Filas para entrar na praia e poucas máscaras marcam o feriado no Porto da Barra

Últimos acontecimentos de violência no bairro não afugentaram banhistas

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  • Luana Lisboa

Publicado em 7 de setembro de 2021 às 19:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

"Essa filona é para tentar entrar na praia?", perguntou o vendedor de picolé Antônio Henrique ao passar em frente à Cruz da Redenção na tarde do feriado de Independência (7). "Falou certo, é pra tentar, porque não sabemos nem se vamos conseguir", respondeu, de imediato, um homem que estava na fila e não quis se identificar.

A escalada de violência que marcou a Barra nos últimos dias não afugentou os banhistas do Porto nesta terça. Corpo encontrado boiando na praia, na segunda-feira (6). Três pessoas baleadas no domingo. No mês passado, um homem colocou fogo em um casal que dormia. Menos de 15 dias antes, assaltantes roubaram duas pessoas no calçadão e entraram no mar para tentar escapar da polícia.

Questionados pela reportagem, entretanto, poucos sabiam, sequer, de algum episódio desses, com exceção dos que trabalham na região. Até mesmo Lucas Santana, vendedor de acarajé em frente a uma das entradas de acesso à praia, disse que só soube do tiroteio porque viu um dos corpos baleados. Ele também comenta que faz tempo que não vê o Porto com essa quantidade de pessoas. “Tem fila para entrar, fila para sair, tá uma aglomeração retada, muita gente veio até das manifestações de mais cedo. O corona tá aí", disse.

Paula Fróes/CORREIO

Com controle do acesso feito pela Guarda-Civil Municipal e presença de policiais militares, ambas as entradas estavam movimentadas, com muitas pessoas e poucas máscaras. Aline Santos, que estava na fila há cinco minutos quando abordada pela reportagem, é uma das pessoas que não costuma ir ao Porto. Resolveu aproveitar o último dia de feriado após o turno no trabalho pela manhã e levou um amigo. Mas, assim que chegou, recebeu uma ligação da mãe. “Cuidado que aí teve tiroteio esses dias”, ouviu. 

Quando informada sobre o corpo encontrado no mar, afirmou que se soubesse antes, nem teria ido. “Por que não me disse antes de eu pagar o estacionamento?”, riu. Aline acredita que o local não estava só cheio devido ao feriado, mas também às manifestações pró-governo que aconteceram nas proximidades, pela manhã. Atrás dela, uma mãe e duas filhas de camiseta amarela, rostos pintados de verde e bandeira do Brasil nas costas indicavam que ela estava certa.

Antônio Henrique, o vendedor de picolé, só confirmou: "Tem um político que atraiu muita gente para cá hoje. Como o pessoal está sedento por uma novidade, por um evento, vieram em massa”. Ele só aproveitou a ocasião para abaixar o valor do seu produto, com alta demanda. O céu azul e o sol quente da tarde ajudaram. Normalmente de R$ 1,50, vendeu a unidade por R$ 1.

Apesar de não ter ido para as manifestações, Lucas Oliveira, que esperava pacientemente na fila, não gostou nada da ideia por trás dela. “De que adianta impedirem as pessoas de descerem, se já houve até manifestação aqui mais cedo? O pessoal vai querer invadir”, preveniu.

Dito e feito. Durante o dia e também à noite, pessoas chegaram a pular a balaustrada para burlar a fiscalização. Procurada, a Guarda-Civil Municipal não retornou até a publicação dessa matéria.

“Essa é uma das praias que mais gosto. Nunca venho, mas, como é feriado, e esse é um ambiente aberto, resolvi vir. Com certeza têm ambientes piores do que esse”, garantiu Lucas.

O mesmo caso foi o de Marcelo da Silva, que aguardava na fila. “Sou uma pessoa caseira, não sou muito de estar saindo, mas hoje já estava cansado de ficar em casa e aproveitei a folga do trabalho”. Questionado sobre os últimos dias de violência, como de costume, sobrancelhas levantadas em uma expressão de surpresa. “Se soubesse, teria ido para outro lugar”.