Família recebe rim de jovem em saco plástico em hospital de Lauro de Freitas

"Meu filho foi tratado como nada", reclama pai; caso aconteceu no Hospital Menandro de Faria

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  • Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2022 às 14:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Acervo pessoal

As preocupações da família de Jeferson Bispo, 21, baleado enquanto trabalhava como motorista de aplicativo na última sexta-feira (22) em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS), foram além de se afligir apenas com a saúde do jovem. Enquanto esperava boas notícias do estado clínico, a família recebeu o rim de Jeferson no sábado (23) dentro de um saco plástico, para levar à biópsia. 

Sem mais orientações, a esposa, Andreza Andrade, e o pai, Luciano Bispo, contam que o Hospital Geral Menandro de Faria (HGMF) deu prazo de dois dias para entrega do resultado, enquanto Jeferson ainda se encontrava na UTI.“Nem dormir direito a gente consegue. A maior preocupação era a saúde dele, é o que a gente espera de melhor. Mas quando se depara com uma situação dessa, a gente fica sem chão. Meu filho foi tratado como nada”, lamenta Luciano. Com Jeferson em estado estável atualmente, apesar de ainda se encontrar na UTI, a família, junto ao advogado Ronicleiton Martins, têm buscado justiça. Segundo Martins, a pretensão é pedir reparação pelo ato praticado, no tribunal. O valor a apresentar como retratação ainda não foi decidido. O advogado explica que o questionamento é sobre a imprudência no comportamento da equipe médica e, consequentemente, como afetou a família. 

A orientação médica é que o órgão esteja dentro de um pote aclimatizado para conservação e a equipe esclareça como deve ser o prosseguimento para a biópsia. A esposa do motorista, no entanto, conta que não foi isso que aconteceu. Ela ficou à frente da situação e foi quem recebeu o rim do esposo no plástico. “Na hora eu fiquei em choque. Comecei a tremer e chorar. Aí ela [profissional de saúde que cuidava do caso] falou que não tinha necessidade para desespero porque foi tirado um rim somente e ele tinha o outro”, afirma. 

Andreza ainda conta que foi descuidada até a maneira de que o saco plástico foi entregue. “Quando cheguei lá [no hospital para visita] uma moça deixou dois sacos. Em um estava a roupa dele e o outro achei que era a bala [projétil]. Peguei o saco e saí para uma salinha, quando cheguei na salinha veio uma médica e me explicou que no saco teria um órgão do meu marido”, relembra. 

Segundo os familiares, as informações também estavam nebulosas, pois só souberam que na segunda (25), após divulgação do caso na imprensa, que Jeferson está com bala alojada na região do tórax e o fígado e estômago também foram atingidos. Eles contam que o diretor do HGMF entrou em contato para se desculpar pelo ocorrido e reconheceu que o procedimento foi errado, pois o saco deveria estar em condições térmicas apropriadas e dentro de recipiente, ao invés de saco plástico. Afirmam que o diretor também esclareceu que as informações sobre o procedimento deveriam ser passadas com clareza aos familiares.

Falha   A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) reconheceu que houve falha no fluxo de atendimento e afirmou que a função já está sendo corrigida. “O material foi entregue novamente ao hospital, que providenciará a biópsia. Foi aberta apuração para identificação e correção do fluxo com reforço de treinamento da equipe”, declarou.  Em nota, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb), Otávio Marambaia, classificou o episódio como "uma situação precária, danosa e constrangedora para o paciente". *Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro