Grupo protesta em frente a prédio de patroa acusada de cárcere: 'Racista!'

Moradores desceram para a rua e protestaram junto com o grupo, enquanto outros levantaram cartazes nas janelas

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  • Fernanda Varela

Publicado em 29 de agosto de 2021 às 11:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: CORREIO

Um grupo se reuniu na manhã deste domingo (29) em frente ao prédio onde a babá Raiane Ribeiro se jogou do terceiro andar, para fugir das agressões e do cárcere privado ao qual foi submetida pela ex-patroa, Melina Esteves França.

Com bandeiras do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e megafones, o grupo protestou contra Melina, que mora no local. “Como nossos companheiros já disseram, não queríamos estar aqui hoje, mas estamos para mostrar que Raiana não está sozinha”, declarou uma das manifestantes, puxando o grito de "racistas, fascistas, não passarão".

Série do CORREIO sobre empregadas domésticas confinadas na pandemia repercute em todo o país O protesto foi organizado por uma série de grupos populares. Segundo Eslane Paixão, presidente estadual da Unidade Popular, o objetivo é cobrar justiça pelo que ocorreu. "Esse manifesto surgiu de uma série de grupos, não só do MLB, como também do Movimento Correnteza, Unidade Popular, e outros. A gente se organizou durante a semana para cobrar justiça, uma resposta. A ideia é não parar", contou.

Vários  moradores desceram para a rua e protestaram junto com o grupo, enquanto outros levantaram cartazes nas janelas.

Patroa admitiu agressões Na sexta-feira (27), o titular da 9ª Delegacia da Boca do Rio, delegado Thiago Rodrigues Pinto, afirmou que Melina admitiu ter agredido a babá. Em depoimento, no entanto, ela disse que a briga se deu por uma razão diferente da relatada pela vítima.

"Ela manteve a versão que a mulher agrediu as crianças, mas se eu lhe falar os detalhes estarei entregando pontos importantes. O que posso dizer é que a acusada admitiu as agressões, mas afirmou que foram mútuas e por conta de um desentendimento", explicou o delegado.

Desde que Raiane pulou do prédio para escapar de Melina, várias mulheres procuraram a delegacia para afirmar que também sofreram abusos por parte da patroa. Uma das moças chegou a relatar que ficou 15 dias em cárcere privado, enquanto outras revelaram que eram xingadas e que a patroa escondia uma arma em casa.

"Estão aparecendo muitas vítimas e estamos colhendo os depoimentos para colocar tudo no papel. Não sei lhe precisar a quantidade de vítimas, mas foram várias", contou o delegado. 

Relembre o caso Raiane arriscou a vida para escapar do trabalho, onde afirma que era mantida em cárcere privado. A jovem de 25 anos conversou com o Correio na noite de quarta-feira (25) e relatou os momentos traumáticos que viveu nos últimos dias.   Raiane é do município de Itanagra, a 120 km de Salvador. Após ver um anúncio de emprego em um site, decidiu se candidatar. Após contato com a anunciante, chamada Melina, a babá trocou informações e após algumas chamadas de vídeo foi contratada para trabalhar. Leia mais: Babá pula do terceiro andar de prédio no Imbuí e acusa patroa de cárcere privado   "Depois que eu vi o anúncio, entrei em contato, e o acordo era trabalhar integral e folgar a cada 15 dias", disse Raiane.   No entanto, após iniciar o trabalho, Raiane conta que recebeu nova proposta de emprego e que após comunicar à patroa, passou a ser ameaçada. "Quando eu pedi para sair do trabalho, ela respondeu: 'eu quero ver se você vai embora. Eu não sou vagabunda. Você não vai embora", disse a mulher.  Após a queda, Raiane levou pontos na testa e fraturou o calcanhar (foto: Acervo pessoal) Segundo Raiane essa ameaça teria ocorrido na terça-feira (24). A babá disse que pediu socorro à irmã, pelo telefone. A irmã de Raiane então entrou em contato com uma tia que mora em Salvador. Após o contato, um homem teria ido até o prédio onde Raiane trabalha, mas após fazer contato pelo interfone, a patroa disse que Raiane não estava no local. Nesta quarta-feira (25), uma pessoa voltou no prédio a pedido da tia de Raiane para procurar a jovem, segundo ela, desta vez, a patroa arrancou a fiação do interfone para evitar o contato. Sem contato externo, Raiane diz que foi trancada no banheiro. Desesperada, ela tentou fugir pelo basculante.  "Ela me trancou no banheiro, ai vi o basculante e decidi fugir para alcançar a janela do apartamento do lado e lá pedir ajuda, mas aí não consegui e fiquei pendurada. Aí depois, eu caí", conta.   Ela caiu dentro de um apartamento localizado no primeiro andar e foi socorrida por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital Geral do Estado. Raiane fraturou o calcanhar, e levou pontos na testa. Além de ter ficado com alguns hematomas no corpo. Raiane também negou a possibilidade de ter agredido uma das três crianças que tomava conta. A versão foi relatada por um vizinho. Segundo a mulher,  a babá teria sido flagrada sendo agressiva com uma das crianças e, quando foi flagrada, se escondeu em um dos cômodos e acabou se jogando para fugir dela. A jovem nega qualquer tipo de agressão e diz que nos últimos dias chegou a ser impedida de se alimentar. "É mentira. Como eu ia agredir as crianças? Por que? Eu passei dias sem comer, sem beber água. Ela mandou que eu ligasse para minha mãe e dizer que estava tudo bem. Minha mãe perguntou se eu queria voltar para casa, eu disse que sim. Ela esculhambou minha mãe, minha tia. Depois disse que hoje ia me levar na rodoviária. Aí quando chegou hoje, voltou a me agredir". Raiane prestou queixa na Delegacia da Boca do Rio e já conta com um advogado no caso. Ela tem ajuda da tia que mora em Salvador, mas diz que pretende voltar para sua cidade natal por não ter condições de procurar um novo emprego neste momento.   "Eu não tenho condições de andar nesse momento. Eu vou voltar para Itanagra e passar um pouco desse trauma, porque foi traumatizante o que eu passei".