Grupo armado e encapuzado depreda 14 carros em rua do Garcia

Segundo moradores, ação foi realizada por grupo de homens armados, encapuzados e com roupa similar ao uniforme do Exército

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  • Tailane Muniz

Publicado em 29 de agosto de 2019 às 09:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO
. por Tailane Muniz/CORREIO

Por toda a extensão da Rua Língua de Vaca, no bairro do Garcia, em Salvador, o cenário é de destruição. No local, estreito e de mão dupla, ao menos 14 carros estacionados em frente às casas que, em geral, não têm garagem, foram depredados na madrugada desta quinta-feira (29). 

Os poucos moradores que tiveram coragem de sair na varanda, ou olhar pela janela, no momento do crime, relatam que o ataque foi protagonizado por um grupo de seis homens armados, encapuzados e com roupa similar ao uniforme do Exército, por volta de 2h40.

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Sem dizer nada, relatam testemunhas, eles pararam um carro preto, não identificado, na entrada da rua - com acesso em frente ao Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) - e saíram do veículo já promovendo o ataque: pára-brisas, pneus, latarias e faróis de veículos estacionados dos dois lados da rua não foram poupados. 

A ação, no entanto, causou um barulho que despertou alguns cachorros na área, além de disparar o alarme dos carros, que, conforme o aposentado José Jorge Souza, 59 anos, foi o que “parou” o grupo. Dono de um Corsa Sedan, ele estima um prejuízo de R$ 600 pelos danos causados no carro, comprado há sete meses.“Moro aqui há 40 anos, nunca vi nada do tipo. O pior é não fazer ideia da motivação, porque nenhum de nós temos problema com nada e nem ninguém. Não houve ameaça, aviso, nada. Não consigo entender”, lamenta o aposentado, que afirma não ter escutado nada fora do comum. José, além de outros quatro donos dos veículos, prestaram queixa do crime na 1ª Delegacia (Barris). Segundo o aposentado, a titular da unidade, Rogéria Araújo, solicitou que o Departamento de Polícia Técnica (DPT) pericie os carros.

O CORREIO procurou o DPT, que informou que os carros danificados passaram por perícia nesta tarde. O laudo com o resultado será concluído em até 10 dias, mas o prazo pode ser prorrogado.

‘Ataque aleatório’ Embora o moradores garantam que não há uma motivação que justifique o vandalismo, algumas pessoas comentam que o ataque pode ter ligação com o tráfico de drogas. “Sei lá, né, tudo agora é facção. Aqui é a rua mais tranquila do Garcia, mas uma coisa assim, sem razão, é estranho”, disse uma moradora, sem se identificar.

Um dos mais estragados na ação criminosa, o carro do taxista Flávio Campos, 38, é estacionado na rua há quatro anos, mesmo tempo de comprado. À reportagem do CORREIO, Flávio contou que mora no local desde que nasceu e defendeu a ideia de que os bandidos não escolheram os carros, mas foram destruindo o que viam pela frente.“Sei que eles passaram quebrando tudo e depois voltaram quebrando tudo. São muitos carros, não parece que escolheram, mas que desceram e subiram sem dó”, considera. O taxista, que paga o seguro do veículo, contabiliza pelo menos R$ 5 mil de prejuízo, incluindo a franquia, para consertar os três pneus, a lanterna e os vidros do Chevrolet Spin que usa para trabalhar.O mesmo prejuízo é estimado pelo aposentado Nilson Mendes, 66, dono de um Fiat Uno que teve os vidros completamente destruídos. “Moro aqui a 25 anos, não consigo pensar no que pode ter causado algo assim. Coisa triste e que choca a todos nós”, se limitou a dizer.

Durante a manhã, alguns vizinhos confabulavam sobre as possíveis causas para o ataque. “Acho que foi facção”, diz um. “Pra mim, isso é retaliação com alguém”, comenta outra. “Observe que esse aqui, entre os dois, não foi tocado. Por que será?”, indaga outra, sem perceber os pneus do veículo arriados. 

De acordo com informações do 18º Batalhão de Polícia Militar (BPM/Centro Histórico), por volta das 3h, policiais militares da unidade foram acionados pelo Centro de Comunicação Integrada da Secretaria da Segurança Pública (Cicom/SSP) para atender a uma ocorrência de vandalismo na localidade conhecida como Língua de Vaca, no Garcia.

No local, os policiais constataram que havia pelo menos dez veículos, que estavam estacionados na rua, depredados, com pneus furados, vidros quebrados e arranhões. Em nota, a PM informou ainda que, "de acordo com moradores, eles observaram vândalos, encapuzados, em fuga em um veículo, tomando destino ignorado. Os moradores não souberam informar a motivação do crime".

A polícia informou que realizou rondas na região, mas não conseguiram localizar os suspeitos. "Os solicitantes foram orientados a registrarem o fato na delegacia, para que o caso seja investigado", disse a PM, em nota.

Tranquilidade Entre as teorias, suposições e comentários, a tranquilidade da Rua Língua de Vaca é unanimidade. Conhecida por abrigar uma oficina popular da região, a maior parte das pessoas que mora no local se conhece por nome e sobrenome.

Comerciante do bairro há 30 anos, Edson Carvalho, 58, disse que foi acordado pelo barulho de “carro quebrando”. Da janela, a poucos metros de onde os primeiros carros estavam parados, viu homens com machadinhas e correndo pela rua.“Aqui eu já vi coisas ruins, como assaltos. Mas assim, eu realmente nunca presenciei. Aqui nós somos amigos, conhecidos de muito tempo. Um lugar tranquilo de viver”, conta Edson, que é irmão do dono de um dos carros atingidos. Outro que conhece bem o lugar, onde mora há 15 anos, o instrutor de direção Jaime Lima, 52, também ouviu os barulhos dos bandidos que, de acordo com ele, foram vistos enquanto mostravam as armas.

“Eu não vi, mas alguns vizinhos afirmam que estavam armados. Penso que é estranho fazer isso em um lugar sem estar armado, seria até loucura, afinal, você não sabe o que pode aparecer”, defende. 

Alguns moradores disseram ainda que a localidade também é conhecida pela quantidade de policiais que moram ou frequentam o lugar.