Entenda por que a Bahia disparou no número de casos de coronavírus

Veja também a situação dos leitos na Bahia e qual a previsão de futuro da pandemia

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  • Fernanda Varela

Publicado em 20 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

O boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) nesta terça-feira (19), assustou. Nas últimas 24 horas, o número de confirmados saltou de de 8.881 para 11.013 diagnósticos. O aumento registrado foi de 2.132 novos infectados, o que corresponde a 24%. É o recorde de resultados positivos notificados no estado entre um dia e outro.

Mas, calma: o aumento no número de casos tem uma razão. De acordo com o secretário de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Fábio Vilas-Boas, desde a sexta-feira (15), houve uma unificação nos sistemas utilizados pelo Ministério da Saúde. Apesar de explicar a situação, ele diz que não há motivos para relaxar. Vilas-Boas conversou com o CORREIO e falou sobre projeção da doença, possível colapso no sistema de saúde e já adiantou: não há previsão de retorno a uma vida normal tão cedo.

Sobre o aumento repentino de diagnósticos, tudo aconteceu por uma mudança na forma de contabilizar casos do Ministério da Saúde. “Na última sexta-feira, conseguimos integrar as bases diferentes de notificação do Ministério da Saúde, que tem três sistemas diferentes pra notificar a mesma coisa. No dia 26 de março, o ministério abandonou um dos sistemas e substituiu pelo E-SUS-VE, de vigilância epidemiológica. Só que, durante 50 dias, ele não funcionou, o que fez com que acumulasse notificações. Ninguém conseguia baixar essas informações, acessar, enxergar os casos dos seus municípios. Aqui na Bahia, nós finalmente conseguimos fazer essa integração depois de uns 15 dias reunidos com profissionais de informática. Por isso recebemos tantos casos novos”, explica Vilas-Boas. Na prática, quer dizer que, quando houve a integração, os dados repetidos saíram e o que  havia de diferente foi somado.

Apesar dos 2.132 novos casos confirmados na Bahia, é possível perceber que municípios que costumam liderar a lista de infectados, como Salvador, tiveram um acréscimo pequeno, de apenas cinco novas confirmações. Isso não quer dizer, no entanto, que só cinco pessoas se infectaram. É que, do total de confirmações, 2.377 casos confirmados aguardam validação dos municípios.

De acordo com a Sesab, esses casos em análise já foram repassados para os municípios e aguardam validação para que possam ser incluídos nos dados de cada cidade. Ou seja, pode ser, por exemplo, que 500 destes pacientes sejam de Salvador, que passaria a ter 505 novos infectados, e não apenas os cinco registrados.

“Os municípios têm 24 horas para analisar os casos, que são notificados por eles mesmos. Ao fim desse prazo, os que eles não reconhecerem nós deletamos, os que reconhecerem são incluídos no sistema e se não houver manifestação, a gente inclui também como efetivo”, completa Vilas-Boas.

O CORREIO entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, que não informou quantos destes 2.377 pacientes que aguardam análise foram notificados pela pasta - o setor administrativo já havia encerrado o expediente e, por isso, os dados não poderia ser fornecidos nesta quarta.-feira (19). 

Mudança nas notificações De acordo com Fábio Vilas-Boas, outro quesito que provoca um aumento considerável no número de casos confirmados para a covid-19 é que o Ministério da Saúde mudou a forma de notificação. “O Ministério da Saúde definiu que casos de covid-19, agora, não são apenas os casos confirmados pelo exame PCR, aquele feito no Laboratório Central (Lacen). Eles passaram a incluir também os testes rápidos e aqueles diagnósticos feitos por correlação epidemiológica, que é quando o médico está convicto que o paciente tem covid, mesmo sem provas materiais, como um teste. Também entra na conta as notificações feitas de pacientes com síndromes gripais. Por isso há, também, um salto nos números”.

Por meio de nota, a Sesab endossou o que foi informado pelo secretário e acrescentou que ainda está em processo de consolidação das bases ministeriais e “este quantitativo não representa o número de pessoas infectadas nas últimas 24 horas”. 

A pasta acrescentou ainda que um dos desafios da unificação dos sistemas é “apresentar dados fidedignos ao eliminar as duplicidades das bases nacionais e outros tipos de inconsistências. Vale ressaltar que os casos e óbitos registrados são atualizados por data de notificação. Ressaltamos que o processo de atualização das informações nos municípios e Estado é dinâmico e complexo. Os dados informados diariamente são sujeitos a alterações. Considerando a pluralidade de cada município no que diz respeito a porte populacional, infraestrutura e organização dos serviços de saúde, além de todos os desafios que a pandemia de covid-19 impõe, é possível que haja mudanças no número de casos ou óbitos em decorrência de inconsistências ou atrasos no repasse das informações ao Estado”.

A secretaria disse ainda que os casos notificados entre o município e o Estado podem sofrer alterações porque o município de notificação não é necessariamente o mesmo local de residência do caso ou óbito notificado. Assim, ao concluir o processo de investigação de cada notificação individualmente, cabe às Secretarias Municipais a atualização do e-SUS VE.

Procurado, o Ministério da Saúde confirmou a adoção de uma nova metodologia nas notificações e ressaltou a importância da notificação imediata dos casos de Síndrome Gripal (SG) leve através do e-SUS VE (https://nofica.saude.gov.br/login) e dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) hospitalizados no Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (SIVEP-Gripe), no link https://sivepgripe.saude.gov.br/sivepgripe/login.html.

Números na Bahia Segundo Vilas-Boas, o pico da doença na Bahia, hoje, está previsto para fim de junho ou início de julho. Hoje, a curva de contaminação é de 6% e é necessário achatá-la para obter um maior controle no número de casos."Ainda não é o ideal. Estamos um pouco estagnados nesse percentual e o ideal é que caia. De qualquer forma, é tudo muito cedo ainda. Não vejo previsão para que a gente deixe de viver nesse cenário tão cedo. Não tem previsão de vida normal nos próximos meses, não tem como".O boletim da Sesab, que contabiliza casos de janeiro até as 17h desta terça, informou que a Bahia teve mais 14 mortes por covid-19 e alcançou o total de 326 óbitos. Na véspera, segunda (18), eram 312 fatalidades. O crescimento entre os dois dias é de 4,48%.

O maior número de notificações está em Salvador. A capital baiana confirmou 5.331 contaminados, o que significa 61,73% do total des registros. Em relação aos falecimentos, foram 215 na cidade (65,95%). Há ainda 1.775 diagnósticos na cidade que aguardam a validação. 

Entre os infectados confirmados, 2.803 pessoas já são consideradas recuperadas (25,45%) e 7.884 pacientes ainda apresentam sintomas da covid-19 e permanecem monitorados pela vigilância epidemiológica. Há 1.724 profissionais da saúde diagnosticados com o coronavírus. 

Os infectados foram notificados em 220 municípios do estado. De acordo com a Sesab, 2.377 casos aguardam validação de suas cidades. Os locais com os maiores coeficientes de incidência por 1.000.000 habitantes foram Uruçuca (3.119,06), Itabuna (2.973,41), Ipiaú (2.812,11), Ilhéus (2.421,04) e Salvador (1.855,97).

Entre o dia 1° de março e esta terça-feira (19), o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA) realizou 37.404 exames do tipo RT-PCR, que é o padrão ouro para identificar o genoma viral do coronavírus.

Ocupação de leitos em Salvador

Apesar do grande aumento no número de casos de coronavírus registrados na Bahia nas últimas 24 horas não se refletir diretamente em Salvador, o secretário de Saúde de Salvador Léo Prates já demonstra grande preocupação com a ocupação dos leitos das Unidades de Terapia Intensiva da capital baiana. “O cenário”, segundo ele avalia, ”não é nada bom”. À reportagem, Prates disse que “a previsão é que o sistema de saúde apresente ocupação máxima nos leitos de UTI já nesta quinta-feira”.  Além de Salvador, outras quatro cidade do estado já tiveram mais de 50% de ocupação de leitos de UTI: Jequié (100%), Ilhéus (80%), Seabra (66%) e Porto Seguro ( 60%).

Nesta terça-feira, a capital baiana apresentou 75% de ocupação de UTI na rede privada e 85% na rede pública. Segundo Prates, o percentual teve uma leve melhora no setor privado, que teve queda de 7%, devido a pacientes que receberam alta médica ou vieram a óbito. Já na rede pública, que apresentava 83%, teve aumento de na 2% de ocupação. Ontem, foram abertas 20 novas vagas na UTI no Hospital Ernesto Simões e outras 10 no Hospital Espanhol. Nesta terça-feira, a capital baiana apresentou 75% de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede privada e 85% na rede pública. Segundo Prates, o percentual teve uma leve melhora no setor privado, que na segunda-feira (18) apresentava uma taxa de 82% e teve uma queda de 7%, devido a pacientes que receberam alta médica ou vieram a óbito. Já na rede pública, que apresentava 83%, teve um aumento de na 2% de ocupação. 

 A partir da próxima semana, haverá ainda a inauguração do Hospital de Campanha montado na Arena Fonte Nova, com 100 novos leitos de UTI e 140 de enfermaria. Com isso, o secretário estadual de Saúde projeta que haverá um controle maior na situação dos leitos baianos."Salvador, de fato, está mais perto de uma saturação, mas temos aberto vagas diariamente para tentar amenizar essa situação. Já no interior a situação é bem melhor, tem vaga sobrando em vários municípios, por isso mesmo não falamos em colapso. Hoje, o sistema de saúde da Bahia não tem previsão de entrar em colapso. Por isso, precisamos manter a curva achatada, para que não cheguemos a isso”, acrescentou Vilas-Boas.No âmbito particular, de acordo com a Associação de Hospitais e Serviços de Saúde da Bahia (AHSEB), nos 10 hospitais privados de Salvador, há leitos que estão separados e reservados para pacientes não estão infectados com a covid-19, mas que já precisam ser utilizados para tratar essa doença. O objetivo é aumentar a oferta e, naturalmente, reduzir a taxa de ocupação. Apesar da alta taxa de ocupação de leitos, a Sesab pontua que esse número é dinâmico e flutuante, uma vez que diariamente diversos pacientes recebem alta para outras unidades, como unidades semi-intensivas, enfermarias e quartos.Jequié tem 100% de ocupação Outro município com cenário preocupante é Jequié, que com 182 casos confirmados e três mortes. De acordo com o secretário de Saúde Vitor Lavinsky, a cidade já registra 100% de ocupação leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da cidade.

"Entrei em contato com o pessoal do Hospital Geral Prado Valadares. Estamos, neste exato momento, com 100% da taxa de ocupação dos leitos de UTI. As pessoas me perguntaram porque fechar o comércio. Neste momento em que estamos tentando justamente diminuir o fluxo de pessoas em circulação na rua. É a única forma que a gente tem para tentar achatar a curva de crescimento", disse o secretário municipal de Saúde de Jequié, Vitor Lavinsky, em live no Facebook na última segunda-feira (18).

De acordo com o Governador Rui Costa, em casos urgentes como estes, pacientes serão encaminhados para unidades de saúde de outras cidades.

Ao CORREIO, Fávio Vilas-Boas explicou que, apesar da ocupação total, não é considerado que Jequié passe por um colapso na rede de saúde. "Colapso é quando todos os seus pacientes morrem lá na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) porque não achou vaga em UTI. É quando o paciente simplesmente não tem para onde ir, não tem como ser atendido e, por isso, morre. No caso de Jequié, os pacientes são levados para Vitória da Conquista, por exemplo, que tem bastante leito ainda", explica.

Fábio Vilas-Boas, que cardiologista, explica que colapso é quando todos os leitos terão ocupação total, sem possibilidade de atendimento de nenhuma maneira, mesmo com plano de saúde ou ordem judicial, o que provocará o óbito do paciente por falta de assistência médica.

De acordo com a Sesab, hoje, a Bahia conta com 1.293 leitos ao todo, estando 693 deles ocupados (53%). Destas unidades, 766 são clínicos, com 351 ocupados (45,82%) e 527 são de UTI, com 342 ocupados (64,9%).Chegada de novos respiradores Para tentar atender aos pacientes infectados, a Bahia receberá novos equipamentos esta semana. De acordo com Fábio Vilas-Boas, está prevista a chegada de 220 respiradores ao estado nesta semana. Os equipamentos são esperados em dois lotes: um deles, comprado em uma empresa inglesa, com 160, e outro com 60, de uma fábrica chinesa. O primeiro deve chegar ainda nesta quarta-feira (20) e deverá vir em um avião da FAB ou em um avião fretado. 

Já a segunda remessa faz parte de uma compra com 60 equipamentos. Uma carga com 30 respiradores mecânicos já foi entregue. Os outros 30 chegarão entre quinta (21) e sexta-feira (22).

No fim de semana, ainda são esperados 750 equipamentos alemães, da Dräger, comprados na Inglaterra.

Maiores taxas de ocupação em UTIs na rede pública:  Jequié: 100% Salvador: 85% Ilhéus: 80% Seabra: 66% Porto Seguro: 60% Feira de Santana: 50% Juazeiro: 50% Itabuna: 44% Irecê: 40% Camaçari: 28%