Eunápolis: Terreiro de candomblé é alvo de intolerância religiosa

Evangélicos fizeram pregações com carro de som em frente ao centro religioso no bairro Juca Rosa

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  • Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às 19:16

- Atualizado há um ano

. Crédito: acervo pessoal

O terreiro de candomblé Logun Edé, localizado no bairro Juca Rosa, na zona Norte de Eunápolis, foi alvo de intolerância religiosa. Na tarde de domingo (13), um grupo de evangélicos de uma igreja da Assembléia de Deus, parou em frente ao centro religioso e iniciou uma pregação com apoio de um carro de som. 

No momento em que os atos de intolerância começaram, a mãe de santo, responsável pelo terreiro, Luziene Almeida Silva, recebia alguns filhos de santo e convidados no terreiro. Por volta das 15h, um grupo de aproximadamente 30 fiéis da Igreja, localizada no mesmo bairro, parou na esquina e começou a pregar com o carro de som. 

O centro funciona no mesmo bairro há 43 anos. De acordo com Luzanira Silva Santana, filha de Luziene, as pregações são corriqueiras. Uma vez por mês os fiéis saem pelas ruas do bairro pregando o evangelho. No entanto, segundo ela, desta vez a intolerância religiosa foi evidente, pois um grupo ficou na esquina e outro foi para a porta do terreiro, direcionando as orações para o local.

Em frente a propriedade há um assentamento, área de culto ao orixá, que dois fiéis da igreja tentavam pisar. A confusão se agravou depois que, para impedir que o espaço sagrado fosse violado, a mãe de santo tentou afastar os agressores. 

Luzanira conta que, em seguida, sua sobrinha foi agredida ao pedir para que os dois fiéis saíssem do assentamento. A jovem foi agarrada pelos cabelos e recebeu um golpe de “mata-leão”. "Aí a gente não aguentou. Eu estava filmando e tive que parar a filmagem para acudir minha sobrinha. Foi quando vários homens se juntaram ao nosso redor”, conta a filha da mãe de santo, em revolta.

Além da sobrinha, sua mãe, Luziene, uma senhora de 68 anos, teve o braço machucado e o seu marido, apresenta um arranhão em toda extensão do peito. Os membros da igreja também tentaram filmar, mas apenas no momento em que a família se defendia, de acordo com Luzanira, na tentativa de distorcer a história.

A Polícia Militar foi acionada, mas não enviou viatura para o local. “Nós ligamos e deixamos o telefone mostrando a confusão e o som alto, toda a gritaria que eles estavam fazendo aqui, até nos repreendendo, mas nenhum policial veio”, lamenta Luzanira.   Os membros da igreja só deixaram a frente do terreiro quando perceberam que a PM havia sido informada. Depois que os fiéis se dispersaram, a mãe de santo foi até a delegacia e registrou boletim de ocorrência. A família foi instruída a retornar no dia seguinte com a defesa.

Medidas legais

Na tarde de ontem (14), Luziene retornou à delegacia acompanhada da sua advogada, para dar prosseguimento à denúncia de intolerância religiosa. Na unidade, a Ialorixá e o marido de sua filha, realizaram o exame de corpo de delito. A família agora aguarda a apuração do caso, para identificar os responsáveis pelo ataque ao terreiro. 

*Com orientação da subeditora de reportagem Fernanda Varela