Feira de Santana possui célula nazista em atividade, indica pesquisadora

Estudo inédito de antropóloga da Unicamp mostra que Brasil tem 334 grupos ativos

Publicado em 18 de novembro de 2019 às 16:41

- Atualizado há um ano

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Foto: Reprodução Um levantamento inédito feito pela antropóloga da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Adriana Abreu Magalhães Dias, pioneira nas pesquisas sobre a ascensão da extrema-direita nos anos 2000, identificou a existência de 334 células de grupos nazistas em atividade no Brasil. 

A maioria se concentra nas regiões Sul e Sudeste, mas há registros também em cidades nordestinas como Fortaleza (CE), João Pessoa (PB) e até Feira de Santana, no Centro Norte baiano. As informações são do Blog do Pichonelli, do portal Uol.

Segundo o levantamento, os grupos se dividem em até 17 movimentos, entre hitleristas, supremacistas/separatistas, de negação do Holocausto ou até mesmo três seções locais da KKK (Ku Klux Klan) – duas em Blumenau (SC) e uma em Niterói (RJ).

O principal reduto das células é São Paulo, com 99 grupos (28 só na capital), seguido por Santa Catarina (69), Paraná (66) e Rio Grande do Sul (47). 

Em estados sem registros de atividades até pouco tempo, como os do Centro-Oeste, movimentos do tipo começam a ganhar corpo. Goiás, por exemplo, já possui seis células.

O que são As células são grupos de três a 40 pessoas com ideais e atividades comuns. No caso dos neonazistas, segundo a Safernet (associação civil de direito privado com foco na defesa dos direitos humanos na web), trata-se de grupos que promovem a intolerância com base na ideologia nazista de superioridade e pureza racial com recursos de agressão, humilhação e discriminação.

São pessoas que fabricam, comercializam, distribuem ou veiculam emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda com símbolos (como a cruz suástica) e a defesa do pensamento nazista.

A entidade é responsável, entre outras atividades, por receber denúncias e as encaminhar para as autoridades, como a Polícia Federal e o Ministério Público.

Os dados sobre a extensão desses grupos no país são parte de um levantamento ainda inédito feito por Adriana Abreu Magalhães Dias e os detalhes e números completos devem ser publicados em um livro, a ser lançado em breve.

Páginas Em suas pesquisas, a antropóloga já identificou mais de 6,5 mil endereços eletrônicos de organizações nazistas somente em língua portuguesa (metade caiu graças às suas denúncias) e dezenas de milhares de neonazistas brasileiros em fóruns internacionais.

"Normalmente, no Brasil, as células não se conhecem, não se conectam, a não ser as grandes. São grupos de pessoas que conversam, que se reúnem, e eu localizei essas reuniões por sites na internet, blogs ou fóruns. Nenhum deles tem uma corrente única. Eles leem autores que, pelo mundo, brigam um com o outro", explicou ela ao Blog do Pichonelli.

A finalidade dessas reuniões é diversa. "A própria leitura de textos nazistas é uma violência. Mas há também células que defendem pancadaria contra homossexuais", afirma Dias.

Dark web Além de antropóloga, Adriana Dias sempre trabalhou como programadora de linguagens de computação, o que deu a ela as ferramentas para identificar os grupos pela internet – sobretudo na chamada "dark web", o submundo de conteúdos não indexados da web, onde muitos dos grupos de ódios se organizam.

Em uma entrevista ao portal da Unicamp, a pesquisadora mostrou a dimensão desses grupos, que promovem uma postagem antissemita no Twitter a cada quatro segundos.

Ela já calculou também que há uma postagem em português contra negros, pessoas com deficiência e LGBTs a cada oito segundos. 

"O ódio não é de agora. Sempre houve ódio racial, de classe, de gênero. Neste momento você tem uma articulação e uma sistematização deste ódio. Uma capilarização como projeto político em muitos lugares. E é impossível remover esse ódio enquanto você não civilizar as pessoas. É um processo muito complexo porque o ódio dá um conforto para elas", concluiu.