Grávida baleada por PMs no subúrbio tem alta e volta para casa

Ela conta que soube da morte do filho que carregava seis dias após internação

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  • Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2021 às 20:33

- Atualizado há um ano

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Foram dias de terror para Jucilene de Santana Juriti, mulher de 23 anos que foi atingida por três tiros quando estava grávida e na porta de sua casa em São Tomé de Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, no dia 17 de maio. Ela conseguiu sobreviver e teve alta médica. Hoje, se recupera em casa - mas ainda lutando contra o trauma de ter perdido o que seria o seu terceiro filho, que estava no oitavo mês de gestação.

Lúcida depois de passar por coma induzido na UTI do Hospital do Subúrbio, ela diz que não lembra muita coisa do dia da tragédia. As últimas memórias são de sentir que foi atingida e correr com os seus dois filhos, de 3 e 5 anos, que testemunharam a ação, até a casa da sogra. 

A notícia de perder o bebê que gestava ainda não foi processada. "Eu achei que ainda estava grávida. Fiquei muito triste, comecei a chorar", disse antes de apontar que não consegue pensar na perda e tenta focar na sua recuperação. 

Marido de Jucilene, Ângelo Esquivel vive uma mistura de gratidão por saber que a esposa sobreviveu após ficar em estado grave, com revolta por toda a situação e desejo de buscar por justiça. A esposa, que era saudável, agora depende de remédios, que são custosos para a família.

"É revoltante saber que tudo isso aconteceu depois de uma ação policial. Nós estávamos felizes e três tiros acabaram com isso, levaram nossa tranquilidade, nosso filho", disse.

A notícia da morte do bebê após uma bala atingir o útero de Jucilene só foi dada seis dias após ela dar entrada no hospital.

A Defensoria Pública da Bahia está acompanhando o caso e a defensora Eva Rodrigues deu orientações jurídicas para a família, que registrou queixa na Corregedoria da Polícia Militar. Em nota, a PM afirmou que a Corregedoria está apurando o caso.  Jucilene estava grávida de 8 meses (Foto: Acervo Pessoal) Caseira O casal Ângelo e Jucilene é evangélico e tinha se casado há oito meses, apesar de já terem outros dois filhos. Essa terceira gravidez era planejada e muito aguardada por todos os familiares.

Jucilene é conhecida por ser uma mulher tranquila, caseira e muito ligada à família. Durante a pandemia, ela evitava até sair para a casa da mãe por medo do coronavírus.

"Estou desacreditada de tudo. Isso está se tornando banalidade. Eu entendo que a bandidagem está grande e que eles não recebem a polícia com flores. Mas os policiais precisam ter treinamento. Eles não podem sair atirando à esmo num bairro em plena luz do dia", desabafa a mãe da jovem, Eliene Assis de Santana, de 42 anos.

Eliene tem problemas de hipertensão e ao chegar no hospital para visitar a filha, precisou ser atendida também pois passou mal.

Ela chegou a conversar com o policial autor dos disparos e ele contou que também é pai e que está colocando a cara à tapa para tentar salvar a vida de Jucilene.

Eliene cobrou alguma atitude do governador Rui Costa e o secretário de Segurança Ricardo Mandarino. "Quantas filhas, mães e crianças inocentes vão precisar morrer antes que alguém resolva esse problema? A gente vê acontecendo isso diariamente. Famílias sendo esfaceladas por conta de ações policiais", cobra.