Gravação liberada: O Poder Executivo como você nunca viu

Vídeos mostram como Bolsonaro e seus ministros conversam entre si

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 23 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Quando sabem que estão falando para o grande público, os políticos são polidos. Respeitam a liturgia do cargo que ocupam. Não foi assim na reunião ministerial que aconteceu no último dia 22 de abril, cujo vídeo foi tornado público nesta sexta-feira, por determinação do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).  Em um encontro para definir questões importantes para o futuro do Brasil, Bolsonaro afirmou que não iria esperar "foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu" ao citar a necessidade de trocar "gente da segurança nossa no Rio". Ao reclamar da falta de informações, Bolsonaro cita que tem um sistema paralelo de inteligência, sem dar detalhes como funcionaria.  O vídeo mostra o presidente da República irritado, usando palavras de baixo calão. A gravação também mostra que Bolsonaro fez uma pausa e olhou diretamente para a direção do ex-ministro da Justiça Sergio Moro quando disse “eu vou interferir, ponto final”. A divulgação do arquivo era um desejo do ex-juiz da Lava Jato, que saiu do governo acusando o presidente de tentar intervir indevidamente na Polícia Federal.

CONFIRA ABAIXO A TRANSCRIÇÃO DOS PRINCIPAIS TRECHOS

Jair Bolsonaro Presidente da RepúblicaSistemas de informações: o meu funciona. O meu particular funciona. Os que tem oficialmente, desinformam. E voltando ao tema, prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenhoE eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção. Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir. Nunca tive problema com ele, zero problema com Paulo Guedes. Agora os demais, vou! Eu não posso ser surpreendido com noticias. Pô, eu tenho a PF que não me dá  informaçõesO que esses filha de uma égua quer, ô (Abraham) Weintraub, é a nossa liberdade. Olha, eu tô, como é fácil impor uma ditadura no Brasil. Como é fácil. O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai ter um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade. O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus, tá um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas. Um bosta. Que quem não conhece a história dele, procura conhecer, que eu conheci dentro da Câmara, com ele do meu lado! Tem aí OAB da vida, enchendo o saco do Supremo,  pra abrir o processo de impeachment porque eu não apresentei meu  exame de vírus, essas frescurada  toda, que todo mundo tem que tá ligadoIntervenções dos ministros O povo tá gritando por liberdade, ponto. Eu acho que é isso que a gente tá perdendo, tá perdendo mesmo. A ge... o povo tá querendo ver o que me trouxe até aqui. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF Abraham Weintraub Ministro da Educação A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos. E nós tamo subindo o tom e discursos tão chegando. Nosso ministério vai começar a pegar pesado com governadores e prefeitos Damares Alves Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos HumanosA oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação

Ricardo Salles Ministro do Meio Ambiente O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público (...). O senhor (Jair Bolsonaro) já notou que o BNDES e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo Paulo Guedes Ministro da Economia Repercussão

Sérgio Moro  Verdade exposta‘   O ex-ministro Sérgio Moro afirmou em redes sociais que a ‘verdade foi dita, exposta em vídeo’ após o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, liberar a gravação ministerial do dia 22 de abril. As imagens são consideradas peças-chave no inquérito que apura suposta interferência do presidente na Polícia Federal. Numa rede social, Moro escreveu: “Não cabe também ao Ministro da Justiça obstruir investigações da Justiça Estadual, ainda que envolvam supostos crimes dos filhos do Presidente”.

Celso de Mello

‘Aparente prática criminosa’   O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), viu possível crime de injúria em declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub. Na decisão em que retira o sigilo da gravação, o decano (mais antigo ministro) do tribunal determina que todos os ministros do Supremo sejam oficiados para que, caso queiram, adotem as medidas cabíveis.  

Arthur Virgílio Neto

‘strip-tease moral’    O prefeito de Manaus disse que “os insultos” dirigidos a ele a outros políticos “representam um verdadeiro ‘strip-tease moral’ feito por quem não tem a mais mínima condição de governar o Brasil”. Arthur Virgílio foi chamado de “bosta” pelo pre- sidente Jair Bolsonaro 

João Dória 

‘País está atônito’    Para o governador de São Paulo, as palavras do presidente são uma agressão contra o Brasil. “Palavrões, ofensas e ataques a governadores, prefeitos, parlamentares e ministros do Supremo, demonstram descaso com a democracia, desprezo pela nação e agressões à institucionalidade da Presidência da República”, acredita. 

Fabio Wajngarten

‘Um líder’    O secretário de Comunicação da Presidência defendeu o chefe: “O inimigo esperava que caísse a máscara do Presidente Bolsonaro no vídeo da reunião ministerial. Realmente caiu, mas o que todos viram foi a mesma face: um líder defendendo os mesmos valores que defendeu em sua campanha e querendo proteger seu povo da tirania de pseudo-ditadores”.