Forma de instalar guard rail pode evitar acidentes como o da Paralela

Especialista sugere 'algo errado' em mureta metálica que matou motorista

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 4 de abril de 2018 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos: Evandro Veiga/CORREIO

Estrutura metálica atravessou veículo após colisão (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) A instalação adequada das muretas metálicas na Avenida Paralela, em Salvador, pode evitar acidentes graves, como o que resultou na morte da assistente social Ana Carolina Andrade, 32 anos, na manhã desta segunda-feira (3). Trata-se do aterramento das extremidades das estruturas, seguindo princípios de segurança defendidos em estudos acadêmicos e por especialistas em trânsito como o professor Elmo Felzemburg, da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba). 

Segundo ele, essa seria a forma mais adequada de se concluir a instalação dos guard rails - nome em inglês das muretas ou defensas metálicas, que são comum nas bordas de pistas e costumam servir de contenção ou amortecimento de veículos durante colisões.“O que aconteceu (na Avenida Paralela) não poderia acontecer jamais! Alguma coisa estava errada ali e fez com que a defensa funcionasse como um facão e adentrasse o veículo”, disse Felzemburg, ao comentar a forma como o carro dirigido pela assistente social foi atingido pela estrutura.O especialista diz, no entanto, que é importante verificar se a estrutura já não havia sido alterada em decorrência de choque prévio. Nesse caso, o guard rail, além de não cumprir seu papel, pode aumentar a gravidade do acidente, como o que ocorreu um uma das principais avenidas da capital.

Na ocasião, mais duas pessoas ficaram feridas – o bebê Caio Andrade, de apenas 3 meses, e o pai do menino, o técnico em elétrica Leandro Nery, 36. A família voltava de uma consulta ao pediatra, e seguia para o bairro de Jardim das Margaridas, onde morava.“A defensa não foi projetada para isso. Tinha alguma deficiência ali, pode ser que ela já estivesse deformada. É preciso investigar para saber qual foi a causa. Ela devia proteger, e não aumentar a fatalidade do acidente, como aconteceu na Paralela”, explica Felzemburg.Estudo De acordo com um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), publicado no ano passado, saídas da pista e colisões com objetos fixos são os tipos de acidente que são mais atenuados com esse tipo de contenção.

Segundo a pesquisa, que foi realizada por especialistas em operações rodoviárias, a exposição dos “cantos vivos” voltados contra o fluxo de tráfego é um dos casos que caracterizam a implantação incorreta da defensa metálica.

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Após o impacto do acidente, a estrutura feita de aço se deforma com a colisão para absorver o impacto e redireciona os veículos de zona de risco, reduzindo a gravidade do acidente.

“Se o carro se desgovernar, por exemplo, ele é ‘aparado’ por essa defensa. Assim, os efeitos do impacto são minimizados e o veículo não capota, não desce uma ribanceira, coisa desse tipo. Ao veículo se chocar, ela se deforma e absorve parte desse choque”, explica Felzemburg.

Segurança Após o acidente, nesta terça, a equipe do CORREIO identificou três tipos diferentes de extremidades nos guard rails da Avenida Paralela. Em um deles, a defensa metálica tem extremidade inclinada para baixo, sem ângulo reto e ancorada no solo, não ficando exposta - o que é mais seguro e oferece menos riscos em casos de colisão, segundo os especialistas. Ponta enterrada é a maneira mais correta para finalizar a grade (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Em outros dois não há inclinação, o terminal é reto. A diferença é que em um deles há uma espécie de revestimento, e o outro tem a extremidade descoberta, com o aço pontiagudo desprotegido.  Terminal reto com o aço pontiagudo é a forma incorreta, sobretudo se voltado contra o fluxo; terminais absorvedores de energia são menos perigosos  (Fotos: Evandro Veiga/CORREIO) “O mais correto é o que está com a ponta enterrada. Em uma tem uma proteção da ponta da defensa mas não tenho certeza que ela seja segura, depende do sentido do tráfego. Mas o mais correto é enterrar”, comenta o professor da Ufba.

“No caso da primeira foto [extremidade desprotegida], pode haver choque frontal com a ponta da defensa. A defensa também é indicada para proteger o veículo contra choques contra obstáculos. Parece que quem colocou ali protegeu poste ou pilar, mas esqueceu do tráfego”, continua ele. 

O especialista ressalta que só uma perícia pode afirmar se a defensa metálica na qual o carro de Ana Carolina colidiu era ou não adequada para estar na avenida. Ana Carolina, Caio e Leandro em foto recente (Foto: Divulgação/Facebook) Respostas Perguntada se houve alguma modificação nas estruturas de proteção por causa da construção do metrô, a CCR Metrô Bahia respondeu que “lamenta profundamente o acidente ocorrido”. A empresa afirmou que está “analisando a ocorrência e acompanhando as apurações do acidente pelas autoridades competentes”.

A Superintendência de Trânsito do Município (Transalvador), que é responsável pela manutenção dos guard rails, afirmou, por meio de nota, que as defensas metálicas são colocadas de acordo com normas de segurança descritas na NBR 6971, a Norma Brasileira de Segurança de Tráfego, definida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

“Toda defensa deve ser iniciada e encerrada com segurança, podendo ser abatida; terminais absorvedor de energia; ou terminais de defensa defletida. Existem diversas formas de aplicação, todas elas descritas na norma”, disse a superintendência.

Ainda segundo a Transalvador, os guard rails são colocados em locais onde há maior probabilidade de ocorrência de acidentes, “devendo ser utilizadas em locais que ofereçam algum risco, como barrancos, pilares de viadutos, faixas de sentidos opostos, limites laterais de uma ponte, áreas de circulação de pedestres, entre outros”.