Empreendedoras baianas ganham financiamento e intercâmbio no Chile

O projeto O Som por Elas e o jogo Elas foram selecionados pelo programa Unidas: Mulheres nas Indústrias Criativas

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  • Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

A indústria criativa é o setor da economia que possui o capital intelectual como principal matéria-prima na produção de bens e serviços. O que conta nesta área é a capacidade que os empreendedores têm de utilizar seus conhecimentos para inovar e agregar valor. Se o que não falta na Bahia são pessoas com potencial criativo, quando pensamos nas mulheres, essa capacidade parece ficar ainda mais visível.

É o caso das iniciativas O Som por Elas, de autoria das jornalistas Joyce Melo e Beatriz Almeida, e o jogo Elas, da programadora Flávia Figueredo e da designer Beatriz Ramos. O primeiro empreendimento busca fornecer conhecimento para mulheres que estão trilhando carreira na música baiana e é fruto da plataforma Pagode por Elas, que foca em transformar figuras femininas em protagonistas, e não somente símbolos sexuais, do pagode baiano.

Já o segundo, é um game que embarca na aventura de um casal de mulheres que querem se casar, mas para isso, precisam combater o preconceito e a intolerância. No mundo majoritariamente masculino da tecnologia e programação, a ideia de criar um jogo virtual que representa a luta por direitos estava engavetada há algum tempo, por falta de patrocínio e recursos. 

Os dois projetos de autoria de mulheres baianas receberam financiamento da Unidas - Rede de Mulheres entre a Alemanha, América Latina e Caribe. A responsável pela programação cultural do Goethe-Institut, que coordena a iniciativa do programa, Maria Fiedler, diz que o objetivo é fortalecer negócios de empreendedoras que participam da economia criativa e capacitam outras mulheres.

“Nós, mulheres, podemos ser muito independentes, mas às vezes nos falta conhecimento sobre a estrutura de montar um negócio”, afirma a coordenadora. O programa batizado de Unidas: Mulheres nas Indústrias Criativas, vai apoiar financeiramente os negócios, além de levar as criadoras para um intercâmbio no Chile, onde elas participarão de oficinas e workshops voltados ao plano de negócios.

Pagode por elas O interesse de Joyce Melo em entender o pagode baiano não só pela vertente musical, mas como empreendimento e lugar de espaço de empoderamento para mulheres, surgiu em 2019 enquanto cursava jornalismo. 

Ela e colegas fizeram um trabalho de pesquisa bibliográfica sobre o pagodão e perceberam que figuras femininas eram sempre apresentadas como símbolos sexuais e raramente como protagonistas. Por outro lado, cada vez mais mulheres potentes desse gênero musical têm estado à frente dos palcos, é o caso de Allana Sarah (a Dama) e Aila Menezes.

Foi daí que surgiu o Pagode por Elas, a primeira plataforma de conexão, informação e entretenimento voltada às mulheres do pagode baiano. “Quando começamos a conversar com essas mulheres, percebemos que existe uma problemática relacionada ao conhecimento e nossa iniciativa vem nesse sentido, de construir uma frente de educação na nossa rede”, afirma Joyce, que é CEO da plataforma.

O objetivo de Joyce e Beatriz Almeida, gerente de projetos do Pagode por Elas, é ensinar para as mulheres da música baiana, e não só do pagode, formas de alavancar suas carreiras enxergando a cena artística como um negócio. Com o apoio da Unidas, elas organizarão uma comunidade imersiva e interativa com duração de dois meses, voltada às figuras femininas do mercado musical independente baiano.

As ações serão realizadas por meio de plataformas digitais com conteúdos sobre direitos autorais e gestão de empresas na música. As inscrições estarão abertas no início do ano que vem e as mulheres serão selecionadas a partir de um formulário. As expectativas de Joyce Melo em fazer o intercâmbio para o Chile estão altas: “Sabemos qual é a raiz do preconceito que existe contra o pagode e levar nosso projeto de transformação dessa visão para fora do país é muito simbólico”, comemora.

Heroínas lésbicas Duas mulheres que querem se casar, justo no dia em que a humanidade é tomada por uma onda de intolerância e preconceito, lutam para conseguir realizar o sonho e embarcam em uma aventura cheia de reflexões sobre o direito de amar e de serem respeitadas. Esse é o roteiro do jogo Elas.

As mulheres que estão por trás da criação do game, Beatriz Ramos e Flávia Figueredo, são sócias do Rebunny Studio, startup criada em fevereiro deste ano, que trabalha com o desenvolvimento de jogos, aplicativos e sites. Beatriz, nascida e criada em Cajazeiras, sempre foi apaixonada por jogos. Ao entrar na universidade para cursar design, descobriu que sua profissão poderia encaixar com o hobbie. 

Mas, como nem tudo são flores, tanto Beatriz quanto Flávia enfrentaram dificuldades no mundo da tecnologia, majoritariamente masculino. “A falta de mulheres nesses espaços nos impulsionou para criarmos projetos de jogos mais representativos”, conta Beatriz Ramos. 

O financiamento veio em boa hora e agora elas, que têm a missão de popularizar a produção de jogos digitais e softwares, vão produzir o game que aborda o casamento homoafetivo e a luta contra o preconceito. 

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro