Fé e devoção à Rainha do Mar marcam experiências de turistas

Visitantes que já lotam Salvador no verão aproveitaram para conhecer a festa

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  • Luan Santos

Publicado em 3 de fevereiro de 2019 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Arisson Marinho/CORREIO

A devoção de Francislene Fróes, 39 anos, a Iemanjá já durava 11 anos. Começou quando ela, desempregada, recorreu à Rainha do Mar para conseguir um emprego - e deu certo. Mas só ontem, quando o sol já ia nascendo, a guarda civil paulista colocou os pés na areia da Praia da Paciência pela primeira vez. A viagem de São Paulo a Salvador teve uma razão específica: conhecer, finalmente, os festejos do 2 de fevereiro, dia de Iemanjá.

Nem se quisesse, Francislene poderia esconder o encantamento com a festa para a Rainha do Mar. “É diferente de tudo. Não é simplesmente levar um presente ao mar, nem só um ritual. Iemanjá sempre realiza todos os meus pedidos. Não há outro orixá como ela. Aqui, é um sentimento único”, diz a turista, que chegou à capital baiana num grupo de sete mulheres, todas da mesma família, todas devotas de Iemanjá.

A sensação de Francislene, de encantamento com a festa, estava longe de ser a única. Mas o olhar de estreia era diferente de quem sentiu a necessidade de retornar, como o casal de argentinos Hernán Silvestre, 35, e Martina Perez, 37, que veio pela segunda vez aos festejos. A primeira foi em 2017. Eles chegaram ao Rio Vermelho por volta das 7h de ontem e foram direto ao mar, para onde levaram flores. Muitas Iemanjás brilharam na festa “Ficamos com uma sensação de que deveríamos voltar. É estranho, pois não tínhamos qualquer conhecimento de Iemanjá. Mas, lá em 2017, fizemos nossos pedidos e todos foram realizados. Desde então, decidimos que deveríamos voltar”, conta Hernán, que fazia questão de registrar cada momento do dia em fotografias.

Para eles, o que mais chama atenção são os rituais do candomblé e umbanda feitos ali mesmo, na areia. “Acho tudo muito bonito, porque as pessoas expressam a fé delas de forma muito espontânea e forte”, diz Martina, que, em dado momento, curiosa, chegou a participar de um dos rituais que ocorriam na praia, dançando e batendo palmas.

O aspecto religioso foi, também, o que mais chamou a atenção da escritora Carolina Zeppo, 29, que veio de São Paulo para participar pela primeira vez da festa: “É bem diferente”, disse.

O estudante paranaense Matheus Dias, 25, estreou na festa na companhia dos pais. “Vi pessoas incorporando, outras em concentração fazendo agradecimentos. É um exercício de fé e devoção”, resumiu Matheus. Na dúvida para agradar Iemanjá, melhor um buquê de todas as cores Cidade cheia

A forte presença de turistas na festa é reflexo do elevado fluxo de visitantes na capital baiana, que deve receber 3,7 milhões de pessoas de outros estados ou países até março. Os hotéis do Rio Vermelho ficaram lotados para a Festa de Iemanjá neste fim de semana. 

O secretário de Turismo de Salvador, Claudio Tinoco, contou que, anteontem à noite, a taxa de ocupação hoteleira na capital girou em torno dos 90%. Além disso, embora ainda não tenha os número de janeiro, ele afirma que Salvador vive uma crescente de visitação turística. “Fechamos 2018 com 15% a mais de turistas em relação a 2016. Constatadamente, temos mais turistas na cidade”, ressaltou. 

Além disso, Tinoco frisou que a sensação de ruas mais cheias nas festas populares é reflexo, também, da maior disposição da população de Salvador. “As pessoas estão indo para as ruas, a população está com mais autoestima, participam das atividades da cidade”, ponderou. Rituais de devoção para aquela que comanda o 'ori' (cabeça) Festa 

Os festejos começaram ainda na noite de anteontem e adentraram a madrugada (leia mais ao lado). No início da manhã de ontem, centenas de pessoas, entre baianos e turistas, já se aglomeravam na areia da praia para entregar os presentes a Iemanjá. Muitos entregavam as flores e demais oferendas da praia mesmo, mas outros preferiam pegar barcos para levar o balaio ao mar. O serviço custava, em média, de R$ 10 a R$ 15 por pessoa.

A impressão dos organizadores da festa, que estimam a participação de pelo menos 1,5 milhão de pessoas, é que este ano teve mais gente na celebração. “Por ser final de semana, acredito que contribuiu. Mas, observamos um fluxo muito maior de pessoas”, avaliou Marcos Antônio Chaves, o Branco, presidente da Colônia de Pesca do Rio Vermelho. 

À medida que o dia foi amanhecendo, o público foi aumentando. As ruas do Rio Vermelho, principalmente no entorno da Casa de Iemanjá, ficaram tomadas, como num Carnaval fora de época no bairro. Vendedores de bebidas e comidas, carros de som e rodas de capoeira anivam o público. 

Para os americanos Samuel Whitney e Jack Kippers, tudo isso soou estranho. Pela primeira vez na festa, eles decidiram viver a experiência completa: participaram de rituais, levaram oferendas e fizeram pedidos. 

“Já viemos a Salvador, mas não conhecíamos a festa. É impressionante”, disse Samuel, que registrou tudo em fotos. “O que mais me encanta é esse amor das pessoas por ela (Iemanjá). Não me parece uma simples demonstração de fé”, complementou Jack.