Flávio Bolsonaro admite que Queiroz pagava suas contas pessoais

Filho do presidente, no entanto, disse que dinheiro era lícito e não fruto de 'rachadinha'

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  • Da Redação

Publicado em 5 de agosto de 2020 às 08:38

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

O senador Flávio Bolsonaro admitiu, durante entrevista para o jornal O Globo, que seu ex-assessor Fabrício Queiroz pagava suas despesas pessoais. 

Entretanto, segundo o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a origem desse dinheiro é lícita, sem nenhuma ligação com o esquema de "rachadinha", investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.

Questionado pelo jornal sobre ter despesas pessoais pagas por Queiroz, Flávio disse: "Pode ser que, por ventura, eu tenha mandado, sim, o Queiroz pagar uma conta minha. Eu pego dinheiro meu, dou para ele, ele vai ao banco e paga para mim. Querer vincular isso a alguma espécie de esquema que eu tenha com o Queiroz é como criminalizar qualquer secretário que vá pagar a conta de um patrão no banco. Não posso mandar ninguém pagar uma conta para mim no banco?".

O Ministério Público suspeita que o ex-assessor operava um esquema de "rachadinha" —em que funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários— no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio. O filho de Bolsonaro foi deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.

Queiroz, que é policial militar aposentado e ex-assessor do atual senador, foi preso no dia 18 de junho em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas de Flávio e do presidente, em Atibaia, interior de São Paulo. Queiroz conheceu Flávio a partir de Jair Bolsonaro, de quem é amigo há mais de 30 anos.

No dia 10 de julho, Queiroz deixou o Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro, para cumprir prisão domiciliar. O presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha, concedeu o benefício a pedido da defesa.

No pedido de prisão de Queiroz, a Promotoria indica que o dinheiro em espécie obtido com o suposto esquema teria sido utilizado em benefício pessoal de Flávio Bolsonaro, para quitar contas de plano de saúde e mensalidade da escola das filhas.

Os possíveis crimes apontados pelo MP-RJ são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização criminosa.

Ao ser indagado pelo jornal por que tantos assessores de seu gabinete deram dinheiro a Queiroz, o senador afirmou: "Ele fez um posicionamento junto ao MP (do Rio) esclarecendo essas questões. Disse que as pessoas que faziam os depósitos na conta dele eram da chamada equipe de rua. Queiroz afirma que pegava o dinheiro para fazer a subcontratação de outras pessoas para trabalharem em redutos onde ele tinha força. Sempre fui bem votado nesses locais. Talvez tenha sido um pouco relaxado de não olhar isso mais de perto, deixei muito a cargo dele".

"Mas é obvio que, se soubesse que ele fazia isso, jamais concordaria. Até porque não precisava, meu gabinete sempre foi muito enxuto, e na Assembleia existia a possibilidade de desmembrar cargos. Outra coisa importante: mais de 80% dos recursos que passaram pelo Queiroz são de familiares dele. Então, qual o crime que tem de o cara ter um acordo com a mulher, com a filha, para administrar o dinheiro?", defendeu-se.