Enem: Universidades oferecem cursos 'diferentões'; tem até graduação em Futebol

CORREIO traz guia com graduações, digamos, curiosas, e discute com profissionais a empregabilidade e os desafios dessas áreas

Publicado em 9 de agosto de 2017 às 02:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Medicina, Direito, Engenharia? Mas que nada! O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai muito além e abre as portas para novos cursos e profissões do futuro (ou do momento): Ciências Aeronáuticas, Futebol, Jogos Digitais, Tecnologia em Transporte Terrestre e Gestão de Cooperativas são algumas opções em universidades baianas públicas e privadas. O CORREIO traz um guia com essas curiosas graduações e discute com profissionais os desafios e chances de empregabilidade dessas áreas. Todos os cursos citados estão disponíveis em Salvador, com mensalidades que variam de R$ 426,55 a R$ 1.120 e podem ser acessados utilizando a nota do Enem.

O curso de Ciências Aeronáuticas, oferecido pela Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC), fez brilhar os olhos do estudante William Lucas Palinski, 22 anos, que desde criança gostava de acompanhar os aviões no céu. “É, literalmente, meu sonho. Pensava nisso desde criança e depois amadureci a ideia. Como estudei no Instituto Federal da Bahia (Ifba), que é uma escola técnica, tive contato com a Engenharia e quando chegou a hora de decidir, já estava entranhado em mim”, conta o acadêmico de segundo semestre.

Antes de entrar na faculdade, William fez um curso de piloto privado e foi lá que acabou sabendo da existência da graduação tecnológica. “Como é um mercado pequeno, todo mundo se conhece. Os professores desse curso eram também professores da FTC e mencionaram durante as aulas”. Com duração de três anos, a graduação de Ciências Aeronáuticas tem mensalidade de R$ 766,08 e oferece simuladores de aprendizado. No entanto, o diploma não torna o aluno, automaticamente, um piloto. Para isso, é necessário ser aprovado no exame teórico e no treinamento prático da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que emite a Licença de Piloto Privado de Avião, conhecida como brevê. William Palinski, 22 anos, é aluno do curso de Ciências Aeronáuticas da FTC (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Preços lá no alto De acordo com o coordenador Roberto Tosta, o curso existe há 12 anos e foi pioneiro no Nordeste. “É homologado pela Anac e as aulas são de formação teórica. A parte prática o aluno precisa fazer em agências também homologadas pelo órgão. Essa parte prática é mais cara porque a hora de voo está diretamente ligada ao custo de combustível”, explica.

A Anac determina que são necessárias pelo menos 40 horas de voo para ser piloto privado. Em Salvador, cada hora de voo custa de R$ 420 a R$ 1.800, a depender da aeronave. “O retorno, como em qualquer profissão, vai de acordo com a experiência que se vai acumulando”, adianta. Ainda conforme o professor, a faixa inicial de salário para um copiloto é de R$ 5.000.

Bola pra frente Outro curso curioso é a graduação tecnológica em Futebol, da Faculdade Regional da Bahia (Unirb). Recém-lançado, o curso de três anos também é pioneiro em Salvador e ainda não formou turma. No entanto, a universidade lançou quatro bolsas através do Programa Universidade para Todos (Prouni). A mensalidade custa R$ 1.120.

De acordo com o coordenador Cristiano Pinho, a proposta é formar profissionais para serem gestores esportivos, podendo atuar, por exemplo, em divisões de base e projetos privados de escolinhas de futebol. “Eles podem trabalhar tanto a nível de competição, quanto a nível mercadológico de serviço, podendo ser absorvidos por times e pela iniciativa privada”, explica.“Eles podem trabalhar tanto a nível de competição, quanto a nível mercadológico de serviço, podendo ser absorvidos por times e pela iniciativa privada.” (Cristiano Pinho, coordenador da graduação tecnológica em Futebol)Os objetivos desta graduação são ensinar os fundamentos teóricos e práticos da tática do futebol, bem como preparação física de jogadores e árbitros, capacitando o aluno para treinar e dirigir equipes. O estudante também aprenderá sobre interação com especialistas de outras áreas relacionadas ao esporte, como fisioterapeutas, médicos, nutricionistas, jornalistas, entre outros.

O ex-treinador do Vitória e coach esportivo, Péricles Chamusca, desconhecia o curso e o considerou inusitado, mas elogiou a iniciativa. “Acho excelente porque o campo do futebol caminha cada vez mais para a profissionalização dos clubes; precisa-se de gestão de orçamento financeiro e de uma conduta mais organizada”, analisa. O ex-treinador também espera que cursos como esse criem melhorias para o cenário do futebol, aumentando a qualidade das atividades.

Futuro digital Com foco em tecnologia, a Unirb oferta ainda o curso de Jogos Digitais. Trata-se de uma graduação tecnológica voltada para o desenvolvimento de games educativos, de entretenimento e do segmento empresarial.

Segundo Diego Bezerra, coordenador do curso, os alunos poderão aprender desde a manipulação artística, conceitual, até programação e roteiro de jogos em 2D e 3D. “É um mercado crescente e aqui em Salvador não seria diferente”, argumenta ele, citando como exemplo uma escola de desenvolvedores baianos: a Saga. Bezerra acrescenta que a vantagem desse curso é que os profissionais podem ser absorvidos por diversas áreas, como projetos de arquitetura e modelagem de interiores.

Essa diversidade de atuação estica as expectativas salariais, que começam em R$ 2.000 para programadores iniciais e podem chegar a dois dígitos fora do estado e do país, onde o mercado é mais ativo. O curso dura cinco semestres e tem mensalidade de R$ 810.

Cooperativismo Outra novidade do mercado é o curso para tecnólogo de Gestão de Cooperativas, na Unifacs. Segundo a coordenadora Ilka Carrera, as cooperativas são constituídas por membros com foco no desenvolvimento econômico sustentável e é um ramo que precisa crescer. “É preciso difundir o conceito de cooperativismo e a nossa proposta é capacitar o estudante para entender do que se trata, falar da importância do terceiro setor para o país e ensiná-los a montar e gerir cooperativas”, explica.

Com a menor mensalidade e duração entre os já listados, o curso leva dois anos para ser concluído e o valor da mensalidade é de R$ 426,55. Depois de formado, o tecnólogo estará habilitado para gerenciar cooperativas de diferentes ramos.

No Brasil, existem 13 ramos desta economia. São eles: consumo, social, trabalho, educacional, transporte, agropecuária, saúde, crédito, habitacional, produção, infraestrutura, mineral e turismo e lazer.

Cidade Quem também aderiu à graduação tecnológica foi a Universidade Federal da Bahia (Ufba), com o curso de Tecnologia em Transporte Terrestre, com duração de três anos. Criado em 2010, a graduação funciona na Escola Politécnica, ao lado de mais dez engenharias. O acesso ao curso é feito gratuitamente pelo Enem via Sistema de Seleção Unificada (Sisu). 

A coordenadora Silvia Camargo explica que os formados nessa área poderão atuar no planejamento da mobilidade urbana das cidades. “Eles poderão trabalhar no desenvolvimento de Plano de Diretor de Desenvolvimento Urbano, necessários em todo município com mais de 20 mil habitantes”, exemplifica.

Além disso, o curso habilita os profissionais para atender as diversas instituições envolvidas, em geral, no gerenciamento de transporte e engenharia de trânsito, qualificando-os para a segurança e educação nestes ambientes.“Os campos de trabalho se ampliam e a gente tem uma oferta de cursos hoje que não sonhávamos que existiria, e isso, certamente, é resultado de uma demanda social.” (Antonio Gouveia, professor de Gestão de Recursos Humanos da Unifacs)A coordenadora lembra que as duas primeiras turmas foram formadas por agentes da Transalvador e que o curso foi mudando de “cara” ao longo do tempo. “Essas turmas eram 90% formadas por agentes de trânsito. No segundo momento, apareceram pessoas procurando por uma segunda graduação, como engenheiros civis e arquitetos. Depois esse perfil se diversificou e foram aparecendo estudantes em busca da primeira graduação”, conta.

Para Antonio Gouveia, professor de Gestão de Recursos Humanos da Unifacs, todos os cursos têm demanda porque o mercado de trabalho se diversifica cada vez mais. “Os campos de trabalho se ampliam e a gente tem uma oferta de cursos hoje que não sonhávamos que existiria, e isso, certamente, é resultado de uma demanda social”, conclui.