Fiéis repetem Procissão dos Três Pedidos no dia do Bonfim

Pelo calendário católico, verdadeiro dia é no domingo seguinte à lavagem

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 19 de janeiro de 2020 às 19:50

- Atualizado há um ano

. Crédito: Tiago Caldas/CORREIO
Procissão dos Três Pedidos por Tiago Caldas/CORREIO

A primeira frase do hino ao Senhor do Bonfim exalta: “Gloria a ti nesse dia de glória”. O que a maioria das pessoas não sabe é que o verdadeiro dia de glória não se deu na quinta-feira, na grande Lavagem do Bonfim, quando um milhão de baianos foram às ruas para uma celebração que todos os anos mistura sagrado e profano, catolicismo e candomblé. O verdadeiro dia do Senhor do Bonfim é no domingo seguinte, um dia inteiro voltado para orações, procissão e pedidos.  

A festa começou com alvorada às 5h e missas o dia inteiro. A Missa Solene, às 10h, foi presidida pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. Mas, o ponto alto do dia foi algo muito mais recente que os 275 anos da chegada da imagem do Bonfim a Salvador. Criada há apenas sete anos pelo reitor da Basílica, Padre Edson Menezes, a chamada Procissão dos Três Pedidos levou uma multidão a caminhar entre a Igreja dos Mares e a Colina Sagrada, onde, manda a nova tradição, todos dão três voltas ao redor da igreja, uma para cada pedido. Às 16h10, a imagem de Senhor do Bonfim, acompanhada da imagem de Nossa Senhora da Penha, carregada pelo povo em mais uma penitência, seguiu rumo à Colina Sagrada.

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Quase todos que estavam ali já haviam cumprido à pé o trajeto de 8 quilômetros, na quinta-feira. Uma caminhada três vezes maior, que sai da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia rumo à mesma colina. “Eu vim na quinta-feira, mas hoje é diferente. Quinta é mais festa. Hoje é um dia glorioso para nós”, explica o aposentado Humberto Reis, 69 anos, um dos responsáveis por carregar o andor com a réplica da imagem do Senhor do Bonfim durante a procissão.

A cada ano, a Procissão dos Três Pedidos parece ganhar mais adeptos e estrutura. Dessa vez, um carro de som e dois trios elétricos animaram os fiéis como cânticos e louvores. “Foi uma grande invenção do padre Edson. Tem que inovar mesmo! Temos que fortalecer essa data gloriosa”, disse o também aposentado Fernando Silva, 70 anos. Padre Edson explica que a intenção foi justamente essa, fortalecer o dia com alguma manifestação que reunisse o povo.

“Percebi que as tardes do dia de Senhor do Bonfim estavam vazios, sem nenhum tipo de atividade ou festejo. Resolvemos então criar uma procissão. A cada ano está mais forte”, comemora o padre. Este ano, a procissão recebeu um reforço de peso. Um dos momentos de maior emoção foi quando, após o Largo de Roma, a imagem de Santa Dulce dos Pobres se juntou à de Senhor do Bonfim e a de Nossa Senhora da Penha. Funcionários e pacientes saíram para ver a procissão passar. “Um momento especial. Agora os dois vão trabalhar juntos pelo povo da Bahia. Senhor do Bonfim vai poder dividir essa responsabilidade”, disse Joselito de Jesus, 70 anos, devoto de Santa Dulce.

Uma hora e meia depois de deixar a Igreja dos Mares, as três imagens foram levadas até o alto da Colina Sagrada e colocadas na frente do templo. Foi quando padre Edson convocou a todos para, em silêncio, fazer os três pedidos. A imagem de Senhor do Bonfim deu então três voltar ao redor da igreja. “Ano passado pedi que meu filho entrasse na faculdade e o outro trocasse de carro. Esses dois foram alcançados. Não revelo o terceiro porque ainda não se concretizou”, disse Maria Auxiliadora, 65 anos.     

A festa do senhor do Bonfim ocorre no segundo domingo depois do dia de Reis. Antes disso, na quinta-feira, uma multidão que mistura fé católica, candomblé e festa profana vai às ruas para “lavar” as escadarias da igreja, repetindo o que faziam, desde o século 18, os escravos, que aproveitavam  para celebrar Oxalá. Daí vem a tradição religiosa híbrida.

Este ano, durante a Procissão dos Três Pedidos, placas faziam referência aos 275 anos da chegada da imagem de Senhor do Bonfim à Bahia, vinda de Setúbal, em Portugal. Na época, durante os nove anos que a basílica foi construída, a imagem foi acolhida na Igreja de Nossa Senhora da Penha. Por isso sua participação na procissão. “Nós buscamos essas referências históricas para criar uma relação forte dos fiéis com o evento”, explica o padre.