320 infrações. Por último, “dirigir veículo segurando telefone celular” registrou 7.102 infrações no mesmo período.

O taxista Eduardo Nascimento, 34 anos, foi um dos flagrados pelas câmeras da Transalvador este ano. E, de uma vez só, recebeu a multa por usar o celular e outra por também  estar dirigindo sem o cinto de segurança. Ele diz que evita ao máximo usar o telefone no trânsito, mas acaba pegando o aparelho quando precisa responder a alguma mensagem mais urgente.“O máximo que eu faço é escrever. Também quase não recebo mais ligações, é bem adverso receber. Eu também não uso muito o bluetooth do carro, porque quando estou com passageiro no carro, a ligação já entra direto e perco a privacidade”, explica o taxista.Ele pretende recorrer da multa e evitar o prejuízo das duas infrações, que cometeu quando passava pela  Conceição da Praia, no bairro do Comércio. “Eu tenho muito cuidado no trânsito. Tenho 12 anos dirigindo e essa é a primeira multa por celular de toda minha vida nesse tempo todo que eu tenho de trabalho como taxista”, diz.

Risco emergente Segundo Victor Pavarino, assessor internacional em Segurança Viária da Opas/OMS, o uso de smartphones por motoristas tem crescido em nível global.“O uso de smartphones não é só para falar, não é só pessoa falando. Muitas pessoas estão teclando enquanto dirigem. Esse número de motoristas subiu muito em pouco tempo, devido a uma popularização dos smartphones em nível global. Tem mais celulares do que a população nos países, e isso tem reflexos no trânsito”, observa o representante da OMS.Ainda de acordo com ele, o uso do aparelho ainda não foi incluído no grupo de fatores de risco principal, que inclui excesso de velocidade, direção sob efeito de bebida alcoólica, não uso do cinto, não uso de cadeirinhas e capacetes.

No entanto,  já é considerado um fator emergente pela organização, uma vez que afeta  a atenção do motorista. Isso porque o uso do celular faz com que ele precise dar conta de duas ações ao mesmo tempo.

“É diferente de você ouvir música no carro ou conversando com algum passageiro. Quando você está interagindo com uma pessoa que não está no carro, ela não sabe o que está acontecendo no trânsito. Quem está no carro acompanha o seu ritmo, a sua freada, e tudo isso determina o ritmo da conversa pelo que está acontecendo no trânsito”, explica Pavarino.

Resposta lenta  Com a atenção dividida, o motorista tem uma redução no tempo de respostas nas ações do trânsito. Segundo Antonio Meira, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego na Bahia (Abramet-BA), por causa dessa infração, a chance de acontecer um acidente aumenta em até 400 vezes.

“Além de estar manuseando o celular, tem que dirigir com as duas mãos no volante. É a falta de concentração que atrapalha o motorista e aumenta o tempo de resposta dele e isso pode aumentar o risco de acontecer um acidente em até 400 vezes”, explica Antonio Meira.

No início do mês, um acidente envolvendo o uso de celular terminou na morte  de três mulheres  na BR-113, no estado do Tocantins, minutos depois de elas gravarem um vídeo com celular dentro do veículo.

No vídeo, as três aparecem cantando e sorrindo, bastante à vontade. O acidente aconteceu na cidade de Gurupi, quando o carro se chocou com uma carreta depois de invadir a pista contrária.

Infração é registrada por câmera ou agente Na capital, as infrações por uso do celular só podem ser registradas pelo agente de trânsito ou pelas câmeras da Transalvador, que estão instaladas ao redor da cidade. Os fotossensores não registram esse tipo de infração, segundo o superintendente do órgão, Fabrizzio Muller.

As infrações são identificadas quando o motorista está com o celular nas mãos.“Com fone de ouvido ainda é possível identificar. Através do bluetooth é mais difícil de identificar, mas o condutor pode ser flagrado quando tiver discando com o celular na mão, ainda”, explica o superintendente.Já o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego na Bahia (Abramet-BA), Antonio Meira, lembra que o uso do celular, mesmo parado no semáforo,  é passível de multa, já que o veículo está ligado.

“O carro está ali ligado e ele deve estar atento ao que acontece ao seu redor no trânsito”, alerta  Antonio Meira.

Segundo Fabrizzio Muller, a Transalvador tem feito ações educativas sobre o uso dos aparelhos no trânsito, para conscientizar as pessoas sobre os riscos para a segurança, além da proibição.

“Estamos fazendo ações nas redes sociais, e também nas escolas. Nossas ações educativas, bastante abordado com a crianças, além de serem os próximos condutores, são difusores dessa educação no trânsito dentro de casa, com os pais e irmãos”, explica o superintendente da Transalvador.