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Mario Bitencourt
Publicado em 31 de maio de 2019 às 12:14
- Atualizado há 2 anos
O ex-prefeito de Itambé, no Sudoeste da Bahia, Ivan Fernandes Couto Moreira, alvo na última quinta-feira (30) de uma operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU) de combate a desvio de verba do extinto Ministério da Integração Nacional, negou nesta sexta ter cometido irregularidades na sua gestão (2013 a 2016).>
Um comunicado da Polícia Federal aponta que, entre 2014 e 2015, agentes públicos, incluindo o ex-gestor, e a empresa JE Construções, sediada em Itambé, criaram uma suposta organização criminosa para realização de contratos públicos, “dos quais R$1.270.411,42 teriam sido desviados ou utilizados de forma indevida”.>
As verbas foram repassadas por meio do Convênio nº 723066/2009, firmado pela prefeitura com o Ministério, no valor de R$ 306 mil, para obras de calçamento.>
A PF diz que o suposto desvio ocorreu por meio de superfaturamento de notas fiscais, mas não informou se houve liberação a mais de recursos para se chegar ao montante desviado. Afirma ainda que houve direcionamento na licitação.>
No Portal da Transparência do Governo Federal não constam mais liberações de verba que o previsto, relativas convênio citado. Procurada pelo CORREIO, a PF informou que não iria dar entrevistas sobre o assunto.>
“A PF insinua que estamos cometendo irregularidades, as perguntas ontem no meu depoimento foram todas para me incriminar, mas a verdade é que não houve desvio algum, nunca direcionei licitação pra empresa alguma”, afirmou Ivan Moreira.>
Verba em caixa Segundo o ex-gestor, quando ele assumiu a prefeitura havia ainda em caixa mais R$ 156.060 para ser gasto com a obra, da licitação realizada em 2011, na gestão do ex-prefeito Moacyr Andrade, que gastou R$ 149.940. “Essa verba restante foi toda aplicada na obra”, disse Moreira.>
Mas segundo as investigações da PF, para execução do convênio com o Governo Federal, a prefeitura realizou duas licitações, uma vez que a primeira, ocorrida em 2011, teve o contrato rescindido.>
A rescisão ocorreu porque a empresa contratada, a Schifino Consultoria e Empreendimentos LTDA, atualmente inativa e em nome de Marly Helena Schifino e Salomão Schifino Moretti Vieira, abandonou a obra.>
No segundo certame, por meio de Carta Convite em 2014, ocorreu simulação de concorrência, afirma a PF. A contratada em 2014 foi a empresa JE Construções, pertencente a Jair Teixeira da Silva Eireli, não localizado para comentar o caso.>
Ainda segundo as investigações, a empresa agiu em “conluio com o Poder Público e venceu obras de calçamento da cidade, desviando recursos públicos, sem concluí-las ou executando-as parcialmente”. Ivan Moreira negou que isso tenha ocorrido.>
O ex-gestor que disse nunca ter se envolvido em licitação e desconhece a informação da PF de que “na execução do contrato, as planilhas de medição e notas fiscais eram preenchidas por um servidor da prefeitura, que superfaturava os valores”.>
“Se isso ocorria, não era do meu conhecimento. Um prefeito não tem como saber tudo do que se passa numa prefeitura. O que sei é que não me envolvi com nada de irregular e vou provar isso na Justiça”, afirmou.>
A Prefeitura de Itambé, atualmente, está sob a gestão do prefeito Eduardo Gama (MDB), que informou que não iria comentar o caso. Além do ex-prefeito Ivan Moreira, o ex-secretário Gerdal Santos Silva foi alvo da operação.>
Santos foi ouvido em sua residência, em Itambé, porque está com problemas de saúde e impossibilitado de se locomover, devido a um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido recentemente.>
Redução de patrimônio Nas eleições de 2016, quando foi derrotado pelo atual gestor, o ex-prefeito Ivan Moreira havia registrado patrimônio de R$ 2,03 milhões, sendo que quatro anos antes, nas eleições de 2012, o patrimônio dele era de R$ 5,3 milhões, a maioria em fazendas e um imóvel em Salvador, conforme a Justiça Eleitoral.>
Nesta sexta-feira, ele disse ao CORREIO que a redução do patrimônio se deu porque ele achou que não precisava, nas eleições de 2016, declarar bens que estão também em nome de outras pessoas – mas ele já tinha feito isso na declaração de 2012.>
“Há imóveis que são de herdeiros e estão em meu nome e em nome de outras pessoas, familiares meus, daí achei que não precisava declarar. Omiti bens porque não estavam em meu nome, mas não tenho esse déficit na mão”, ele disse.>
Na Justiça Eleitoral, o ex-gestor se declarou como pecuarista, mas ao CORREIO afirmou que “não tenho uma cabeça de gado”. “O que faço é alugar minhas terras para pastagens, mas não tenho nem uma galinha. Nem carro eu tenho, estou aposentado como pião ]trabalhador rural]”, completou Moreira, que tem 77 anos.>
Durante a gestão em Itambé, Ivan Moreira teve duas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), em 2014 e 2015, devido a irregularidades diversas, como excesso de gasto com pessoal, que chegou a 71,64%, quando o limite é de 54%, e má aplicação de verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Ele disse que não pensa mais em voltar à política.>