Fotos de miliciano morto fortalecem suspeita de queima de arquivo, diz revista

Adriano da Nóbrega foi morto por policiais da Bahia, em fazenda em Esplanada, a 170 km de Salvador

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  • Da Redação

Publicado em 13 de fevereiro de 2020 às 21:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

(Foto: Reprodução) O ex-policial militar do Rio Adriano Magalhães da Nóbrega era considerado peça-chave para o esclarecimento de dois casos: a expansão das milícias no Rio de Janeiro, muitas vezes com a ajuda clandestina de autoridades públicas, e o esquema envolvendo o gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, hoje senador da República. Depois de um ano foragido, Adriano foi morto por policiais da Bahia, em fazenda em Esplanada, a 170km de Salvador.

A PM-BA descobriu o paradeiro de Adriano com a ajuda da equipe de inteligência da polícia fluminense. Segundo a versão oficial, ele reagiu a uma ordem de prisão e morreu após uma troca de tiros. De acordo com a Veja, a família de Adriano pretendia cremar seu corpo na quarta-feira (12), mas a Justiça proibiu. Isso porque, segundo a revista, surgiram dúvidas sobre os reais objetivos da operação policial, principalmente depois que se soube que dela participaram cerca de 70 homens equipados com fuzis, carabinas, pistolas, revólveres, espingardas, bombas de gás, drones, coletes e escudos à prova de bala.

A revista Veja publicou imagens que revelam que Adriano da Nóbrega foi abatido com tiros disparados a curta distância. As imagens reforçam a acusação feita por sua esposa e por seu advogado de que ele foi executado — e de que as forças policiais nunca quiseram realmente prendê-lo. São fotografias de diversos ângulos, feitas logo depois da autópsia, que devem ajudar a revelar o que aconteceu nos minutos que se sucederam à entrada dos policiais no sítio onde o ex-capitão estava escondido, no município de Esplanada.

De acordo com a Secretaria de Segurança da Bahia, Adriano, depois de reagir, foi abatido com dois tiros — um de carabina e outro de fuzil. Um dos projéteis atingiu a região do pescoço. O outro perfurou o tórax. Também de acordo com a polícia baiana, mesmo atingido e tendo perdido muito sangue, o ex-capitão ainda estava vivo quando foi levado para o hospital, a 8 quilômetros do local do confronto, onde chegou morto. As fotos obtidas pela reportagem sustentam parte dessa versão. Os disparos que mataram Adriano da Nóbrega foram feitos a curta distância. Além disso, as imagens revelam um ferimento na cabeça do ex-capitão, logo abaixo do queixo, queimaduras do lado esquerdo do peito e um corte na testa.

As fotos, que foram obtidas com exclusividade pela Veja, foram submetidas à avaliação do médico legista Malthus Fonseca Galvão, professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-diretor do Instituto Médico Legal do Distrito Federal. Ele debruçou-se sobre o material sem saber a identidade do morto. Depois de ressaltar que o ideal seria estudar o próprio corpo e ter conhecimento das armas usadas na operação policial, Galvão citou alguns pontos que lhe chamaram a atenção. O primeiro são as marcas vermelhas localizadas próximas da região do peito, chamadas pelos peritos de “tatuagem”, que indicariam um tiro a curta distância - algo como 40 centímetros, no máximo. "Com esse disparo tão próximo, o mais provável é que tenha sido uma execução. Mas tem de analisar com mais detalhes”, disse, à Veja.

O segundo ponto destacado pelo médico legista é uma marca que aparenta ser um tiro na região do pescoço. “Pode ter sido um disparo após a vítima ter caído no chão, porque a imagem me sugere ser de baixo para cima, da direita para a esquerda, em quase 45 graus. Esse disparo pode ser o que o povo chama de ‘confere’”, afirmou. Confere é o famoso tiro de misericórdia, efetuado quando não há a intenção de salvar a pessoa baleada. Galvão também destacou uma marca cilíndrica cravada no peito do corpo. “Tem muita chance de ser a boca de um cano longo após o disparo, quente, sendo encostada com bastante força por mais de uma vez. Nesse momento, ele estava vivo, com certeza, porque está vermelho em volta. É uma reação vital.”

O professor observou ainda que o ferimento na cabeça poderia ser um corte provocado por um facão, um machado ou um choque com a quina de uma mesa. Pessoas próximas a Adriano da Nóbrega dizem que ele foi torturado. O machucado na cabeça, por exemplo, teria sido resultado de uma coronhada de pistola. Em laudo parcial divulgado pela Secretaria de Segurança da Bahia, perito diz não dispor de elementos “para afirmar ou negar” que houve emprego de tortura. A causa da morte foi “anemia aguda secundário à politraumatismo” Sob a proteção do anonimato, outro especialista em medicina legal apontou como possível sinal de execução o disparo na lateral do corpo do ex-PM, provavelmente feito quando ele estava com os braços erguidos, em sinal de rendição. De acordo com a Veja, para esse perito, se tivesse havido troca de tiros, tal contusão teria de ser acompanhada de ferimentos também no braço esquerdo. Ele ainda observou que um dos disparos — no pescoço, abaixo da mandíbula — deve ter sido feito a curtíssima distância - algo como 15 centímetros. Assim como seu colega da UnB, o especialista ressalvou que o ideal seria fazer uma análise no corpo.

Ainda conforme a reportagem publicada pela Veja, familiares e conhecidos de Adriano estão certos de que houve execução. “Ele me ligou e disse que não adiantaria se entregar porque ninguém queria a sua prisão, mas sim a sua morte”, disse o advogado Paulo Emílio Catta Preta, que defendia o ex-PM na Justiça.