Entenda por que o Canal de Suez, bloqueado por navio, é tão importante para o mundo

Impacto pode gerar aumento da gasolina no Brasil

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  • Gabriel Moura

Publicado em 26 de março de 2021 às 12:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: AFP

Lembra quando na escola te ensinaram que o Brasil foi encontrado enquanto os portugueses tentavam contornar o Cabo da Boa Esperança e, finalmente, chegar às Índias? Se em 1500 uma rota marítima ligando Europa e Ásia já era vital, imagine 521 anos depois. Foi justamente este caminho que foi fechado após o navio Ever Given, com suas 220 mil toneladas, encalhar no Canal de Suez na última quarta-feira (24).

Para se ter ideia, 10% de todo o comércio marítmo do mundo passa por ali - em 2020, 19 mil embarcações cruzaram a passagem. A importância estratégica desta ligação é tanta que em apenas dois dias de bloqueio, o prejuízo estimado é de R$ 54 bilhões.

Já são centenas de cargueiros aguardando na fila, que pode levar dias e até semanas para andar. 16 navios carregados de gás natural liquefeito (GNL) cansaram de esperar e decidiram seguir o caminho mais longo, pela rota vencida por Vasco da Gama em 1497.

E ainda tem isso. Por conta da proximidade com o Golfo Pérsico, região onde boa parte do petróleo do mundo é extraído, o Canal de Suez recebe muitos navios carregados com o ouro negro. Com isso, o impacto econômico se torna global.

Às 8h20 de Brasília, o barril de petróleo WTI para maio subia 2,10% a US$ 59,79, enquanto o de Brent para junho avançava 1,97%, a US$ 63,02. Com a nova política da Petrobras de adotar no Brasil o preço internacional do óleo, isso pode significar uma gasolina ainda mais cara no país.

História Desde a antiguidade, quando reinava o faraó Sesóstris III, (1878 a.C. a 1840 a.C.), havia a ideia de ligar o Mediterrâneo com o Golfo de Suez. Durante séculos a engenharia não permitia tal façanha. Até que, em 17 de novembro de 1869, veio a inauguração.

Ele possui cerca de 195 km de extensão, 170 metros de largura e 20 metros de profundidade, tornando-o um dos canais mais longos do mundo. Ao norte fica o Port Said, e ao sul o Port Tawfik. Quatro lagos fazem parte de seu trajeto: Manzala, Timsah, Grande Bitter e Pequeno Bitter.

Para atravessar o canal, são necessárias 11 horas. Bem menos que os até 14 dias que dura o contorno do continente africano. Até por conta disso, vale mais a pena esperar o fim do bloqueio que se aventurar pelo Cabo da Boa Esperança.

Antes do Ever Giver, só a Guerra de Seis Dias - ocorrida entre 5 e 10 de junho de 1967, envolvendo Israel, Egito, Síria e Jordânia - havia bloqueado o canal. A reabertura para todas veio anos após o conflito, em 1975.

Este bloqueio foi muito críticado pela comunidade internacional à época, pois ele violou a "Convenção de Constantinopla", assinada por países europeus em 1888, proibindo o bloqueio do canal por qualquer país do mundo, seja em tempos de paz ou de guerra.

E quando acaba essa zorra? O navio segue encalhado na mesma posição, com rebocadores e dragas ainda trabalhando para tentar mover as 220 mil toneladas. A previsão é que o desencalhe ocorra até 31 de março, uma previsão maior que a inicial.

Segundo a autoridade do canal, será necessário remover entre 15 mil e 20 mil metros cúbicos de areia para atingir uma profundidade de 12 a 16 metros. Essa profundidade provavelmente permitirá que o navio flutue livremente novamente.