Gasto com 'supérfluos' do Executivo bancaria mais de 8 milhões de cestas básicas

Dados foram disponibilizados pelo Painel de Compras do Ministério da Economia

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  • Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2021 às 16:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: CORREIO

Com os itens considerados como “supérfluos” da lista de alimentos adquiridas pelo Governo Federal em 2020, seria possível adquirir um total de 8.016.299 cestas básicas, compostas por 10 kg de arroz, 2 kg de açúcar, 4 kg de feijão, 2 kg de farinha de trigo, 1 kg de macarrão, 1 lata de óleo de soja, 1 kg de leite em pó e 1 kg de fubá. Foram categorizados como supérfluos todos os itens que não estão presentes na lista da cesta básica e água mineral. O valor total gasto com estes alimentos foi de R$1.243.328.041,16.

Os preços levados em consideração foram aferidos no site do supermercado Extra nesta terça-feira (26) pelo CORREIO. O valor estimado de cada cesta básica foi de R$ 155,10. Caso fosse levado em conta apenas os próprios itens que integram a cesta básica, seria possível fazer a compra de 667.337 cestas. Em itens considerados como essenciais, o Governo Federal gastou um total de R$103.503.353,63 ao longo de 2020. Vale ressaltar que estes gastos foram feitos por todo o conjunto do Poder Executivo, não apenas pela Presidência da República, ou seja, englobam ministérios, instituições e autarquias federais. 

Encabeçando a lista de itens alimentícios mais comprados pelo Governo Federal está a carne bovina in natura, cujo valor gasto foi de R$ 89,6 milhões. Considerando o valor médio de R$ 21,82 do quilo do produto em setembro de 2020 (valor dolarizado, convertido em reais nesta terça-feira), foram adquiridas 4,2 milhões de quilos de carne bovina ao longo de 365 dias. De acordo com o Ministério da Saúde, é recomendada a ingestão de 300g a 500g de carne vermelha por semana; considerando isso, seria possível suprir as necessidades de cerca de 158 mil pessoas durante um ano.

Fecham a lista de itens que o Governo Federal mais gastou: legumes in natura (R$ 66,7 milhões); frutas in natura (R$ 63,1 milhões); verduras in natura (R$ 53,2 milhões); sucos (R$ 52,5 milhões); carne de aves in natura (R$ 51,5 milhões); biscoitos (R$ 50,1 milhões); condimentos (R$ 49,9 milhões); queijos (R$ 45,5 milhões) e embutidos (R$ 45,2 milhões).

O que também chamou atenção nos dados, divulgados pelo Painel de Compras do Ministério da Economia, foram os valores gastos com itens que são considerados como extremamente supérfluos. Em 2020, o Governo Federal gastou um total de R$113,8 milhões nos seguintes itens: água de coco, bebida láctea, bombons, caldas doces para recheios e coberturas, chantilly, chicletes, doces, frutas cristalizadas, leite condensado, pizza, pó para pudim e vinhos.

Apenas para doces em formato de tablete, foram gastos R$ 20,4 milhões. Já com leite condensado, integrante do café da manhã preferido do presidente Jair Bolsonaro, foram gastos R$ 15,6 milhões de reais. De acordo com valores cotados no site Mercado Livre, é possível comprar 834,2 mil quilogramas do produto com essa quantidade de dinheiro. Com toda essa quantidade gigantesca de leite condensado em mãos, é possível preparar 2,1 milhões panelas de brigadeiro, um total de 5,7 mil panelas por dia ao longo de um ano.

O valor gasto com chicletes também surpreende. Apenas em 2020, foi gasto R$ 2,2 milhões em gomas de mascar. De acordo com valores do supermercado Pão de Açúcar, é possível adquirir 1,1 milhão de pacotes do chiclete Trident, cada um com cinco unidades da goma de mascar. 

Com a quantia de dinheiro gasta em vinhos, é possível montar uma das maiores adegas do país. Considerando o valor médio de R$ 50,00 por cada rótulo da bebida alcoólica, é possível adquirir 50,2 mil garrafas de vinho. Para consumi-las em um ano, seria necessário entornar cerca de 137 garrafas por dia. Tratando-se de um Governo Federal com cerca de oito horas de trabalho diárias e oito horas de sono, a mais-que-centena de vinhos teriam apenas oito horas diárias para serem consumidas. 

Fome vs. gastos Apesar dos gastos extravagantes com itens supérfluos, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativos aos anos de 2017 e 2018, são pelo menos 10,3 milhões de pessoas no Brasil sem acesso regular à alimentação básica.

Vale citar que nesta pesquisa são excluídas as pessoas que estão em situação de rua, fator que pode aumentar consideravelmente o rastro da fome no país. Ainda de acordo com o IBGE, nos últimos cinco anos, o número de pessoas que não conseguem se alimentar de maneira básica no país cresceu em cerca de 3 milhões.

* Com orientação da subeditora Carol Neves