Fórum reúne mulheres empreendedoras do Agro no Vale do São Francisco

Mulheres comandam uma a cada quatro fazendas na região, mas querem novas conquistas

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  • Georgina Maynart

Publicado em 30 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Elas estão acima da média nacional. Na Bahia ocupam 25,6% dos postos de comando das fazendas. Em Pernambuco representam 27,2% dos dirigentes do agronegócio. Mas querem mais. Não basta representar os dois maiores percentuais femininos do país em cargos de comando no setor agro. É preciso mais equidade, capacitação, oportunidade, educação e treinamento para enfrentar a discriminação no campo. E quem sabe um dia equilibrar a balança na qual 81,4% das propriedades rurais são comandadas por homens, como indicam os dados do último censo agrícola do IBGE.

Estes foram alguns dos assuntos discutidos durante o 1º Fórum de Mulheres Empreendedoras do Agronegócio do Vale do São Francisco, realizado em Petrolina (24/07). O evento reuniu lideranças femininas da Bahia, Pernambuco e de outros estados. Organizado pela Corteva Agriscience, empresa de produção de sementes, defensivos e tecnologia agrícola, o evento abordou questões como empoderamento e a importância do desenvolvimento da participação das mulheres no setor.

“O Vale do São Francisco é um lugar de altíssima tecnologia. A ideia começou aqui, mas queremos expandir para as demais comunidades, trabalhando com as mulheres líderes da região. Assinamos recentemente o compromisso com a ONU Mulheres um pacto global das Nações Unidas. Já existem diversas pesquisas que mostram que o ambiente onde há igualdade, diversidade e inclusão, os negócios prosperam mais. É algo dentro dos nossos valores tentar enriquecer a vida do produtor e do consumidor, compartilhando este conceito de inovação e equidade”, afirma Mariana Castanho, diretora comercial da Corteva.

A empresa pertence a uma companhia americana que detém ainda as marcas Dow e Dupont, tem 20% do faturamento na América Latina, e considera o Brasil o principal cliente no continente. As mulheres representam hoje 30% do quadro de funcionários da empresa. Cerca de 40% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, e na área comercial elas já atuam em 50% das funções. “Enfrentei muitos obstáculos, mas fui superando, tornando cada desafio uma oportunidade”, afirma Castanho, que no início da carreira foi a primeira mulher, dentro da empresa, a gerenciar um time de funcionários onde só existiam homens.

Painel

Durante o painel sobre as mulheres que fazem a diferença no agro foram apresentadas experiências de profissionais brasileiras que atuam em variados ramos do agronegócio. São mulheres que conquistaram espaço através do conhecimento e da competência. Profissionais que atuam em vários ramos e trilharam histórias inspiradoras, como Essione Ribeiro. Depois de enfrentar várias dificuldades ao longo da vida, ela se tornou uma das maiores especialistas do país em fisiologia vegetal. Essione nunca se deixou abater. Na infância enfrentou uma paralisia. Na juventude precisou vencer as dificuldades financeiras da família de doze irmãos, e até ajudou a mãe a quebrar brita para sobreviver. Consultora em fisiologia vegetal, Essione Ribeiro, é um dos exemplos de superação, persistência e liderança no Vale do São Francisco (Foto: acervo pessoal)  “Cheguei a estudar com vela na mão e a usar sandália consertada com arame. Nós somos capazes de fazer qualquer coisa para enfrentar o mundo. Quem se curva diante de um problema, o problema toma conta. Não cresce quem se limita, temos que nos posicionar sempre”, afirma Essione, que há cinco anos, depois de concluir o doutorado, montou a própria empresa de consultoria e atua no Brasil, e em países como México e Peru.

Com outra história de superação, a engenheira agrônoma e produtora de frutas e insumos em Minas Gerais, Hilda Loschi, defende que é preciso estar atualizada para acompanhar os processos e as mudanças no mercado. “Precisamos nos organizar e ter as informações para tomar as decisões e acompanhar as tendências mundiais. Capacitadas podemos optar. Mas nós não precisamos ter números grandes, precisamos fazer uma ação transformadora”, afirma a produtora rural.

Loschi ficou viúva jovem com dois filhos pequenos. Superou todas as dificuldades, hoje tem um empreendimento sólido no mercado e participa da Academia de Mulheres Lideres do Agronegócio.

A administradora Carol Coelho, que atua numa empresa de exportação do vale, também acredita que a capacitação é uma estratégia que deve ser fortalecida. “Sempre busquei a capacitação para estar no mesmo nível de igualdade, para ocupar os cargos pela competência. É necessário estudar, se capacitar, para atingir a igualdade”, diz a empresária que consegue atuar também como mãe de três filhas. Fórum reuniu em Petrolina, no Vale do São Francisco, mulheres que atuam em diversas áreas do agronegócio brasileiro (Foto: Divulgação) Estatísticas

Uma pesquisa realizada pela Corteva, com quatro mil mulheres que atuam no campo, revelou que 63% delas acreditam que a discriminação de gênero diminuiu no Brasil. Mas cerca de 44% delas pensam que vão ser necessários mais 30 anos para homens e mulheres terem mais equidade no ambiente de trabalho. Os dados revelaram ainda que 63% delas acreditam que há desigualdade no mundo.

Para a advogada Mariana Cássia Dias, especialista em direito de mulher e gênero, uma das saídas pode estar na melhoria da legislação e na ocupação dos espaços. “As mulheres precisam ocupar mais espaços, seja na iniciativa privada, nos governos, nas empresas públicas. O Brasil está muito atrás na representação política em relação a outros países. E é preciso que as pessoas entendam que todos fazem parte das engrenagens, desde o produtor, o consumidor, a empresa, a produtora que trabalha grávida em cima de um trator, todos os aspectos devem ser observados”, afirma.

A pesquisa também mostrou que 79% das mulheres querem mais apoio em educação. E que 80% disseram precisar de mais treinamento.

Ideia compartilhada pela produtora rural de frutas do Vale do São Francisco Ângela Nunes. Mãe de duas filhas, ela se tornou uma das mais bem-sucedidas produtoras de melão, cebola e manga da região. Antenada com o futuro, agora está preparando uma das filhas para a sucessão na empresa.

“Este é um dos momentos mais importantes de um negócio. E saber que minha filha quer estar neste espaço é motivo de muito orgulho para mim. Mas sempre digo que é preciso saber se colocar, saber o que está fazendo, ter postura, persistência e conhecimento”, afirma Ângela.  As palestras atrairam dezenas de produtoras rurais e profissionais de vários ramos do agronegócio regional (Foto: Divulgação) Hi-tech

O evento contou ainda com a participação da pesquisadora da Embrapa Beatriz Paranhos e da empresária de marketing digital Luana Trindade. Luana é fundadora do projeto “Empreendedoras do Vale”, co-realizador do Fórum. O projeto é uma plataforma digital que atualmente tem 644 empreendedoras cadastradas e mais de oito mil seguidores no instagram.

“A nossa comunidade tem como proposta representar as mulheres com base nos pilares do empreendedorismo, da apropriação territorial, da educação e da conexão. Na plataforma realizamos ações sobre negócios e cursos de capacitação, sempre com o lema de ajudar outras mulheres, e a ideia de que juntas somos mais fortes”, conta.