Historiador Jaime Sodré morre em Salvador aos 73 anos

Doutor em História da Cultura Negra, ele era referência na área

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  • Da Redação

Publicado em 6 de agosto de 2020 às 14:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/TV Bahia

O historiador e professor Jaime Sodré morreu nesta quinta-feira (6), aos 73 anos, em Salvador. Ainda não há informação do que causou a morte de Sodré, que era doutor em HIstória da Cultura Negra e referência na área. Também estudava as Religiões de Matriz Africana. Monica Silva, uma amiga da família que estava na casa de Sodré pela tarde, confirmou a morte do historiador. A suspeita é que ele tenha morrido de infarto.

Sodré era professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), antigo Cefet.

Leia mais: Amigos e autoridades lamentam a morte de Jaime Sodré: 'Ícone cultural nacional'

A morte de Sodré acontece apenas três dias após a perda de outra referência para a educação na Bahia, o professor Jorge Portugal, ex-secretário de Cultura do estado, que morreu na segunda (3) por conta de um problema cardíaco.

Jaime Santana Sodré Pereira nasceu em 19 de fevereiro de 1947 em Salvador. Ele se formou em Desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba) em 1975.

Fez ainda mestrado em Teoria e História da Arte, apresentando trabalho sobre a influência da religião afro-brasileira na obra de esculturas de Mestre Didi.

Entre 1995 e 2011, Sodré publicou diversos artigos sobre a Cultura Negra, como a antologia Literatura e Afrodescendência no Brasil, e o livro Da Diabolização à Divinização: A Criação do Senso Comum, publicado pela editora Edufba.

Durante toda a sua carreira acadêmica, ganhou diversos prêmios, como o troféu Caboclo da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (2005), e o 2º lugar no Prêmio Funarte (2003), além de homenagens, como a medalha Zumbi dos Palmares, da Câmara Municipal de Salvador. Sodré também fez parte do Conselho do Olodum, entre o final da década de 1990 e o ano 2000.

Homenagens Presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM), Fernando Guerreiro lamentou a perda. "Professor Jaime sempre deu aulas de vida. Com um conhecimento ancestral, levava tudo com uma leveza e generosidade que encantava. Não tenho mais palavras, só emoção de perder um grande amigo e conselheiro, gênio da raça", afirmou, em nota.

A deputada estadual Olívia Santana também comentou. "Acabo de receber a noticia da morte do professor e historiador, Jaime Sodré, meu amigo e ex-vizinho. Mais uma terrível perda para a luta antirracista e para todo o povo baiano. Momento de muita dor. Que ano difícil", escreveu ela, nas redes sociais.

Muito emocionada, a jornalista e doutora em antropologia Cleidiana Ramos contou ao CORREIO que considerava Sodré um pai. "O professor Jaime Sodré foi um dos grandes intelectuais que eu conheci. A nossa relação de fonte e repórter virou para uma grande amizade passei a considerá-lo um padrinho. Gentil, com uma sensibilidade inigualável para a arte, pois era compositor, artista plástico, escritor. Era xicarangoma, sacerdote músico, do Tanuri. Junsara e oloê, uma espécie de conselheiro do Bogum. Tinha um verdadeiro amor pela sua religião, o candomblé, e um ativista contra o racismo e a intolerância religiosa pela via da educação. É uma perda inigulável", lamentou.

Doutor em Sociologia (USP) e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), o professor Fábio Nogueira publicou uma homenagem ao educador: "Lamento a perda desse ícone cultural nacional, um verdadeiro acervo intelectual para nós. Meus sentimentos aos familiares e amigos".

Amiga de Jaime Sodré, a diretora baiana Fabiola Aquino publicou uma homenagem. "São dias tristes por sucessivas e dolorosas perdas de nossos importantíssimos griôs, intelectuais e pensadores negros que nos deram lastro e norte para melhor compreender o mundo repleto de contradições e coisas belas. Exemplos de uma luta que esta longe de cessar. Hoje partiu para o Orun Mestre Jaime Sodré, fonte de grande inspiração na tessitura da montagem de "Àkàrà no fogo da intolerância", um dos cantos digitais onde o nosso amigo Jaime viverá para sempre, entre nossos corações e os frames do documentário. Que sejamos capazes de honrar todo extenso e valoroso legado que construiu e avançarmos, JUNTOS, na luta pela cultura da paz promovendo o diálogo inter-religioso. Descanse em paz bom amigo", escreveu.

Jaime Sodré foi personagem no documentário “Àkàrà no fogo da intolerância”, lançado em junho/2020, que teve produção executiva de Fabiola.

Ex-repórter do CORREIO, a diretora e roteirista Julia Ferreira escreveu uma homenagem ao professor. "Conheci o querido Jaime Sodré há uns 15 anos, como repórter do jornal Correio*. Eu estava descobrindo a força do candomblé, e ficamos horas conversando sobre isso. Nos tornamos amigos imediatamente. Jaime tinha um lado místico muito forte, era um leitor de almas. Enxergava as pessoas por dentro. Com ele, aprendi a desenvolver e confiar na minha intuição. Acabei indo morar fora, mas seus ensinamentos permaneceram. Essa é uma perda inestimável para mim, para a Bahia, pois Jaime era um pensador brilhante. Triste! Mas certeza que onde ele está, está num bom lugar. Era uma alma linda", publicou nas redes sociais.

O governador Rui Costa (PT) também lamentou a grande perda e fez uma homenagem nas redes sociais. Confira.