Estudo afirma que proteínas do coronavírus estão constantemente ‘dançando’; vídeo

Pesquisa divulgada na revista Science alega que as proteínas que circundam o vírus fazem o movimento para atracar mais receptores. Característica é rara

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  • Da Redação

Publicado em 22 de agosto de 2020 às 23:07

- Atualizado há um ano

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O médico epidemiologista Otavio Ranzani divulgou, em sua conta no Twitter, um estudo publicado na revista Science no dia 18 deste mês. A pesquisa revela que as proteínas do Sars-Cov-2, vírus causador da COVID-19, estão constantemente dançando. Esta característica é rara, mesmo em vírus da família Coronaviridae, e ajuda em sua capacidade de se acoplar a mais receptores.

Vírus possuem um invólucro externo composto por glicoproteínas. A chamada proteína S permite que o vírus se funda à membrana das células humanas e as invada.

O estudo foi feito utilizando a Crio-microscopia eletrônica (Cryo-EM), um método de observação microscópica da qual a amostra biológica é estudada a temperaturas criogênicas. Depois, o movimento é reconstruído tridimensionalmente a partir das fotos. Os cientistas perceberam alterações de movimentação na proteína S, que passou a ser classificada em três subdivisões de articulações inferiores: quadril (hip), joelho (knee) e tornozelo (ankle).

Com a reconstrução por vídeo, as articulações parecem estar “sambando”. Essa flexibilidade pode estar associada a uma busca ativa da proteína S por receptores. Os cílios do epitélio respiratório, que vão do nariz aos brônquios, são locais que facilitariam a captação dos receptores devido à constante movimentação interna. Os pesquisadores dizem no artigo que essa capacidade é quase inédita na maioria dos vírus.

O epidemiologista destaca que provar a movimentação é difícil. “Existem múltiplos parâmetros, inclusive modelar e ver se bate com a realidade. Também se coleta dados, tira uma porcentagem, cria a estrutura e volta para ver se confere com a realidade”, explica.

Conhecer a movimentação do vírus ajuda a entender a flexibilidade e a posição ativa da proteína na infecção das células, segundo Ranzani. Isso porque a abundância de açúcares na proteína S poderia proteger o vírus de anticorpos neutralizantes, em certas posições.