Grupo realiza ebó coletivo na Alba em protesto contra o fechamento de escolas

Concentração em frente ao prédio anexo 

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  • Eduardo Dias

Publicado em 12 de fevereiro de 2020 às 10:55

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Eduardo Dias/CORREIO

Um grupo de pessoas de religiões de matriz africana realizou um ebó coletivo na manhã desta quarta-feira (12), em frente à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), no Centro Administrativo da Bahia (CAB). Ebó é uma oferenda aos orixás. O ato é para repudiar o encerramento das atividades de colégios da rede estadual e em defesa da educação no estado da Bahia.

Organizado pela Frente Nacional Makota Valdina, o grupo convocou o povo de candomblé e os movimentos estudantis, sociais e negros para lutar contra o que caracterizam como o sucateamento das escolas públicas no estado da Bahia. O movimento afirma que a educação no estado sofre ataques de uma política de privatização, sucateamento e militarização da educação pública por parte do governo do estado.

O ato tem como tema: “Salubá Nanã pela Educação!”, que segundo o Babalorixá Whashington Dias, uma das lideranças da Frente Nacional Makota Valdina, faz referência à orixá Nanã, que para o povo de santo, é uma ancestral referência para o processo educativo. 

"Quando a gente faz referência a Nanã, que a gente a tem como uma ancestral referência no processo educativo, propomos, a partir da nossa cosmovisão, trazer o nosso legado, nosso modelo de educação, que na verdade é um modelo coletivo, que pensa a sociedade não só apenas para nós, mas para um conjunto de pessoas e da diversidade. É isso que Nanã tem para nos ensinar, é isso que o candomblé gem nos ensinado", afirmou."Defender a educação é um princípio nosso, pois todo o processo que a gente vivencia, dentro e fora dos terreiros, são todos ligados à educação, são processos educativos. Lutar por uma educação pública, laica, gratuita e de qualidade, é de fundamental importância para o a emancipação do nosso povo", finalizou Dias.De braços cruzados, como forma de protesto, a Ekedji Lindinalva de Paula, explicou como funciona um ebó. Segundo ela, esse é o terceiro ato realizado em Salvador como forma de protesto. Lindinalva ressaltou a importância de desmistificar o pensamento sobre o ebó, que para os adeptos do candomblé, serve tanto para agradecimento, quanto como forma de protesto.

"Ebó é toda vez que você faz uma oferenda, mas não necessariamente como as pessoas costumam julgar, que está se desejando o mal a algo ou alguém. Uma oferenda, na maioria das vezes é para agradecer. Se a gente está lidando com energia, então a gente agradece pela felicidade, pelo trabalho, pela saúde, pela fertilidade, por toda a energia que a terra dá para a gente e a gente devolve através de um ebó", disse a ekedji, que destacou que o ato é também uma maneira de unir todo o povo do axé numa mesma luta.

"Quando falamos de ebó coletivo, que é uma coisa que Makota Valdina falava sempre, buscamos conseguir unir o povo de axé para fazer um enfrentamento ao racismo e ao ódio" completou, reforçando que o ato realizado hoje é em forma de protesto contra "esse modelo de educação que está sendo excludente, perverso e que afeta diretamente as comunidades negras e periféricas onde se concentram a maioria dos terreiros". 

Ja o Tata Kwa Nkisi, Mutá Imê, destacou a mensagem que o grupo deseja passar durante o ato na Alba. Segundo ele, o ebó servirá também para chamar a atenção contra o genocídio do povo negro e a intolerância religiosa em Salvador. 

"É uma forma de alerta para a população baiana contra o fechamento de tantas escolas, pois a educação é a base para o ser humano. Mas, o protesto não é só contra esse processo de fechamento das escolas, é também contra o genocídio negro, a intolerância religiosa, que é um desrespeito absurdo, que vai de contra aos direitos dos negros e simpatizantes das religioes de matriz africana nessa cidade", pontuou.

O Tata disse ainda que a Frente Nacional Makota Valdina tem buscado dialogar com as lideranças da Alba, mas que tem encontrado dificuldades para discutir o assunto com os parlamentares. "Queremos discutir sobre essas questões porque o governo do estado se diz de esquerda, mas age dessa forma, fechando escolas, precisamos dialogar", completou.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier