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'Estávamos sendo ameaçados há dias', diz mãe de taxista morto no Campo Grande


 

Alexandro foi atingido por quatro tiros por permissionário que cobrava dívida

  • Eduardo Dias

Publicado em 22/08/2019 às 17:02:00
Atualizado em 20/04/2023 às 04:29:05
. Crédito: Eduardo Dias/CORREIO

As ameaças começaram a fazer parte da rotina do taxista Alexandro Rocha Souza, 40 anos, poucos dias antes do seu assassinato, na última terça-feira (20), no Campo Grande. Ele levou quatro tiros e o principal suspeito é o permissionário de um veículo que dirigiu por três meses, por uma suposta dívida, que a família nega. 

O corpo de Alexandro foi velado e enterrado na manhã desta quarta-feira (12), no Cemitério Campo Santo, no bairro da Federação, em Salvador. Uma carreata com cerca de 50 veículos protestou e homenageou a vítima em seguida. 

A mãe do taxista, a aposentada Maria Anaíde Rocha, 72, revelou que o filho estava sofrendo frequentes ameaças por telefone.“Estávamos sendo ameaçados por telefone há dias. Ele (suspeito) estava cobrando o valor pelos dias que o carro ficou no pátio apreendido, e que foi culpa dele, não do meu filho. Ele queria que meu menino pagasse por isso e aí fez isso com meu filho. Eu não conhecia esse homem, o vi apenas uma vez só”, desabafou. Muito abalada e vestindo preto em luto pelo filho, Maria Anaíde contou que o filho passava por dificuldades financeiras, mas não deixava de honrar seus compromissos financeiros. "Meu filho estava com dificuldades financeiras, mas trabalhava para pagar suas dívidas, ele lutava e pagava. Esse homem que matou ele tem que ser punido, quero a prisão dele ainda hoje”, bradou.

Na noite da última terça, Alexandro foi à Praça do Campo Grande para encontrar o permissionário que lhe cobrava dívidas, identificado apenas como Washington. Depois de uma longa conversa, os dois tiveram uma briga, o homem sacou uma arma, matou Alexandro e fugiu do local.  (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) Homenagem Irmão da vítima, o também taxista Alan Carlos Rocha, participou do buzinaço em homenagem a Alexandro em frente ao Cemitério do Campo Santo, antes do sepultamento. Em seguida, ele e outros 50 taxistas partiram rumo ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, para pedir agilidade na prisão do autor do crime.“Espero que ele seja preso logo. Meu irmão se negou a pagar o que ele estava cobrando porque a dívida não pertencia a ele. Ele nunca quis cadastrar Alexandre como auxiliar na associação. Portanto, a dívida de quando o carro foi apreendido pertence a ele, que é o dono do veículo. Ele que é o responsável pelo carro”, explicou o irmão.Washington cobrava um valor referente à apreensão do veículo, modelo Voyage, quando estava alugado para Alexandro. O taxista, por sua vez, se recusava a pagar por alegar que a dívida em questão não pertencia a ele.

Segundo a família da vítima, Alexandro inclusive chegou a assinar um documento de quitação total dos aluguéis e encerrou seu negócio com Washington depois que o carro foi apreendido, há cerca de um mês, durante vistoria anual da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob). 

Sem os documentos necessários atualizados, como o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), o automóvel ficou inapto a rodar e foi levado para o pátio do Departamento de Trânsito (Detran), onde há diárias estabelecidas que variam de acordo com o veículo, pelo tempo que dure a apreensão.  

Agora, Alan afirma que, como o suspeito está foragido, ele e alguns colegas estão com medo. “Assim como ele fez isso com meu irmão, ele pode fazer com qualquer outro colega ou cidadão de bem também. Ele precisa ser preso logo. Ele foi muito caro de pau, fez tudo isso bem perto do módulo policial, nem a polícia ele respeitou”, lamentou o irmão da vítima.

Ao CORREIO, alguns colegas do taxista disseram que Washington fugiu do local do crime no mesmo carro que Alexandro dirigia quando trabalhava para ele, um modelo Volkswagen Voyage.

Dívida O CORREIO conversou com o presidente da Associação Geral dos Taxistas (Agetaxi), Denis Paim, que explicou como funciona a situação de responsabilidade pelas dívidas geradas nos táxis alugados.

Segundo ele, quando uma dívida é gerada no alvará cujo veículo está alugado, a responsabilidade de quitação é do proprietário do carro. Já as dívidas por infrações de trânsito são direcionadas ao motorista que alugou o veículo.

“São dois tipos de auxiliares, o que tem o alvará alugado, que o carro é dele, e o auxiliar que não tem o alvará e que o carro não é dele, como é o caso do Alexandro. Neste caso, ele era responsável apenas pelas multas de trânsito recebidas enquanto estava dirigindo", explicou.

"Mas, o que o Washington estava cobrando, era o contrário disso. Ou seja, era referente ao período de dias em que o veículo ficou no pátio da Transalvador quando foi preso por estar com o documento atrasado há dois anos e com o crachá em atraso também”, completou Denis, que afirmou ainda que a briga entre os colegas não justificava o que Washington fez.

“Nada disso justifica essa o que ele fez, isso não paga a vida de nenhum ser humano”, completou.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso está sendo investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios (Baía de Todos os Santos), que está ouvindo testemunhas, familiares e avaliando outras provas para prosseguir com a apuração. 

Alexandro deixa uma filha de 23 anos e namorada.

* Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro