Herbem Gramacho: Eu não queria ser machista, mas fui

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

Publicado em 20 de julho de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

Guto Ferreira ganhou os holofotes da crítica esportiva por causa da atitude machista que teve com a repórter Kelly Costa, da TV RBS, de Porto Alegre, após a vitória apertada e polêmica do Internacional sobre o Luverdense por 1x0. Na entrevista coletiva pós-jogo, o técnico do Inter iniciou uma resposta dizendo a Kelly: “Não vou fazer essa pergunta pra você porque você é mulher e de repente não jogou (futebol)”.

Redundante afirmar que se trata de uma afirmativa machista, o que foi prontamente reconhecido e repetido pelo ex-treinador do Bahia ontem, ao longo do dia. Guto pediu desculpa à jornalista ainda no estádio, depois, via Facebook, e também pediu para participar por Skype do programa Redação, do Sportv, para que tivesse a oportunidade de se desculpar em rede nacional com Kelly e todas as mulheres. Era a atitude correta a se fazer após o erro.

E aqui peço licença para me solidarizar não só com Kelly, mas também com Guto. Sim, com Guto e, por favor, não atirem pedras nem pré-julguem que estou parabenizando o agressor. Não é isso. É que o caso protagonizado por ele é emblemático do quanto é difícil não escorregar em atitudes machistas, mesmo não partilhando desse modo de pensar e tentando não ser machista - para homens, mais ainda, apesar do traço cultural estar enraizado também nas mulheres. Os repetidos pedidos de desculpas do treinador, por variadas fontes, reforçam o quanto aquele erro cometido o incomodou.

Arrisco dizer que o exemplar masculino da polêmica não é um ser machista. Ou, pelo menos, pretende não ser. Guto Ferreira trabalhou no Bahia durante 11 meses e, entre virtudes e defeitos, sempre se revelou um profissional respeitoso e sensato com todos, inclusive nos momentos de crítica e pressão. 

Por isso mesmo o caso é emblemático. Como Guto explicou depois, ele pretendia falar para a repórter se colocar no lugar dos jogadores do Internacional, que têm apresentado dificuldade para fazer gols – este foi o mote da pergunta. Mas no automático ele pensou: se mulher, logo não jogou futebol, então não tem como se colocar no lugar deles. Baseado em quê? No pensamento machista de que só homens jogam futebol, o que já não é tão verdade há uma ou duas gerações. E em outro errado pensamento de que é preciso ter jogado futebol em algum momento da vida para entender do assunto – ajuda, mas não é fundamental. Mesmo sem ser do seu feitio, Guto foi desrespeitoso e preconceituoso com Kelly apenas pelo fato dela ser mulher. 

Essa e outras atitudes machistas são cometidas diariamente e precisam ser lembradas para que coloquemos o dedo na ferida antes de passar para a próxima página. Fica de aprendizado para Guto e para todos que não têm o machismo impregnado no caráter, mas também deslizam por ele sem querer ou perceber.

A propósito, você sabia que hoje é a final do Campeonato Brasileiro? A maioria provavelmente não, pois torce por times do futebol masculino e não se interessa por futebol feminino, vôlei, basquete, natação ou atletismo - inclusive, o futebol feminino chegou a ser proibido no Brasil, por decreto, até a década de 1970. 

Aqui na redação, a maioria, entre homens e mulheres, também não sabia da final entre Corinthians e Santos, hoje, às 18h, que o Sportv transmitirá. E, quando soube, continuou achando desimportante. Falando nisso, você observou o espaço que a imprensa, em geral, (não) deu ao Brasileirão feminino? Aproveito, como editor, para pedir desculpa às mulheres e aos leitores de ambos os gêneros. Eu não queria ser machista, mas fui.Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.