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Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2019 às 19:57
- Atualizado há 2 anos
A vendedora Erika Kuasne, 36 anos, diz que o ex-marido, Marco Antonio Alves, 45, sempre foi violento na relação com ela. No último dia 13, ele pegou o filho dos dois, Matheus, 9 anos, e jogou o carro que dirigia com o garoto contra uma carreta. Os dois morreram.>
Erika disse que recebeu várias mensagens de Marco Antonio naquele dia, muitas agressivas e com xingamentos, mas que isso era comum desde que os dois se separaram, há três anos, após um casamento de 12. "Ele sempre foi violento, possessivo. Estava acostumada a viver no inferno", contou para o Uol.>
Apesar disso, e das várias ameaças ao longo dos anos, ela nunca acreditou que Marco teria coragem de machucar o filho. "Ele disse que faria com o meu filho o que não tinha conseguido fazer comigo, mas achei que era blefe. Nunca pensei que ele seria tão cruel".>
Naquele dia, Marco Antonio foi até a casa de Erika e levou o filho. "os vizinhos me contaram que ele foi com o pai obrigado", diz a mãe. Ele dirigiu a esmo até ir para a rodovia PR-445. Com o filho no carro, ele passou a mandar mensagens para Erika.>
Antes de jogar o carro na contramão, Marco gravou um vídeo do filho se despedindo da mãe. Com lágrimas nos olhos, ele diz: "Adeus, mamãe". Erika contou que quando recebeu o vídeo percebeu que se tratava de uma ameaça séria dessa vez. "Até então, não imaginava que ele pudesse fazer algo com o próprio filho".>
Desesperada, ela procurou uma delegacia para pedir ajuda. Uma operação foi montada com ajuda da Polícia Militar para tentar interceptar Marco Antônio, mas de repente chegou a notícia de um acidente envolvendo um homem e uma criança. Depois de confirmado que eram realmente o ex e o filho de Erika, ela foi informada.>
"Confesso que gritei", relembra. Para ela, uma discussão dois dias antes foi o que contribuiu para que o ex-marido fizesse o que fez. "Falei que aquela seria nossa última conversa. Naquele dia, ele me agrediu".>
Ela diz que pai e filho conviviam, mesmo com as agressões permeando as relações familiares. Matheus gostava do pai. "Por isso não conseguia se afastar. Se meu filho não visse o pai, ficava doente, e o Marco Antonio usava isso para me atacar", diz. O garoto percebia as brigas. Quando ele tinha apenas 2 anos, já tinha sido ameaçado pelo pai. "Ele me agrediu e estava me asfixiando no sofá de casa quando os vizinhos conseguiram tirá-lo de cima de mim. Na época, ele disse que, como não podia fazer nada comigo, ia fazer com o filho".>
Erika lembra de um dia em que o filho contou que sentia medo do pai. "Um dia ele me abraçou e disse que estava com medo do pai pelo modo com que ele falava comigo. Ele pediu que eu cuidasse dele e que ele também cuidaria de mim", conta.>
Sofrimento Desde que o filho morreu, Erika tem dificuldade para ficar na casa em que vivia com ele e outros dois filhos, de 14 e 18 anos. Ela diz que tudo lembra Matheus. Mesmo assim, afirma que vai se reerguer com a força dos filhos.>
"Mateus era um anjo desde que nasceu. Ele era o amigão de todo mundo da classe, tinha uma namoradinha. A escola fez até um homenagem para ele", conta.>
Ela faz um alerta para quem vive em relações violentas para que denuncie. "A gente nunca conhece 100% uma pessoa, não sabe até onde vai a crueldade do ser humano. Fico me perguntando: e se eu tivesse escutado meu filho?".>
Crime De acordo com a polícia, Marco não aceitava o fim do relacionamento, que já tinha três anos. Ele pegou o filho do casal e passou horas mandando mensagens ameaçadoras para Erika.>
O motorista da carreta contou que o Chevrolet Corsa Classic invadiu a contramão e bateu de frente contra seu veículo. O socorro foi chamado, mas já encontrou pai e filho sem vida.>
“Minha decisão foi tomada, não volto atrás. Ia ser você, mas aqui vai doer mais para ti”, diz uma das mensagens que Marco mandou para a ex-mulher. "Vai ser feito para você aprender", diz, elencando em seguida xingamentos contra Erika. "Você não merece nada". Depois, ele pergunta se ela quer ouvir pela última vez a voz do filho. "Adeus, mãe", diz o menino. >
Escute trechos dos áudios:>
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O corpo do garoto foi sepultado na tarde do domingo. Erika usou as redes sociais para pedir orações. "Hoje o dia escureceu pra mim. Perdi meu bebê. Mas Deus sabe todas as coisas. Amigos, venho comunicar o falecimento do meu filho. Guardem o melhor dele", postou primeiro. Um dia depois voltou. "Venho agradecer a todos que no momento mais difícil estiveram do meu lado e da minha família. Obrigada ao mundo pelas mensagens, pois recebi força de pessoas que nem sequer me conhecem. Eu louvo a Deus por isso, pois eu sei que daqui pra frente tudo se fará novo".>
Erika disse à imprensa local que o ex era muito agressivo. "Estou cheia de hematomas pelo corpo, ele gritou, disse que iria me matar, mas infelizmente ele fez com o meu filho, o Matheus foi assassinado”, afirmou. >
O garoto tinha voltado da escola na sexta, almoçou em casa e saiu para brincar, quando acabou sendo levado pelo pai. “Perguntei para minha outra filha se o Matheus estava em casa e ela me disse que ele tinha ido lá fora brincar. Marco Antônio não aceitava ver que eu estava vivendo novamente sem ele”, diz Erika.>
"Ele me mandou mensagens, vídeos me xingando, mostrando que estava com meu filho e dizendo que iria acabar com a vida dele", contou ela à Folha de Londrinha. >
A mãe foi para a delegacia no início da tarde. Ela chegou a marcar um encontro com o ex-marido para tentar resolver o caso. "Meu último contato com ele foi às 15h17. A gente foi para o ponto de encontro, conforme o combinado, mas ele não apareceu", afirmou. Horas depois, ela soube do acidente. >
O major Nelson Villa Junior, do 5º Batalhão de Polícia Militar, a mulher procurou a PM, que montou um esquema para tentar interceptar pai e filho. "No entanto, em seguida, chegou a notícia de que ocorreu um acidente na 445, lugar absolutamente diverso daquele que ele disse que iria. E as características do veículo eram as mesmas. Equipes foram fazer a verificação e constataram que era o menino e o homem que já vinha mandando áudios ameaçando a mulher e o menino", conta. >
Agressividade Erika contou que sofreu agressões nas mãos do ex por nove anos. Mesmo com o relacionamento terminado há 3, eles não aceitava. Nesse período, ela contou que o denunciopu várias vezes à polícia e que ele chegou a ficar preso pela Lei Maria da Penha. Contou ainda que tinha medida protetiva para que ele não se aproximasse dela.>
Na quarta, dois dias antes da batida fatal, ela contou que o ex a obrigou a entrar em um carro com ela, quando fez o mesmo trajeto que repetiria com o filho. O ex-marido acabou desistindo de fazer algo e voltou para casa para deixá-la. Depois desse dia, Erika conta que se mudou para casa de parentes.>
O caso será investigado pela Polícia Civil de Londrina.>