Filho de Flavio Migliaccio faz relato emocionante após morte do pai

Ele confirmou que vai processar o Estado do Rio após PMs tirarem fotos do corpo

  • D
  • Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2020 às 13:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Facebook

O filho do ator Flavio Migliaccio, que morreu ontem aos 85 anos, fez um post no Facebook homenageando o pai. O ator tirou a própria vida em um sítio na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. No final, Marcelo Migliaccio confirma que os policiais militares que fotografaram "a cena mórbida" serão processados.

"Meu pai fez o que fez à nossa revelia", escreveu Marcelo. Ele contou que Flávio foi de táxi para o sítio no domingo, enquanto Marcelo estava cuidando da mãe. "Sem nos avisar, sem se despedir. Ele sempre me dizia que não aguentava mais viver num mundo como esse e sentir seu corpo deteriorar-se rápida e irreversivelmente pela idade avançada", explica. Segundo o filho, o ator "pouco escutava e enxergava".

O filho conta que tentava animar o pai, que dizia que a situação só iria piorar, lembrando que ele chegou a ser premiado como melhor ator da TV em 2019, quando já tinha 84 anos. Cita ainda um documentário sobre a vida e carreira de Flávio que está em produção.

"Mas meu pai tinha uma inteligência enorme e era difícil demovê-lo de alguma coisa em que acreditasse", escreve.

Marcelo diz que só ficam a saudade e as lembranças do pai. "Lembranças de algúem que me ensinou o que é amar um ofício. Alguém que me mostou a magia da criatividade. Me fez ver que a maior prova de amor que se pode dar a uma pessoa é respeitar suas convicções, suas decisões, seu jeito de ser e de não ser", continuou.

O filho escreve que respeita o "ato de extrema coragem" que o pai teve ao encerrar a vida, seguindo suas convicções. "Tentei impedir de todas as formas, sofro agora, e sofrerei para sempre, por não ter conseguido, mas entendo sua decisão".

Marcelo agradece ainda as mensagens e carinho que tem recebido de amigos e familiares. No final, manda recado aos policiais militares que atenderam a ocorrência e fotografaram "a cena mórbida no quarto do sítio", imagem que circulou nas redes sociais. "O Estado do Rio de Janeiro responderá judicialmente por ter pessoas assim a representá-lo".

Leia o texto completo:

Eu sabia que o meu pai era muito querido pelo Brasil inteiro. O que eu não fazia ideia era do quanto eu tinha amigos, pessoas que ontem e hoje se preocuparam em me dirigir palavras de consolo, de otimismo e de resignação. Ex-colegas de trabalho, das escolas, da faculdade, do meu bairro e muita gente que sequer conheço pessoalmente. Essa é a melhor parte desse capítulo.

Meu pai fez o que fez à nossa revelia. Pegou um táxi e foi para o sítio enquanto eu cuidava da minha mãe no último domingo. Sem nos avisar, sem se despedir. Ele sempre me dizia que não aguentava mais viver num mundo como esse e sentir seu corpo deteriorar-se rapida e irreversivelmente pela idade avançada. Pouco escutava e enxergava. "Daqui para frente só vai piorar", ele me dizia enquanto eu buscava todos os argumentos possíveis para lhe mostrar que ainda havia muita coisa boa reservada para ele. Como o prêmio de melhor ator de televisão de 2019, que incrivelmente ele ganhou aos 84 anos de idade. Ou como ver no cinema o documentário sobre sua vida e sua carreira que estamos preparando para breve.

Mas meu pai tinha uma inteligência enorme e era difícil demovê-lo de alguma coisa em que acreditasse. Infelizmente, ele agora é para nós só uma imensa saudade e lembranças maravilhosas. Lembraças de alguém que me ensinou o que é amar um ofício. Alguém que me mostrou a magia da criatividade. Me fez ver que a maior prova de amor que se pode dar a uma pessoa é respeitar suas convicções, suas decisões, seu jeito de ser e de não ser.

Por isso hoje respeito o ato de extrema coragem que meu pai teve na madrugada de ontem, fazendo o que acreditava ser a única coisa a fazer. Tentei impedir de todas as formas, sofro agora, e sofrerei para sempre, por não ter conseguido, mas entendo sua decisão.

Agradeço de coração a todos que me enviaram mensagens. Fizeram um bem enorme a mim e a ele, onde quer que ele esteja nos esperando.

PS: Quanto aos policiais militares que fotografaram com celular a cena mórbida no quarto do sítio e colocaram a imagem em redes sociais, o estado do Rio de Janeiro responderá judicialmente por ter pessoas assim a representá-lo.