Gerações de fé: fiéis de diferentes idades reverenciam Irmã Dulce em caminhada

Terça-feira (13) será celebrado o dia especial de Irmã Dulce

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  • Bruno Wendel

Publicado em 11 de agosto de 2019 às 14:39

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva /CORREIO

O pequeno Pedro Porto dos Santos, 4 anos, nunca abraçou, conversou, sequer viu de perto Irmã Dulce, que em outubro será canonizada e transformada oficialmente em santa pela Igreja Católica, mas já tem consciência que sua fé na beata é maior do que seus 1,20m de altura. “Ela é o anjo Bom da Bahia”, disse o menino ainda tímido em meio à multidão que o cercava na Caminhada Irmã Dulce, realizada na manhã deste domingo (11) na Cidade Baixa que marca a reta final das comemorações da novena de Santa Dulce, que será encerrada na terça-feira (13).

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O evento foi marcado por fiéis de diferentes gerações, todos movidos pela devoção na freira baiana. A caminhada começou por volta das 8h. Pouco mais de 200 pessoas – a maioria vestida de branco – deixaram a Igreja do Bonfim rumo ao Memorial Irmã Dulce, entre elas Pedro, trazido pelos avós Idália Porto Souza, 61, e Josafá Moreira de Souza, 57. O menino faz parte da Sementinha de Jesus, grupo de catequese. “Ele vai todos os sábados e adora”, disse Idália.

O avô falou da importância de o neto participar de ações que resgatam a memória do Anjo Bom da Bahia, como era conhecida Irmã Dulce. “Tive a oportunidade de vê-la quando minha mulher vinha para cá entregar donativos a ela. Sempre a vi à distância, mas nunca tive coragem de ir lá falar com ela. Pra mim ela em vida já era santa e a gente fica meio com receio de se aproximar de tão maravilhosa eram suas atitudes. Por isso que trouxemos o nosso neto para que ele mergulhe ainda mais na história dela”, declarou Josafá. 

Debaixo do sol escaldante e de óculos escuros, lá estava Yuri Guimães, 10, carregando no pescoço um terço. “Como a avó dele não pode vir, ele trouxe o terço para ser benzido na missa e devolver a avó, que se recupera de uma cirurgia feita no Hospital Santo Antônio (que pertence às Obras Sociais fundadas por Irmã Dulce)”, contou a mãe do menino Patrícia Guimarães, 36 anos.

A poucos metros do garoto estava dona Iara Nascimento, 65, que nem parecia se incomodar com o calor. “Quando a gente tem fé, os obstáculos são nada. A gente tem fé na nossa santa, por que pra mim Irmã Dulce sempre foi santa. O que vão dar agora é o título. Nasci e me criei aqui, na Cidade Baixa, e pude testemunhar o quando ela era boa, caridosa, um exemplo de humanidade”, disse a idosa. 

Não foi à toa que Inaly Pires, 54, chamava a atenção na multidão. Ela tatuou o rosto da beata nas costas. “Dia 8 de janeiro fez 12 anos que fiz o desenho. Fiz porque sou devota dela. Sempre admirei a grandiosidade de suas obras”, disse. Inaly lembrou o primeiro contato que teve com Irmã Dulce. Quando tinha 17 anos, ela trabalhava numa loja de tintas. “Certa vez, ela foi lá pegar uns colchões para dar aos pobres, mas o dono não estava. Então, liguei para ele e resolvemos a situação. Foi quando ela pegou em minha mão e disse: ‘Deus te abençoe’. Naquele momento me senti agraciada por uma energia tão boa, que passei a acompanhar seus passos“, contou Inaly. 

Ainda entre as pessoas que seguiam na caminhada, estavam integrantes de um grupo de jovens que aproveitaram o momento para vender brigadeiros, bolo, sanduíche e mingau, para comprar as passagens aéreas para irem à cerimônia de canonização de Irmã Dulce, que acontece na Itália em outubro. São sete jovens, no total, que precisam viajar até o dia 5 de outubro e cada passagem custa R$ 5 mil. “Já conseguimos os passaportes, a hospedagem em um convento e a quantia para apenas uma passagem. Temos fé que iremos conseguir”, declarou Cecília Câncio, 21. Para também arrecadar fundos para a cerimônia que será celebrada no Vaticano, o grupo criou uma vaquinha online: Quem Tem Santa Vai à Roma. 

Pouco depois das 10h, a multidão chegou ao memorial, onde uma missa foi celebrada. Logo à frente do altar estava o maestro Jose Maurício Moreira, 50. Após ficar cego por 14 anos, ele rezou para Irmã Dulce e voltou a enxergar. Sua cura foi considerada pelo Vaticano o segundo milagre reconhecido de Irmã Dulce, o que garantiu para a freira baiana a santificação.

“Nunca pedi para voltar a enxergar. Os médicos falavam que não tinha chances de recuperar a visão, principalmente depois de 14 anos vivendo com a cegueira causada pelo glaucoma. No dia, estava com uma conjuntivite que não me deixava dormir há dias. Eu voltei a enxergar depois de uma oração que fiz. Peguei a imagem de Irmã Dulce e botei nos olhos. Hoje, sou a prova de que ela sempre foi santa”, declarou. 

Ao lado de Maurício estava Maria Rita Lopes Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), que falou sobre a importância da caminhada. “É importante que todas as pessoas lembrem dela, principalmente no dia 13 de agosto (dia em que Irmã Dulce se tornou freira). Precisamos homenageá-la sempre. Esta é uma forma de o legado não ser esquecido”, disse Rita. 

Festa para Dulce

Desde o dia 1º de agosto estão sendo celebradas ações para Irmã Dulce em alusão ao dia 13 de agosto - sua data litúrgica na Igreja e também o dia em que se comemora seu aniversário como freira. O ponto alto da agenda de homenagens a Irmã Dulce será a Missa Solene, na terça-feira (13), às 9h, no Santuário da religiosa, presidida pelo arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger. 

A celebração vai contar também com as presenças do miraculado Maurício Moreira, da cantora Margareth Menezes e do músico Waldonys, os três estarão no Vaticano, em outubro.

A nona edição da Festa em honra à Bem-Aventurada tem como tema 'Irmã Dulce, uma santa do nosso tempo. Somos todos chamados à Santidade, e só os santos podem renovar a humanidade'.