Esse país que nos mata física, emocional, espiritual e simbolicamente

Senta que lá vem...

  • D
  • Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 08:49

- Atualizado há um ano

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não pode: vibrador, diu, pílula do dia seguinte, pílula de todos os dias, roupa decotada em ambiente parlamentar, roupa azul em qualquer ambiente, ganhar o mesmo salário, abortar, ainda que seja um estupro. amar outra mulher. não querer ter filhos. ou não se anular ao desejar (muito!) tê-los. ser presidenta.

pode: ser bela, recatada, do lar, ficar de boca calada, ser esposa ou apenas uma mulher sentada no colo de algum caubói no mesmo congresso nacional.

mas o q importa: seguem nos matando. quase um ano da morte de mariele e nada. em vez disso, o suicídio de sabrina. todo esse pudor, esse puritanismo de araque, esse medo de pênis, esse horror à vagina, ao ânus, ao peito (até aquele que amamenta!), ao sêmen, ao prazer, ao gozo e à liberdade. a mim, tudo isso é só disfarce pra gente não ver a brutalidade que nos mata. esse país que nos mata física, emocional, espiritual e simbolicamente. todos os dias.

o que é um pinto de borracha diante da cabeça estilhaçada de mariele franco? que saúde terá uma mulher que não puder sequer pensar em planejamento familiar, obrigada a parir como bicho, a viver como bicho e a morrer sem escolha?

você, que votou nesse homem que leva uma eternidade para se desfazer da própria merda, você pode me dizer o que sente diante disso? já sei, você está muito ocupadx nesse momento, comemorando o julgamento de atibaia, não é mesmo? enquanto seu juiz paladino do próprio umbigo anuncia que a polícia pode matar a vontade os jovens negros que você despreza ou dos quais você tem medo. e por que será que tem?

Carla Pinto Bitterncourt é jornalista e mãe de Joaquim

Texto originalmente publicado no Facebook e replicado com autorização da autora