Endividamento cresce na pandemia e atinge 65,6% das famílias soteropolitanas

Dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Fecomércio-BA

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 31 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/EBC

A economia tem dado seus primeiros passos de retomada com a reabertura de shoppings da capital que completa uma semana na próxima sexta-feira (31). As lojas abertas, no entanto, não vão encontrar fácilmente compradores com dinheiro para gastar. É que as famílias soteropolitanas atingiram recorde de endividamento e inadimplência no mês de julho. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Fecomércio-BA, neste mês  a taxa de endividados da capital baiana passou de 64,1% registrados em junho, para 65,6%. 

Já a inadimplência, atingiu o maior patamar dos últimos setes anos, ao passar de 28,7% em junho para a taxa de 30,2% em julho, segundo a pesquisa. Ou seja, três a cada dez famílias não conseguiram pagar a dívida até a data do seu vencimento. Isso significa que 608,2 mil famílias na capital baiana têm algum tipo de dívida, 168 mil a mais do que no início da pandemia no mês de março.

O professor de economia da Universidade Salvador (Unifacs), Moisés Conde, explica que as duas categorias de débito são diferentes, mas que ambas geram preocupação. “A inadimplência acontece quando a pessoa deixa de pagar uma parcela de algo, como um aluguel ou a mensalidade de uma escola, mas não necessariamente vai constituir uma dívida, depende de cada contrato. No caso de endividamento a gente tá falando de cartão de crédito, cheque especial,e outros tipos de crédito. Inadimplência diz respeito ao não pagamento de uma parcela de algo”, ensina ele. 

Quem acabou se enrolando nas dívidas, para não ficar inadimplente, foi professora Juliana Marinho, 32 anos. “Com a pandemia eu acabei pedindo muito delivery, comprando coisas pela internet, e perdi um pouco o controle do cartão. Para piorar, alguns alunos para quem eu dava aula de reforço não puderam continuar por conta da crise, ai perdi parte da renda. No final desse mês não consegui pagar integralmente a fatura do cartão, priorizei outras contas como o aluguel, e agora vou tentar negociar com o banco”, conta ela.   

Dívidas como as de Juliana são, segundo a pesquisa, as campeãs. O levantamento mostra que o tipo de dívida mais frequente continua sendo o cartão de crédito com 92,7%. Apesar do histórico da taxa ser bastante elevado, o atual percentual se situa próximo da máxima histórica de 95,8%, vistos em janeiro deste ano. “O aumento do endividamento em condições normais é saudável, quando as famílias possuem renda para quitar os compromissos. Porém, não está sendo o caso atual. São 280 mil famílias na capital nesta situação, um aumento de 125 mil em apenas quatro meses”, explica o consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze.

Na hora de usar o cartão a maior dica é reduzir parcelas. É o que defende o professor Moisés Conde. “Quanto menos endividamento menor, para pequenas compras, de menor valor, quanto menos você parcelar melhor. O ideal é comprar à vista. É claro que existem bens que você dificilmente vai ter o dinheiro para pagar de uma vez. Nesse caso o melhor é dar a maior entrada possível para que o restante fique em uma parcela menor.” 

Cuidado na reabertura Com a reabertura dos shoppings e do comércio em geral, os economistas chamam atenção para o fato de que os reflexos econômicos demoram ainda mais para passar. “A questão sanitária não passou, e a questão econômica ainda nao chegou nem ao seu ápice. Ainda vamos ter muitos fechamentos de empresa, e consequentemente demissões devem acontecer.A gente já vinha de um período ruim e a pandemia contribui para agravar isso. O que é preciso tomar cuidado, nesse momento de reabertura, as pessoas estão voltando a frequentar lojas e isso pode favorecer a compra por impulso, que não é planejada e que você faz sem necessariamente precisar do bem, e pode agravar a situação das pessoas já endividadas”, diz o professor. 

“Por mais que já esteja ocorrendo uma reabertura gradual do comércio e shoppings centers, o cenário ainda é de muita limitação de consumo por parte das famílias. Se não fossem os R$ 600,00 de auxílio emergencial, a situação, certamente, estaria pior. Pode haver um aumento do movimento no comércio, sobretudo, o popular, por alguns motivos: demanda reprimida, utilização do auxílio emergencial e com a falta de emprego, muitos estão comprando produtos para tentar fazer algum negócio e sobreviver à crise”, completa o economista Guilherme Dietze.

Um outro ponto a se observar por quem vai às lojas neste primeiro momento é possibilidade de surgirem promoções aparentemente atrativas. Quem trabalha com os números alerta que é preciso analisar para ter certeza que existe vantagem na promoção. A análise também ajuda a evitar a tal compra por impulso. “A tendência é que as lojas, na tentativa de compensar esse tempo fechadas, apresentam uma série de promoções. Na hora das promoções é preciso pesquisar, ver qual era o valor anterior do produto e no caso de uma promoção que envolva parcelas é preciso procurar qual é o juros embutido ali. Toda parcelar tem juros e muitas lojas se aproveitam para embutir os juros já no preço a vista, para parecer o mesmo preço. Você consegue perceber isso quando faz uma negociação direta com o vendedor e ele te um desconto para você pagar a vista”, alerta Conde

A pedido do CORREIO, Moisés listou uma série de dicas que podem ajudar a diminuir ou evitar as dívidas. Veja abaixo:    Coloque no papel - Todo orçamento começa sendo materializado no papel, colocando os números das despesas e receitas para ter uma idéia geral da situação

Converse em família - Torne as decisões financeiras da família o resultado de um acordo coletivo. Em momentos como esse, é preciso que a decisão dos gastos na família seja conversada e acordada entre todos os membros para evitar desgastes desnecessários

Reduza o consumo de bens supérfluos - É importante que o consumo dos bens essenciais seja preservado, como: aluguel, alimentação ou energia elétrica

Se possível, guarde - É difícil nesse momento, mas se for possível a criação de uma poupança emergencial é uma boa ideia, diante da imprevisibilidade do futuro. 

Evite as compras por compulsão - Com a infinidade de ofertas pela internet, é muito fácil comprarmos produtos desnecessários nas lojas online. É preciso manter o controle e não cair na armadilha dessas compras por impulso.

Não estoque alimentos e produtos - Por exemplo, nada de comprar além da conta itens como álcool em gel, papel higiênico ou alimentos não perecíveis. Não corremos risco de desabastecimento, e os supermercados estão entre os estabelecimentos considerados essenciais, portanto, permanecerão abertos durante a pandemia. 

Cozinhe, e evite o delivery -  cozinhar sua própria refeição pode ser uma atividade prazerosa e também evita o gasto com restaurantes delivery

Foque em atividades que não gerem gastos extras - Uma ideia pode ser ler os livros que já possui e que ainda não teve tempo para ler ou buscar outras atividades que não geram gasto extra 

Substitua o pago pelo gratuito - Uma quantidade imensa de aulas e atividades gratuitas estão sendo oferecidas na internet e podem ser uma opção para diminuir os gastos com uma atividade que você pode não considerar como essencial, como é o caso de uma academia, por exemplo.   Dê preferência aos negócios locais - Na hora de uma compra necessária prefira os pequenos empreendedores, eles são os mais afetados pelo momento e ajudá-los diminui o impacto geral da crise.     *Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco