Fiéis agradecem curas a Santa Luzia, homenageada nesta quinta (13)

Devotos comemoraram dia da santa com missas e procissão no Comércio

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  • Nilson Marinho

Publicado em 13 de dezembro de 2018 às 14:47

- Atualizado há um ano

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O milagre, de acordo com a Irmandade, organizada em 1718, aconteceu no século XX, mas, até hoje, não há nenhuma comprovação científica que ateste que a água que jorra de uma pequena gruta nos fundos da Paróquia Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, no Comércio, em Salvador, carregue na sua composição, além de sais minerais, o poder da cura.

O que podemos comprovar, dados os relatos, é que há gente que garante que o líquido é capaz de sarar os problemas que acometem as vistas – e da fé do povo, sobretudo a do baiano, não se pode duvidar.

O problema é que a primeira pessoa a se dizer curada após lavar o rosto na fonte morreu uma semana depois de receber o milagre. E passados os séculos, é quase impossível atestar tal acontecimento. Ainda de acordo com a Irmandade de Santa Luzia, era um cego que resolveu lavar o rosto tendo, segundo os relatos, enxergado tudo em volta. Devotos acreditam no poder curativo da água que jorra da Igreja de Santa Luzia, no Comércio (Foto: Marina Silva /CORREIO) O rumor só fortaleceu a fé na santa da casa, que já era conhecida por ser a padroeira dos oftalmologistas. Nesta quinta-feira (13), quando Santa Luzia é homenageada, deixando o templo onde é guardada desde o século XIX para desfilar nas ruas da Cidade Baixa, fiéis vão à igreja assistir às missas, que acontecem durante todo o dia, e levar para casa em um recipiente improvisado a água, segundo acreditam, com poderes medicinais.

Na fila, não é difícil encontrar alguém que jure de pés juntos que foi curado após iniciar, sem recomendação médica, o tratamento que consiste em lavar o rosto, algumas vezes ao dia, sobretudo os olhos, até o recipiente secar, sem se esquecer, é claro, de rogar à santa por uma interseção divina. 

Os milagres vão desde a cura de uma catarata, um glaucoma, até o nascimento de uma criança, que, diante de comprovações médicas, jamais sobreviveria.

A copeira dietista Rosana Santos, 38 anos, foi até a Igreja do Pilar por ela e pela mãe. Por ela, por ser muito católica; pela mãe, por um glaucoma que lhe acomete há alguns anos e que vem diminuindo depois que a família passou a pedir a cura a Santa Luzia. Após se tornar devota, Rosana Santos acompanha a melhora da mãe que sofre com glaucoma (Foto: Marina Silva/CORREIO) "Abaixo de Deus, Santa Luzia; e o glaucoma, a cada de dia que passa, vem diminuindo. Já conhecíamos a santa, mas passamos a ter devoção depois do problema de saúde", conta Rosana. A mãe, que não pôde estar na festa, foi representada pela filha, que levou uma imagem nos braços até o Pilar.

Mesmo aqueles que não apresentam nenhum problema na visão levam consigo o líquido para casa. Prevenir é sempre melhor que remediar e não custa nada acreditar no poder curativo da água.

A aposentada Noélia Santos, 75, levou um pouco da água. Em sua residência pretende distribuir entre os familiares, para que todos possam ter a chance de se lavar. "É a fé que cura", diz.  Kauê, 1 ano, nasceu no dia de Santa Luzia; pais creem que seu nascimento foi um milagre (Foto: Marina Silva/CORREIO) O pequeno Kauê, de apenas 1 ano, é a personificação, por assim dizer, de um milagre. Dadas as condições de saúde da sua mãe, a criança nem deveria ter nascido. Caso viesse ao mundo, como acreditavam os médicos, seria de forma muito prematura, talvez sem chances de sobreviver.

A mãe do pequeno, a turismóloga Sinsemilla Ribeiro, 33, tem incompetência istmo cervical, problema no útero que impede a gravidez de ir adiante.

"Eu vinha pedindo há muitos anos um filho e já estava achando que não conseguiria. Ano passado, quando eu estava com quatro meses de gestação, sem saber, procurei um médico por sentir muitas dores nas costas. Foi aí que o especialista me pediu um teste de gravidez", contou. 

A supresa veio com o resultado positivo. O coração da criança já batia dentro do seu útero. Contrariando a medicina, Kauê veio ao mundo e, para surpresa de todos, no dia de Santa Luzia, que, no candomblé, é representada por Oxum Opará, orixá que rege a cabeça da mãe. 

*Sob supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.