Hipocrisia na escola: Deus perdoa tudo. Não é isso que a escola ensina?

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  • Malu Fontes

Publicado em 27 de agosto de 2018 às 05:55

- Atualizado há um ano

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Várias pessoas em Salvador, e, a essa altura, de outros cantos do país, vêm recebendo, pelo celular, um vídeo em que sete adolescentes, alguns com a farda de uma escola religiosa, beijam-se entre si. Todos beijam todos na boca e uma ou duas colegas filmam, com um celular. Há beijos entre meninos e meninas, entre meninos, entre meninas e beijos coletivos, entre três, entre quatro, simultâneos entre o grupo.

 A cena acontece num fast-food do bairro da escola. Pela risadaria e pelas orientações em tom de zombaria dadas por quem filma, tudo parece ter sido uma brincadeira, um desafio proposto ao grupo. Ao final, uma menina convida para uma festa, que, tudo indica, parece ser da escola. Inicialmente, circulou apenas o vídeo, sem texto. Não se sabia onde era a cena, de que escola era a farda (exceto para quem fosse da instituição e a reconhecesse). Depois, começaram a circular o mesmo vídeo e um print, de um texto supostamente enviado pela escola para os pais de alunos.

Inferno Ao receber o primeiro vídeo, me perguntei por um instante por que estavam compartilhando aquelas imagens. Compartilhavam por má-fé, em nome do moralismo hipócrita contra os filhos dos outros, por ignorância, ou por inocência mesmo? Por quê, para quê, estavam enviando as imagens daqueles jovens, todos nitidamente com muito menos de 18 anos? Era para exibi-los e linchá-los como imorais? Era para, em tempos em que o conservadorismo de uma extrema-direita medieval quer a todos punir e está a um passo de cobrar castidade e abstinência sexual dos jovens, colocar gasolina no palheiro?

Distribuíam aquilo para anunciar ao mundo que o apocalipse chegou e que os jovens estão nas trevas da obscenidade? Nas imagens, eles próprios dizem: “vai todo mundo para o inferno” [por conta do beijaço grupal]. Certamente aprenderam na escola que comportamentos como aquele levam a um destino certo: o inferno, esse lugar mítico onde a religião exila os pecadores.

Crase com cristo Tomara que o print anunciando punição, expulsão dos alunos e processo judicial, divulgado como sendo um texto da escola, seja desmentido. Não é possível que aquilo tenha sido escrito por uma escola e por educadores. Primeiro: os erros de português, em pouco menos de dois parágrafos, causam vergonha alheia. Usam crase com Cristo e outra antes de um nós, e ainda com o sinal gráfico invertido. Vê no lugar de ver. Se uma escola não sabe usar o próprio idioma, imagine SE sabe educar jovens para lidar com registro e compartilhamento de imagens em tempos de redes sociais.  “A escola não perdoa”.  Está lá. Só em ler isso a gente já toma o partido dos jovens. Deus perdoa tudo. Não é isso que a escola ensina?

Diante do termo “inadmissível”, perguntar não ofende: é inadmissível jovens beijando-se em grupo ou terem feito isso de farda? É inadmissível porque foi na rua ou pelo fato de a cena ter sido registrada e se tornado pública? E vão processar os pais por que mesmo? Se os pais lembrarem que a escola não está lidando com invertebrados, quem receberá o processo será a instituição, por expulsar aluno, por punir ao invés de acolher, por atirá-los aos abutres para execração pública.

Castigo Ah, mas a escola é cristã e educa para servir á (sic) Cristo. Mas Cristo deu a Zuckerberg, Jobs e Gates muita inteligência, chegamos aos gadgets e às redes, e a escola, ao invés de expulsar jovens, deveria agir de forma cristã, acolhê-los ao invés de criminalizá-los, e educá-los para esse mundão, que não é só de meu Deus. Expulsá-los e processar seus pais é hipocrisia. Se aquele texto é real, que tal colocar de castigo o redator da mensagem aos pais, por ser educador e não saber usar a língua? Seria justo.