'Estavam planejando matar um rival e utilizaram meu carro', conta taxista

Depois de ter que dirigir com arma na cabeça, ele diz que ficou traumatizado

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  • Nilson Marinho

Publicado em 24 de abril de 2018 às 15:05

- Atualizado há um ano

Um passageiro acena e é preciso atendê-lo. É o trabalho de todo taxista: levar, diariamente, pessoas desconhecidas no banco de carona. Os motoristas podem até saber o destino final de cada passageiro - é o procedimento inicial antes de ligar o taxímetro -, mas não conhecem a intenção e a índole dos seus clientes. Impossível saber, inclusive, se estará vivo até o final da corrida. Nos últimos cinco dias, nove taxistas foram assaltados em Salvador.

Há cerca de quatro meses, o taxista Bruno Araújo, 36 anos, experimentou caminhar, ou melhor, dirigir na linha tênue entre a vida e a morte. Por horas, esteve com uma arma apontada para a cabeça e foi obrigado a circular por uma área desconhecida, enquanto seus 'passageiros' planejavam matar um rival. Ele saiu ileso, mas as lembranças daquela corrida com destino incerto rondam sua cabeça até hoje. Difícil voltar a acreditar que os passageiros não vão lhe fazer mal. 

Confira o relato:

É assustador. A gente vai fazer a corrida e não sabe a pessoa que está levando. Já passei por uma, duas, três situações de assalto e é 'punk'. Próximo do local onde eles solicitaram a corrida foi anunciado o assalto. Um estava na frente e o outro atrás. Quando olhei, tinha uma arma apontada para a minha cabeça.Já no Alto do Cabrito, eles levaram todos os meus pertences, mas continuaram no táxi, pedindo para que eu entrasse em várias ruas. Eles eram moradores de lá e estavam voltando, depois de deixarem a comunidade 'corridos'.

Aparentemente, estavam planejando matar um rival e utilizaram meu carro para isso. Eles pediram para que eu parasse em frente a um bar e desligasse o carro, puxando a chave do meu veículo e levando. Os bandidos saíram e entraram em um beco. Foi nesse momento que eu sai do carro e consegui me esconder no bar. A polícia conseguiu pegá-los, mas fui roubado de novo. Acho melhor parar meu relato por aqui. 

Depois disso, qualquer passageiro que entrasse no meu carro era suspeito. Fiquei traumatizado. Se tinha um passageiro no fundo, eu, às vezes, ficava olhando para trás, desconfiado. Mesmo sem ter ninguém no veículo passei a olhar com frequência. Na maioria das vezes nós, taxistas, até evitamos levar casais, podem até ser pessoas que estão querendo chegar aos seus destinos, mas, na dúvida, é melhor não aceitar a corrida. Casal eu não aceito mais, só se for pessoas que morem em meu bairro, no Nordeste de Amaralina. Fora isso, prefiro perder a solicitação.