Escritor cubano Leonardo Padura abre Fronteiras do Pensamento nesta terça (6), às 20h30

Evento ainda receberá nos próximos meses nomes como Pierre Lévy, Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz

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  • Roberto Midlej

Publicado em 5 de agosto de 2019 às 19:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Como boa parte dos estrangeiros, o escritor cubano Leonardo Padura, autor de livros como O Homem que Amava os Cachorros, foi apresentado à Bahia através dos livros de Jorge Amado. "Conheço Salvador pela literatura e pelo cinema, principalmente pela adaptação de Dona Flor e Seus Dois Maridos, que nos deu a possibilidade de ver nua uma das mulheres mais lindas do mundo, Sônia Braga", revela o romancista de 63 anos.

Padura está em Salvador para participar nesta terça-feira (6), às 20h30, no Teatro Castro Alves, do Fronteiras do Pensamento, evento que reúne uma série de conferencistas até outubro. Ingressos estão à venda no Ingresso Rápido. No dia 10 de setembro, quem se apresenta é o filófoso francês Pierre Lévy. As escritoras brasileiras Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz participam no dia 1º de outubro.

Neste ano, o tema do Fronteiras do Pensamento é Sentidos da Vida. Em entrevista coletiva nesta segunda (5), Padura foi questionada sobre qual é o sentido da vida: "É uma pergunta muito complicada porque é filosófica, mas vou responder em termos práticos: primeiro, é tentar ser uma boa pessoa, não fazer algo que prejudique o outro. No sentido civil, é ser um bom cidadão: pagar seus impostos e cumprir a lei. No sentido artítstico, é ser uma pessoa inconformada. Se tenho possibilidade de usar a palavra, seria um crime não usá-la no sentido de ajudar as outras pessoas e ajudar a sociedade a entender a si mesma".

Padura antecipou à imprensa parte do que vai falar na conferência: "Mas não vou entrar em detalhes, porque assim perde o mistério da apresentação", brincou. "Na apresentação, vou ler um texto sobre a relação que o escritor tem com a cidade a que ele pertence. Falo principalmente sobre o escritor de romances, que pertence à cidade. Jorge Amado pertencia a Salvador; Rubem Fonseca, ao Rio; Jorge Luis Borges, a Buenos Aires".

O escritor comentou também sobre as semelhanças que vê entre a Bahia e Cuba. Disse que, logo após desembarcar do avião, viu dois homens de bermuda e chinelo, com um jeito de se vestir que lembrava muito os cubanos: "Vi aqueles homens e pensei: acho que errei de país. Acho que voltei para Cuba", falou, bem humorado. Aos 63 anos, Padura é escritor e roteirista (Foto: Marina Silva/CORREIO) Padura acha que Bahia e Cuba também se aproximam por suas raízes negras e pelo candomblé, que, segundo ele, seria correspondente à santeria, religião popular em Cuba. "Há uma conexão cultural entre Cuba e Salvador, por um caminho doloroso, que é a escravidão. O candomblé, na Bahia, é mais que uma religião, é uma filosofia, assim como em Cuba".

O cubano ressaltou, no entanto, que tanto em Cuba como no Brasil, as religiões de matriz africana foram muito influenciadas pelo catolicismo. "Além disso, na Bahia, como em Cuba, o candomblé não é uma religião só dos negros, mas de todos. Somos sociedades mestiças", afirmou.

Segundo Padura, a proximidade com o mar também deixa Havana e Salvador bem parecidas uma com a outra. "O paulista, por exemplo, é diferente do carioca ou do baiano porque essa relação com o mar é importante na forma de viver e de entender a vida. A Bahia é como uma cidade do Caribe, mas com a cultura do Caribe. Parece Cuba, República Dominicana, Porto Rico... Acho o baiano mais parecido com um caribenho que com um brasileiro do Sul do país".

Padura falou também sobre como é produzir arte num país que vive sob um governo autoritário, como Cuba. "Hoje, há mais liberdade que há 30 ou 40 anos. Mas uma coisa é produzir arte em Cuba; outra coisa é distribuir um produto artístico lá. Exceto em casos muito específicos, os criadores podiam criar o que quisessem, sobretudo em linguagens artísticas que não exigiam o investimento de uma indústria, como é o caso do cinema. O pintor, o escritor, o músico podem criar livremente. Mas, na hora de distribuir, podia haver censura".

Padura, que também é roteirista, disse que recentemente um filme com roteiro escrito por ele teve a exibição suspensa em Cuba. "Só foi exibido depois de um tempo, num cinema grande, depois de um confronto entre artistas e o governo cubano. O problema é que muitos espaços, como galerias e cinemas, ainda pertencem ao Estado, então o Estado que determina o que entrará em circuito", disse Padura.

O Fronteiras do Pensamento é patrocinado pela Braskem e pelo Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura, com apoio do Clube Correio e da Rede Bahia.

FRONTEIRAS DO PENSAMENTO EM SALVADORQuando: 6 de agosto (Leonardo Padura), às 20h30 | 10 de setembro (Pierre Lévy) | 1º de outubro (Djamila Ribeiro e Lilia Schwarcz)Onde: Teatro Castro AlvesIngressos: Três conferências – R$ 120 (inteira) e R$ 60 (meia) | Cada conferência – R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)Vendas: No site Ingresso Rápido