'Há uma demora da Justiça pra resolver', diz pai de barbeiro preso por acusação de assalto

Polícia afirma que não pode dar informações sobre processo que apura irregularidades na prisão do jovem

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  • Wendel de Novais

Publicado em 24 de novembro de 2021 às 20:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

Há mais de dois meses, no dia 22 de setembro, o barbeiro Luan Bruno Barbosa Lopes, 23 anos, foi preso enquanto trabalhava, acusado de participar de um assalto no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Crime este que, segundo nota da Polícia Civil publicada no dia 27 do mesmo mês, o próprio Luan teria confessado no momento da prisão. A família contesta a nota e alega que o barbeiro teria sido espancado para isso. 

Pai do acusado, Gerson da Silva Lopes, 47, tentou fazer com que o filho respondesse em liberdade. No entanto, ele viu a prisão de Luan ser mantida pela Justiça na audiência de custódia e no momento em que negaram o pedido de habeas corpus e reclama de uma “lentidão” da Justiça no processo. "Estamos incomodados porque há uma demora da Justiça pra resolver uma situação que é simples. Existem crimes piores em nosso meio que as pessoas são liberadas para responder em liberdade no dia seguinte, mesmo com muitas evidências. Luan, com tudo dizendo que ele não fez, não teve esse direito", argumenta Gerson. Ainda de acordo com ele, Luan cumpre todas as exigências para responder o processo em liberdade e a justificativa para mantê-lo na cadeia não procede. "Segundo o delegado, ele vinha praticando vários assaltos no Rio Vermelho, mas não teve prova nenhuma disso.. Ele tem a ficha limpa, é réu primário, tem endereço fixo e trabalho. Todos requisitos para responder em liberdade", acrescenta.

Procurada para falar sobre o andamento da investigação, a Polícia Civil (PC) disse não poder dar qualquer informação relativa ao inquérito que apura possíveis irregularidades na prisão do barbeiro e uma ameaça que teria sido feita a Gerson por um agente da PC;

Localização do celular

Para Gerson, a demora no processo e a decisão de manter Luan na cadeia são ainda mais injustificáveis depois que prints com a localização do celular do barbeiro no momento do assalto foram entregues à polícia. "Nós puxamos a localização do celular dele e, em todo momento que eles disseram que Luan estava participando do assalto, a localização dele dá na barbearia e em casa. Isso porque daqui pra lá dá 100 metros de distância", afirma.  Print enviado à polícia com a localização do celular de Luan (Foto: Reprodução) De acordo com ele, a Justiça vem tomando decisões arbitrárias no caso e punindo alguém inocente por isso. "Dois meses que ele está preso injustamente! É triste acordar todos os dias e saber que tem um filho de um caráter exemplar que foi para a cadeia dessa forma, sem fazer nada para isso. Luan não tava assaltando ninguém, ele ficou em casa e na barbearia esse dia", conclui. 

Relembre o caso

Luan foi preso acusado de ter participado de um assalto a um restaurante no bairro do Rio Vermelho, no dia 22 de setembro. Em documento sobre o caso, a polícia diz que o barbeiro admitiu ter participado de um assalto. Ele foi preso em flagrante e levado para a 7ª Delegacia, acompanhado por familiares e advogados.

"Um revólver calibre 38 e pertences das vítimas foram apreendidos com ele, que confessou o envolvimento no crime e foi autuado por roubo. Após ser submetido a exame de lesões corporais, o homem foi encaminhado para audiência de custódia, onde teve o flagrante convertido em prisão preventiva e permanece à disposição da Justiça", diz o documento da polícia. 

A família contestou a versão dos policiais. Segundo uma familiar do jovem identificada como Luciana Barbosa, ele estava almoçando no dia do crime quando foi chamado por um cliente para fazer um corte de cabelo. "Ele largou o prato de comida e foi abrir a barbearia para cortar o cabelo do cliente. Quando chegou lá, a polícia pegou ele e levou. Disse que ele roubou e ele negou", declarou em entrevista à TV Bahia.

O pai do jovem também afirmou que o filho foi agredido na delegacia e forçado a confessar um crime que não cometeu. "As pessoas conduziram ele para a delegacia e, chegando lá, espancaram ele para poder ele dizer que tinha participado do assalto. A família espera justiça", disse na época.

Familiares de Luan chegaram a fazer protesto na Av. Juracy Magalhães pedindo a soltura do barbeiro e até protocolaram um pedido de habeas corpus para a liberação do jovem, que está em custódia há mais de um mês.

Denúncia de intimidação

Além de alegar que o seu filho, o barbeiro Luan Bruno Barbosa Lopes, 23 anos, foi espancado para confessar participação em um assalto no bairro do Rio Vermelho, o comerciário Gerson da Silva Lopes, 47, fez mais acusações contra agentes da polícia que realizaram a prisão de Luan. 

Segundo ele, no dia em que foi até a delegacia após a prisão do barbeiro, um agente teria o ameaçado de “maneira grosseira”, tentando coagi-lo para não ir até a Corregedoria da Polícia Civil com denúncias contra os policiais que prenderam seu filho. 

Gerson conta que o policial mentiu o nome e começou com as ameaças quando o viu defendendo a inocência de Luan e afirmando que o jovem teria sido obrigado a confessar. "Ele disse pra mim que o nome era Paulo, mas, na verdade, descobri que se chamava Júlio. Na hora que eu estava na delegacia, ele falou: 'se você for na corregedoria, o assunto vai ser pessoal, você vai ter um inimigo'. Disse isso em alto e bom tom", lembra o comerciário.

Procurada, a Polícia Civil afirmou ter conhecimento do caso e que está averiguando a procedência das acusações. “A Corregedoria da Polícia Civil já concluiu uma investigação preliminar a respeito de uma denúncia feita por um homem contra um investigador da instituição. Por constatar-se a necessidade de uma apuração mais aprofundada, foi instaurado um inquérito para averiguar a procedência ou não das informações”, diz a nota.

Ainda de acordo com Gerson, a intimidação não parou com a ameaça e o agente insinuou que ele é que deveria ter apanhado no lugar do filho. "Esse agente queria que eu confirmasse que Luan tinha participado do assalto, quando não foi o que aconteceu. Disse também que eu estava fabricando vagabundo e até que quem deveria ter apanhado era eu e não Luan”, afirma ele, ressaltando que a atitude aconteceu com a conivência do delegado que estava no local. 

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo