Escola Makota Valdina é inaugurada no Engenho Velho da Federação

Unidade tem 1.6 mil metros quadrados, quadra poliesportiva e salas climatizadas

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 25 de novembro de 2020 às 11:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Gil Santos/CORREIO

Professora, líder comunitária, ambientalista, militante das causas negras, e religiosa. Valdina de Oliveira Pinto tinha muitos títulos e a partir desta quarta-feira (25) terá mais um, será nome de colégio. A Escola Municipal Makota Valdina foi entregue pela prefeitura, no Engenho Velho da Federação, bairro onde a educadora nasceu e viveu, e recebeu o nome da mestra como reconhecimento pelos trabalhos prestados. 

A unidade substitui a antiga Escola Municipal Engenho Velho da Federação, que foi demolida no dia 6 de dezembro de 2018, por apresentar problemas na estrutura de pré-moldado como insalubridade, fissuras nas paredes, além de Instalações elétricas e hidráulicas comprometidas.

Durante o período de reconstrução, a unidade escolar funcionou em um imóvel alugado, em Brotas. O prefeito ACM Neto fez a entrega oficial e disse que os novos modelos são mais modernos, seguros e confortáveis para estudantes, professores e funcionários. Ele lamentou o fato das aulas estarem suspensas, mas lembrou que isso é necessário nesse momento.

"Uma das decisões mais complexas que eu tive de tomar foi a de suspender as aulas em nossa cidade. Tem sido particularmente doído ter que manter todo esse período as aulas suspensas. Como temos que fazer a entrega dessas escolas, de hoje até dia 31 de dezembro vou entregar 10 escolas... Todas elas sendo entregues já com a perfeita adequação aos mais rigorosos protocolos sanitários. Todas absolutamente preparadas para receber as nossas crianças, professores, funcionários, tão logo seja possível pensar na retomada", disse, afirmando que isso ainda não é possível nesse momento.

A nova unidade de ensino tem 1.660,93 m² de área construída, com 12 salas de aula climatizadas, sendo quatro infantis e oito de ensino fundamental, com capacidade para acolher 760 alunos do grupo 3 ao 5 (creche e pré escola), além do Ensino Fundamental I e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ela fica na 1ª Travessa Neide. 

O secretário municipal de Educação, Bruno Barral, contou que a antiga unidade tinha capacidade para atende apenas 240 estudantes e garantiu que a nova estrutura não deixa nada a desejar na comparação  com escolas particulares. Ele com destacou a importância do nome.

“Batizar a escola com o nome de Makota Valdina foi um pedido da comunidade e da nossa comunidade escolar. Makota tem sua representação e sua militância como mulher negra e mulher representante da educação, tem todo o nosso respeito. Aqui fica essa justa homenagem póstuma a nossa grande colaboradora da educação em Salvador e no Brasil, Makota Valdina”, afirmou.

Para os moradores a decisão foi bem-vinda porque valoriza uma das figuras mais conhecidas do bairro. A nova estrutura tem quadra poliesportiva, acessibilidade com rampa, e estacionamento.  Há também salas de acolhimento, direção, secretaria, coordenação, depósitos de material didático, de material de limpeza e de merenda, sanitários feminino e masculino para os alunos, pessoas com deficiência (PCD), professores e funcionários. 

Existe também cozinha equipada, triagem, lavanderia, refeitório, parque infantil, biblioteca, sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), além de pátio coberto, sala multiuso, pátio externo, guarita com sanitário, subestação, casa de gás e de lixo. O valor total investido foi de cerca de R$5 milhões.

Educadora Makota Valdina (1943-2019) nasceu no bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, e se tornou professora pelo antigo Instituto Educacional Isaías Alves (IEIA), atual ICEIA, em 1962. Católica praticante, no início da década de 1970 ela abandonou o catolicismo e, em 1975, iniciou a vida no Candomblé, onde se tornou Makota, espécie de conselheira e assistente da mãe de santo. 

Ela foi professora na rede municipal de Salvador e fez parte do Conselho Estadual de Cultura da Bahia. Em entrevista para a Revista Palmares, em 2005, ela contou que o processo de alfabetização aconteceu com a ajuda de outros moradores da comunidade e lembrou que a primeira professora dela escrevia em uma pedra transformada em lousa. 

A trajetória de Valdina foi marcada pela luta contra o racismo e a intolerância religiosa, e em defesa das causas negras e da preservação das raízes africanas. A escritora ocupava o cargo religioso de Makota do Terreiro de Candomblé Angola Tanuri Junsara, no Engenho Velho da Federação, onde desenvolveu importantes ações educacionais.

A história dela foi contada no vídeo-documentário “Makota Valdina: Um jeito negro de ser e viver”, um dos vencedores do Primeiro Prêmio Palmares de Comunicação – Programas de Rádio e Vídeo, em 2005. Ela também contou parte dessa narrativa na autobiografia ‘Meu caminhar, meu viver’, lançada em 2013. 

Makota Valdina recebeu diversos prêmios na carreira como o Troféu Clementina de Jesus, da União de Negros Pela Igualdade (Unegro), Troféu Ujaama, do Grupo Cultural Olodum, Medalha Maria Quitéria, da Câmara Municipal de Salvador, e Mestra Popular do Saber, pela Fundação Gregório de Mattos. Ela morreu em março de 2019, aos 75 anos, vítima de uma parada cardio-respiratória.