'Eu não a conhecia antes do milagre', diz mulher salva por Irmã Dulce

Ela foi o primeiro milagre de Dulce reconhecido pelo Vaticano

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  • Thais Borges

Publicado em 19 de maio de 2019 às 06:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

A técnica administrativa Cláudia Cristina dos Santos, 51 anos, moradora de Malhador (SE), não teve problemas em sua segunda gravidez. Chegou à Maternidade São José, em Itaibana (SE), apenas com contrações. Era 11 de janeiro de 2001. 

Ela deu à luz a Gabriel Vinícius dos Santos Araújo, hoje com 18 anos. Mas, após ter o bebê, sofreu uma forte hemorragia. Teve que ser operada três vezes e sangrou por 18 horas. Pela gravidade do caso, o obstetra Antônio Cardoso já tinha dito à família: apenas “uma ajuda divina” poderia salvar a vida de Cláudia

Quando foi transferida para a Maternidade Renascença, em Aracaju (SE), a família chamou o padre José Almí para ministrar a unção dos enfermos. Ao chegar lá, o padre decidiu fazer uma corrente de oração pedindo a intercessão de Irmã Dulce e deu a Cláudia uma pequena relíquia da religiosa. A hemorragia cessou subitamente.

Depois de ser investigado por anos, o caso de Cláudia foi considerado milagre pelo Vaticano em 2010 - e foi determinante para a beatificação de Irmã Dulce, em 2011. Agora, após a notícia de que Irmã Dulce será proclamada santa, Cláudia conversou com o CORREIO. 

Leia o relato dela na íntegra

***

"Irmã Dulce foi uma pessoa muito dedicada aos pobres, aos humildes, às pessoas rejeitadas. Ela acolhia e fazia o melhor, enquanto hoje não é assim. As pessoas não olham para o seu próximo. Acham que, porque têm uma situação financeira boa, não vão precisar (de ajuda), não vão passar dificuldade. 

Eu conheci a história dela depois (de 2001). Eu não a conhecia antes do milagre, não conhecia ela, nem a história dela. Quem conhecia era o padre (José) Almí. Foi ele que pediu o milagre para mim. Eu estava em estado de coma. Os médicos não davam nem mais expectativa de vida para mim e ele pediu a intercessão dela. O que eu lembro é que eu não acordava. O médico me deu assistência até a última hora. Ele não saía nem para tomar café, nem fazer um lanche. Nisso, uma hora ele disse que ia descansar. Eu estava naquela cama e, muito distante, vi uma pessoa de branco, que abriu a porta. Quando ela se aproximou de mim, eu perguntei: ‘eu já ganhei neném?’. Ela falou ‘você já ganhou, seu filho é lindo’. 

Mas pouco depois, o médico achou que eu estava em óbito. 

Eu cheguei bem ao hospital, só tendo a contração. Chegando na maternidade, me colocaram numa maca e já tinha uma pessoa lá que não sei se era médico ou anestesista. Doutor (Antônio) Cardoso chegou e sei que a televisão estava ligada no jogo. Depois, eu não sei contar mais.  Cláudia e os dois filhos; ela foi alvo de um milagre após a gestação de Gabriel (à esquerda) (Foto: Acervo pessoal) Clique aqui e confira o especial Santa Dulce sobre a vida da freira baiana

Sei que ocorreu a hemorragia que não cessava. Ele tirou a criança e a hemorragia não cessava. 

*** Com meu primeiro filho, eu tive hemorragia, tive que usar compressas de gelo, injeção. Mas não foi igual a essa. Naquela época, eu não sabia que, se eu fosse engravidar, tinha que ter acompanhamento com hematologista. Fui procurar um médico hematologista que me acompanhou em Aracaju e vi que tenho um problema de coagulação. 

Depois, fiz exames no Rio de Janeiro, mais ou menos um ano depois de ter Gabriel. Se eu soubesse antes, se o médico tivesse me orientado, eu teria feito os exames, porque não é doença nenhuma. Foram 18 horas sangrando. Eu tive o parto normal e ele teve que fazer a cirurgia para tirar o útero. Ele só me transferiu quando viu que eu tinha condição de chegar a Aracaju. Fui com a barriga aberta, cheia de gaze, compressa e esparadrapo. Não sei quantas horas fiquei até ser transferida da Maternidade São José para Aracaju. 

O padre (José) Almí esteve na Renascença. Ele era muito amigo da família, por isso, a irmã dele ligou para e disse como eu estava. Ele não me disse porque decidiu pedir a Irmã Dulce. Ele foi até onde eu estava e me deu uma santinha de Irmã Dulce. A santinha ficou do lado do aparelho que eu estava, porque eu estava entubada. 

Naquele momento, eu não sabia que era um milagre. Eu não sabia o que estava acontecendo. Eu só via a janelinha, via que era escuro e que era claro. Era noite e era o dia. Tinha momento que as enfermeiras chegavam ao meu redor para colher o sangue e não conseguiam porque era muito sofrido. Teve um momento que eu tinha defecado. Estava de fralda e chamei a enfermeira. Quando ela veio e veio tirar a fralda de mim, eu percebi quando elas se olharam. 

Ali, vi que as coisas não estavam bem. Ela disse que estava, mas eu sentia que não era isso. 

Depois (da oração), eu fiquei bem. Com os passar dos dias, as coisas foram melhorando. 

*** Eu sabia que vinha um pessoal de Roma na minha casa e fizeram questionamentos comigo. Eu  sabia que esse caso estava em Roma e, depois de muitos anos, fiquei surpresa. Chegou a notícia de que Irmã Dulce ia ser beatificada. Foi quando me falaram o dia da beatificação, que seria em Salvador. 

Depois, visitei (Salvador), fui para a beatificação. Foi quando eu vi que realmente ela é uma pessoa merecedora, uma pessoa humilde, q gostava de ajudar aquelas pessoas que não tinham condição. Aquele sofrimento dela, quando ela que não tinha onde colocar aquelas pessoas e ela colocou aqueles doentes num galinheiro...  Eu fiquei ‘meu Deus do céu, como que pode a pessoa querer fazer algo por um ser humano e não ter condição?’. E a condição dela chegou ao ponto de colocar num galinheiro e cuidar daqueles pobres. Ela pegava a kombi e ia buscar aquele pessoal de rua. A vida dela realmente foi realmente muito bonita. Eu sou uma pessoa humilde, gosto de ajudar, gosto de fazer o melhor nas minhas condições. Por isso, me vejo muito na condição dela. 

Eu me emocionei que soube da canonização, né? Pelo fato de que o eu passei não foi fácil. Eu fiquei irreconhecível. 

Hoje, está todo mundo bem. Graças a Deus, tudo aquilo já passou e pensar em daqui para frente pensar no positivo, pensar no melhor. Tenho que crer que Deus pode tudo e que houve a intercessão de Irmã Dulce em minha vida. 

Meu filho não comenta nada sobre, porque eu fico com medo de ele ficar constrangido por ter sido na gravidez dele. Por isso, não toco no assunto. Mas ele está bem, está com 18 anos. 

Mas, com fé em Deus, vamos para o Vaticano, na canonização. É histórico, só Jesus, né? Vai ser muito bonito. Vai servir para ver como é bom a gente fazer o bem, porque aqui, dessa terra, a gente não leva nada. Esse é só um dos ensinamentos dela.