'Foi torturado e executado', diz pai de jovem morto após abordagem da PM

Além da punição dos culpados, fotógrafo busca o porquê da execução do filho; amigo da vítima também foi morto

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  • Bruno Wendel

Publicado em 23 de setembro de 2021 às 18:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

Os olhos marejados são um dos sinais da cicatriz recente no peito do fotógrafo e músico Jorge Luiz Gonçalves Nascimento, 65 anos. "Abriram uma ferida no meu coração que nunca vai sarar", disse ele, na escadaria do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), onde chegava para falar sobre a morte do filho.

Ele é pai de Jorge Luiz Santos Nascimento, 24, um dos dois rapazes mortos após uma abordagem policial e uma condução a uma delegacia de Salvador. Nesta quarta-feira (22), as famílias das vítimas começaram a ser ouvidas pelos investigadores.  A história do crime começou no Centro da cidade, no domingo (19), e terminou com dois corpos na região da Brasilgás, nessa segunda-feira (20). O filho do fotógrafo e o amigo dele, Jamilto Júnior Bispo Silva, 22, deixaram as suas casas, na região da Barroquinha, antes do meio-dia deste domingo, rumo à Praia da Preguiça, onde até chegaram sem problemas.

De acordo com familiares, eles foram abordados por policiais militares e em seguida levados da praia para o Grupamento Especial de Repressão a Roubos em Coletivos (Gerrc), onde permaneceram até as 17h, quando foram liberados. No dia seguinte, os corpos dos jovens foram encontrados. “Quero saber o que de fato aconteceu com o meu filho. Quem fez isso com ele? Do jeito que vi meu filho, ele foi torturado e executado”, disse o fotógrafo.“Tenho certeza que foi a polícia que fez essa atrocidade com ele. Enterrar um filho é doloroso demais. Não desejo isso ao meu pior inimigo. (...) Certamente foi isso o que aconteceu. Pegarem eles assim que deixaram a delegacia. Amanhã vou à Corregedoria da Polícia Militar”, declarou ele, nessa quarta.  Fotógrafo aguardava para ser ouvido no inquérito que a morte do filho (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Além da punição dos culpados, o fotógrafo busca o porquê da execução do filho. “Eles não eram envolvidos em nada. Meu filho não era um vagabundo, não era um marginal. Ele era motoboy, fazia entrega delivery. A minha nora e meu neto estão morando comigo, porque não aguentam ficar na casa deles por causa das lembranças do meu filho", desabafou ele, que estava a poucos metros dos parentes de Jamilto, que também aguardavam para ser ouvidos no DHPP, mas preferiram não falar sobre o assunto.  Imagens Nesta semana, a diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Andréa Ribeiro, disse que os investigadores estão tentando levantar imagens que possam ajudar na apuração.  Ela contou que as informações oficiais são de que Jorge e Jamilton foram abordados por uma equipe da Polícia Militar, no bairro do Comércio, e levados até a sede do Gerc, no domingo (19). Os dois homens são suspeitos de participar de um assalto a ônibus ocorrido no dia anterior. Depois de serem ouvidos, os dois foram liberados, mas ficaram desaparecidos até os corpos serem encontrados na segunda-feira (20). Jovens foram conduzidos para o Gercc, liberados e depois sumiram; corpos foram encontrados no dia seguinte (Foto: Reprodução/TV Bahia)  As famílias dos rapazes negam que eles tenham envolvimento com a criminalidade. No entanto, a delegada disse que Jorge e Jamilton foram liberados, mesmo depois de serem apontados por uma testemunha como sendo os homens que assaltaram o ônibus no dia anterior, porque não havia mandado de prisão contra eles.

Questionada se esse não seria um caso de flagrante, ela respondeu que “talvez o delegado não tivesse todos os elementos necessários no momento para configurar o flagrante, mas o inquérito foi instaurado para apurar se de fato foram eles que participaram do assalto”.

Segundo a polícia, os dois jovens estariam envolvidos em outros crimes. A delegada citou um caso ocorrido no ano passado quando uma mulher teve a corrente roubada no Centro da cidade, e disse que existem outras situações envolvendo os jovens, mas que vai conversar com a família deles antes de divulgar novas informações.