ENTREVISTA: “Camaçari usará de todas ferramentas disponíveis para incentivar retomada de crescimento”, diz Elinaldo

Prefeito de cidade industrial calcula perdas da ordem de R$ 200 milhões por conta do coronavírus

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Publicado em 23 de abril de 2020 às 04:46

- Atualizado há um ano

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Cidade mais populosa da Região Metropolitana de Salvador depois da capital, Camaçari tinha 24 casos de coronavírus confirmados até ontem. Para o prefeito Elinaldo Araújo (Democratas), a gestão municipal “conseguiu controlar o avanço da doença” com as medidas de isolamento social tomadas, mas ainda há um alerta em relação à manutenção das medidas, afim de evitar um novo crescimento no número de casos na cidade.

Nesta entrevista exclusiva ao Alô Alô Bahia e ao Jornal CORREIO, Elinaldo fala sobre as medidas, explica a projeção de prejuízo de R$ 220 milhões por conta da pandemia e anuncia que a gestão está elaborando planos para o pós-coronavírus. A ideia é atrair novos investimentos, dar apoio às empresas que enfrentam dificuldades agora, além de investir na promoção dos destinos turísticos do município.

A entrevista com Elinaldo é a segunda de uma série com os prefeitos das maiores cidades do interior. A primeira, divulgada na última semana, foi com Colbert Martins, prefeito de Feira de Santana. O objetivo é informar a sociedade baiana sobre as ações que estão sendo tomadas nos principais municípios do estado, que enfrenta o avanço da Covid-19.

O primeiro caso de coronavírus de Camaçari foi confirmado no dia 20 de março. Antes, contudo, a Bahia já havia registrados casos. Como a cidade se preparou para chegada do coronavírus?

Nós começamos a nos preparar muito antes do primeiro caso confirmado em Camaçari. Nossa estratégia foi baseada em montar todo um planejamento para evitar o contágio em massa e, assim, elaboramos um plano prevendo medidas de isolamento social e de apoio às pessoas, especialmente aquelas que mais precisam. Sabíamos que, pela proximidade com Salvador, cidade com maior número de casos, dificilmente deixaríamos de ter casos. Então, conseguimos implementar medidas que impediram o avanço descontrolado da doença na cidade.

Camaçari tem 24 casos confirmados da doença (até ontem). O senhor acredita que a Covid-19 está controlada no município? O senhor teme um colapso do sistema de saúde municipal?

Acredito que conseguimos controlar o avanço da doença em Camaçari, graças às medidas de isolamento social, com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das principais entidades da área da saúde. Óbvio que não podemos, ainda, relaxar as medidas uma vez que há um risco de contágio em massa, o que seria terrível. Contudo, não acredito que sofreremos um colapso no sistema de saúde se continuarmos seguindo as recomendações e cumprindo as medidas de isolamento social. Nós nos preparamos bastante. Temos equipes de saúde reforçadas em nossas unidades e estamos em fase final de implantação do Centro Intensivo de Combate ao Coronavírus (CICC), que funcionará na Avenida Deputado Luís Eduardo Magalhães, na antiga Clirca. Estamos investindo R$ 2,7 milhões no centro, que terá 21 leitos, sendo 10 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), seis de semi-intensiva e cinco de observação. Além disso, o local terá capacidade de expansão para 60 leitos. Então, posso dizer que estamos preparados para o pior, mas fazendo nossa parte para conter o avanço do contágio.

Quais foram as principais ações determinadas pela prefeitura para conter a propagação do coronavírus?

Acredito que todas as medidas que tomamos são importantes, mas destaco aqui algumas que foram cruciais para contermos o contágio em massa. Logo no início, decidimos fechar as escolas e, assim, evitamos as aglomerações, o que é considerado fundamental, pois as pesquisas apontam que a grande maioria das crianças é assintomática. Se tivéssemos um número grande de crianças infectadas, corríamos o risco de ter um contágio grande entre pessoas idosas e com doenças associadas, que são os públicos mais vulneráveis. Mas destaco também o fechamento do comércio, mantendo apenas as atividades essenciais, e a interdição de nossas praias, que são grandes pontos turísticos e atraem pessoas do Brasil todo. Não foram decisões fáceis, porque sabemos que haverá um impacto econômico grande, mas acreditamos que foram medidas necessárias. Foi graças a estas medidas que não tivemos um número elevado de casos da doença em Camaçari. Elas foram essenciais para preservar vidas. E tenho para mim que cada vida salva é uma vitória nesta guerra contra o coronavírus.

O senhor acredita que a proximidade com Salvador e a característica turística da cidade podem influenciar na propagação de casos?

Não apenas isso. Camaçari é uma cidade com intensa produção industrial, o que atrai pessoas de todo o país. Somado a isso, a proximidade com Salvador e nossas áreas turísticas nos deixam mais vulneráveis. Salvador tem o maior número de casos por ser uma metrópole e a maior cidade da Bahia. Agora, mesmo com estes fatores, acredito que as medidas que tomamos foram fundamentais para que conseguíssemos barrar o avanço da doença.

Como está a adesão ao isolamento social na cidade? É suficiente?

Em Camaçari, a maioria da população já entendeu que o isolamento social é uma medida importante para evitar o contágio. Agora, é claro que temos aqueles que insistem em descumprir a medida e, por vezes, acabam gerando aglomerações. Observamos maior fluxo de pessoas especialmente em agências bancárias, lotéricas e em algumas áreas públicas. Nossas equipes estão permanentemente nas ruas tentando ao máximo conscientizar as pessoas para que evitem o contato social, que respeitem as medidas restritivas. Estamos levando para a população a mensagem de que, quanto mais respeitarmos as medidas restritivas, mais rápido vamos sair desta crise. É para isso que estamos trabalhando.

A prefeitura anunciou que a pandemia pode gerar um prejuízo de R$ 220 milhões. Como sua gestão está se preparando para isso?

Nossa conta se baseia na projeção do governo do estado de queda de 40% na arrecadação do ICMS, o que poderia gerar um prejuízo de R$ 70 milhões a Camaçari. Lembrando que o governo repassa 25% do que arrecada com ICMS aos municípios. Se nossa receita própria (IPTU, ISS e taxas, cuja previsão este ano é de  R$ 390 milhões) também cair 40%, haverá uma redução de mais R$ 150 milhões. Ou seja, é um cenário complicado. Agora, estamos tomando todas as medidas possíveis para minimizar este prejuízo, como a renegociação de contratos e cortes de investimentos, para que possamos atravessar esse período sem deixar de prestar serviços essenciais à população. Outros cortes estão sendo avaliados e vamos seguir tomando as medidas necessárias.

Olhando para frente, como está o planejamento de atividades da prefeitura para o pós-coronavírus? Há, por exemplo, um plano para incentivar e até aumentar a produção industrial, que é um forte da cidade? Ou até mesmo um calendário de turismo e eventos?

Assim que a gente esteja em uma situação de normalidade, o município usará de todas as suas ferramentas disponíveis para incentivar a retomada do crescimento econômico, desde a redução de impostos até o parcelamento e refinanciamento de dívidas. Além disso, preparamos um plano de atração de investimentos através da cessão de áreas inutilizadas, como galpões que hoje estão parados. Buscaremos a parceria da iniciativa privada. Estamos preparando também um plano de promoção turística para Camaçari para este período pós-pandemia, com o objetivo de retomar com mais velocidade o fluxo de turistas em nossa cidade. É importante frisar que o município tem muita limitação no sentido de apoio tributário, mas fará todo o possível para dar apoio aos setores e retomar nossa economia, inclusive com maior oferta de empregos. Conto, inclusive, com o apoio da Câmara Municipal para dar contribuições e aprovar projetos que visem a atração de investimentos, indústrias, assim como para aprovar medidas mitigadoras para as empresas que hoje enfrentam dificuldades. Buscaremos a atração de novos investimentos e, ao mesmo tempo, daremos apoio às empresas que estão aqui e que enfrentam os efeitos desta pandemia.