Gasolina vale ouro: domingo de super filas para abastecer

No posto Mataripe, no Ogunjá, a fila chegou em Acupe de Brotas; PM garantiu ordem

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  • Bruno Wendel

Publicado em 27 de maio de 2018 às 16:56

- Atualizado há um ano

A fila do posto Mataripe no Vale do Ogunjá chegou no bairro de Acupe de Brotas (Foto: Marina Silva/CORREIO)  "Isso aqui é ouro", berrava um dos motoristas que amargava uma longa espera na fila do posto Mataripe do Vale do Ogunjá, um dos poucos postos de combustíveis que desde o início da manhã deste domingo (27) abastece a esperança de dias melhores para muita gente que madrugou na rua em Salvador. No sétimo dia da paralisação nacional dos caminhoneiros, a fila de carros estava, por volta das 9h, no bairro de Acupe de Brotas – uma distância de aproximadamente 4 km.  

O valor do litro da gasolina no posto sai por R$ 4,54 e a direção decidiu dividir as três bombas por motoristas, motociclistas e quem foi comprar com galões. Primeiro da fila de carros, Reinaldo Jorge, 64 anos, chegou às 3h. "Botei gasolina, mas vou deixar o carro parado em casa. Só vou usar em caso de emergência", disse ele que pagou R$ 50. "Não dá para encher por que o dinheiro está pouco", completou Reinaldo. Na fila das motos, o sargento da Polícia Militar arcou com R$ 68,00 pelos 15 litros da gasolina. "Aqui é para levar o filho na faculdade, para levar a mulher para o plantão e para eu ir trabalhar também", disse ele, enquanto abastecia. 

Confusão Já na fila dos galões, reclamações. "Nada de tumulto. Vai ter gasolina para todo mundo", gritava um homem em meio à multidão que se aglomerava ao redor de um frentista. O princípio de confusão foi controlado com a chegada de policiais militares, que organizaram a fila. "Vamos ficar aqui até encerrar o atendimento", avisou o subtenente Falcão da 26°CIPM. 

Fim do tumulto, Valnei dos Santos, 30, encheu quatro galões de 20 litros de gasolina. Ele pagou R$ 360,00. "Aqui só vai durar dois dias. É melhor pegar essa fila do que penar na outra, a de carros", argumentou. Policiais militares garantiram a ordem no posto durante um início de tumulto (Foto: Marina Silva/CORREIO) Fila A fila do posto Mataripe chegou na entrada da Rua Doutor José Carlos, no Acupe de Brotas. "Ao que tudo indica, não irei ao almoço da família. O jeito vai ser pedir para minha mulher trazer uma quentinha", disse o gerente de vendas Jerônimo Reis, 34, morador de Brotas. 

Por volta das 14h, Jerônimo estava em frente ao supermercado Mercantil Rodrigues do Vale do Ogunjá – a 5 metros do posto Mataripe.“Tem uns 40 carros na minha frente, mas estou perto. Minha mulher trouxe uma quentinha com arroz, feijão e frango”, contou ao CORREIO. A dentista Maíra Barbosa, 30, poderia estar na igreja, como de costume, mas também decidiu arriscar na peregrinação por combustível. "Estaria no grupo de jovem lá na Pituba, mas resolvi tentar a sorte. Ficarei até o meio dia", disse ela, impaciente. 

Porém, após atender a ligação do CORREIO, por volta das 14h20, Maíra admitiu: “Ainda estou aqui, perto do Mercantil Rodrigues. Como já enfrentei tudo isso, o jeito é ficar até o final”, comentou ela, mais conformada. 

Escolta A gasolina chegou ao posto Mataripe  por volta das 2h e o caminhão veio escoltado. "Quem providenciou foi a distribuidora. Mas não sei se a escolta foi particular", informou o gerente do posto, Rossini Gazzinelli, 54. 

Apesar de a fila chegar ao Acupe de Brotas, Gazzibelli disse que o combustível vai durar o dia inteiro. "É muito combustível. São 25 mil litros". Por volta das 14h30, o CORREIO voltou a falar com Gazzibelli e restavam ainda 17 mil dos 25 mil litros armazenados nas três bombas. “O combustível vai dar pra todo mundo, mas vamos funcionar até as 20h”, disse.

Iguatemi Na região do Iguatemi, filas se formavam entre os dois postos de combustíveis em frente à Rodoviária de Salvador, sentido Rótula do Abacaxi. A via crucis, principalmente de carros, deu volta no Viaduto dos Rodoviários e chegou a cerca de 100 metros da Rótula do Abacaxi, por volta das 11h.

O primeiro posto, o BR, onde o litro da gasolina estava por R$ 4,57, guarnições da Polícia Militar mantiveram a ordem para os mais exaltados. "O posto autorizou o abastecimento com o uso de galões, o que é proibido por lei, mas, diante da situação, não temos nada a fazer a não ser garantir a ordem, pois sempre tem alguém reclamando de que estão furando a fila. Mas até agora tudo na tranquilidade", disse o capitão Rezende, adjunto da coordenação da Regional Central. 

O mototaxista Vagner Rodrigues, 39, garantiu logo o combustível para até quinta-feira. "A situação está difícil, por isso acabei de encher quatro galões", disse ele, que pagou R$ 84,04 Por 18 litros. Ao saber da oferta da gasolina através das redes sociais, o analista de sistemas Juracy Almeida, 37, não perdeu tempo. "O tanque do meu carro estava na reserva", comentou após pagar R$ 180,00 por 39 litros do combustível. 

O gerente do posto, que preferiu não se identificar, disse que um caminhão com o combustível chegou às 6 deste domingo. "A escolta que trouxe o caminhão foi providência da própria Petrobrás", disse.

O gerente falou que chegaram 50 litros, mas não garantiu o reabastecimento do posto nos próximos dias. "Não temos como precisar", disse. Levando em consideração que um tanque médio possui 40 litros, 50 mil litros dariam para abastecer 1.250 carros.  Na região Iguatemi, filas se formaram a partir de dois postos no sentido Rótula do Abacaxi (Fotos: Marina Silva/CORREIO) Mataripe Pouco mais à frente do BR, o posto Mataripe também era tomado por pessoas que desejavam abastecer carros e motos e encher galões. "Cheguei aqui às 8h e estou enchendo o tanque agora, às 11h15", disse o pizzaiolo Reno Vilas Boas, 33. A mãe dele, a analista de sistemas Alcina Vilas Boas, 54, reclamou da fila."As pessoas não estão respeitando. Estão usando a amizade para furar a fila", denunciou. Apesar do clima, Alcina disse que apoia a greve dos caminhoneiros. "Estou aqui já faz três horas. Mas, apesar dos transtornos, a greve é justa por que a gasolina está muita cara. E vou além: as pessoas aqui reclamam do tumulto, mas não ninguém reprovando a luta dos caminheiros. É sinal que todos apoiam o movimento", disse ela.

Caminhão guincho Quem também aprovou a paralisação dos caminhoneiros foram os motoristas de caminhão guincho. Por volta das 11h40, dez caminhões guinchos pararam em fila na faixa central da Avenida ACM, em frente ao Departamento de Trânsito (Detra-Ba), sentido Avenida Paralela.

"A base de nossa luta é combustível e por isso estamos solidários ao caminhoneiros. Somos autônomos e passamos pelas mesmas dificuldades por causas dos encargos que não são poucos", declarou Luís Fernando, um dos idealizadores do protesto. 

Após dez minutos de buzinaço, os 12 caminhões guincho seguiram para a Avenida Lucaia. Depois passaram Avenida Paralela e retornaram no Imbuí, seguindo para Rótula do Abacaxi, onde foi o ponto de partida do protesto, encerrado pouco depois das 14h.