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Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2019 às 22:43
- Atualizado há 2 anos
O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, declarou à Justiça Federal nesta sexta-feira (4) que é ‘injusto’ acusar o ex-presidente Lula de participação na negociação de propina de US$ 40 milhões em troca da liberação de financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao grupo Odebrecht. As informações são do repórter Breno Pires, do Estadão Conteúdo.>
Segundo ele, é preciso primeiro esclarecer ‘contradições’ em depoimentos do ex-ministro Antonio Palocci e de Emilio Odebrecht, pai do empresário baiano, sobre participação de Lula no caso. Marcelo não citou quais são essas contradições.>
“É tremendamente injusto se fazer qualquer espécie de acusação ou condenação de Lula sem que se esclareçam as contradições dos depoimentos de meu pai e Palocci. Como eu disse, não tratei de Lula. Tudo que eu soube de Lula foi através de meu pai, Palocci e Alexandrino (Alencar, ex-executivo da Odebrecht que também firmou delação). E os depoimentos deles estão cheios de contradições”, disse Marcelo.>
A afirmação contrasta com o que ele próprio havia afirmado anteriormente em depoimento, quando firmou um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), homologado em 2017.>
Na ocasião, o empreiteiro citou Lula como alguém que teria direcionado o pedido feito pelo ex-ministro petista Paulo Bernardo.>
O depoimento à época foi utilizado como base para abertura de inquérito para investigar o ex-presidente da República, Paulo Bernardo, Palocci e a então senadora e hoje deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR).>
“No caso específico dessa negociação, em 2009, início de 2010, até porque eu acho que estava se aproximando da eleição, veio o pedido solicitado para mim por Paulo Bernardo, na época, que veio por indicação do presidente Lula, para que a gente (Odebrecht) desse uma contribuição de US$ 40 milhões e eles estariam fazendo a aprovação da linha de US$ 1 bilhão para exportação de bens e serviços”, declarou Marcelo em que prestou na época da assinatura do acordo de colaboração premiada.>
No novo depoimento prestado nesta sexta-feira, 4, quando perguntado se lidou com Lula sobre o tema, Marcelo Odebrecht disse que não e que as informações que tinha eram aquelas que lhe haviam sido relatadas não diretamente por Lula. Falou então em contradições – sem detalhá-las.>
“A essa altura do campeonato, eu não posso dizer nada. Porque eu digo uma coisa, tá lá nos e-mails, meu pai disse que falou comigo, falou com Lula outra. Então eu acho que precisa esclarecer a participação de Lula especificamente, ela precisa ser esclarecida por meu pai e Alexandrino, por meu pai e Palocci”, disse.>
O empresário disse também nesta sexta que o assunto foi levado a ele por Paulo Bernardo. “E a pessoa com quem eu conversava sobre viabilizar as questões técnicas do BNDES era ele, porque era o ministro na época. Mas a negociação do ‘rebete’ em si foi mais com o Antonio Palocci”, disse. O termo rebete é uma alusão a pagamento, doação ou propina.>
Marcelo Odebrecht foi ouvido no curso de uma ação penal que tem como réus, pelo crime de corrupção, o ex-presidente e os ex-ministros Palocci e Paulo Bernardo, além de dois ex-executivos da Odebrecht. O próprio Marcelo era réu no caso, mas obteve a suspensão do processo quanto a si.>
Na denúncia original, apresentada em abril de 2018 pela então procuradora-geral da República Raquel Dodge, Lula, Palocci e Paulo Bernardo foram acusados de terem acertado o recebimento, entre 2009 e 2010, de US$ 40 milhões (R$ 64 milhões em valores da época) em troca do aumento do limite da linha de crédito número 4 do BNDES para exportação de bens e serviços entre Brasil e Angola, em benefício da Construtora Odebrecht.>
Segundo o processo, a autorização pelo governo brasileiro teria sido de US$ 1 bi – ante uma previsão inicial de US$ 500 milhões. O aumento do financiamento do BNDES de US$ 500 milhões subiu para US$ 1 bilhão. O juiz Vallisney de Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal em Brasília, recebeu a denúncia em junho.>
No depoimento desta sexta-feira, Marcelo Odebrecht disse que o valor do ‘rebete’ foi US$ 36,5 milhões, e não US$ 40 milhões. Segundo ele, a negociação começou para liberação de créditos na linha 3 e, ‘na prática, foram fechadas a linha 3 e linha 4’.>
“As duas linhas juntas fecharam (um financiamento de) US$ 1,5 bi”, declarou.>
Ele também disse que os valores foram pagos em decorrência da aprovação. “Foi preciso aumentar a linha de crédito para viabilizar o rebete”, disse.>
Marcelo disse acreditar que o US$ 1,5 bilhão seriam pagos independentemente do repasse dos US$ 36,5 milhões.>
Embora não seja ré no caso na 10.ª Vara da Justiça Federal do DF, a ex-senadora, hoje deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, também foi alvo da acusação apresentada em 2018.>
Como ela tem foro no Supremo, houve o desmembramento da denúncia, com parte seguindo para a Justiça Federal – e Gleisi segue respondendo no Supremo.>