Homem que deu golpe de R$ 80 milhões responde a 21 processos na Justiça

Ele é natural de Santa Catarina e estava em Salvador há 9 meses

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  • Gil Santos

Publicado em 13 de setembro de 2018 às 15:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/ CORREIO

O estelionatário catarinense Jean Pierre Loz, 43 anos, preso em Salvador nesta terça-feira (11), acusado de fraudes que ultrapassam R$ 80 milhões, responde a 21 processos nas comarcas de oito municípios do seu estado natal. As informações são do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. A maioria trata de estelionato e uso de documentos falsos - alguns não são criminais.

Ele era procurado pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) e foi preso na noite desta terça, em um apartamento no Parque Bela Vista, em Salvador. Jean Pierre estava vivendo na capital baiana há nove meses e foi localizado após a polícia baiana receber uma denúncia anônima.

Segundo o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), ele tem seis processos apenas na cidade de Balneário Camboriú, três deles não são criminosos, dois são por passar cheques sem fundos e o outro reúne um conjunto de crimes que somam 17 anos, oito meses e 10 dias de prisão. Esse último foi julgado em outubro de 2014, condenando Jean Pierre.

Já em Itajaí são cinco processos penais sobre crimes praticados em 2008, 2010 e 2011. Ele também é acusado de cometer delitos em Chapecó, Canoinhas, Lebon Régis, Joaçaba e Papanduva. Na capital Florianópolis, o único caso investigado trata do uso de documentos falsos, o que demonstra que Jean Pierre prefere agir no interior do estado.

Além das 21 ações das comarcas catarinenses, ele responde também a um processo na segunda instância do TJ-SC por formação de quadrilha, furto qualificado e lavagem de dinheiro. A matéria está em fase de apelação.

A assessoria do TJ-SC não soube informar quais foram as penas de Itajaí, mas o próprio Jean Pierre disse em entrevista que foi condenado a 40 anos de prisão até o momento. Jean Pierre estava calmo durante a entrevista (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) Golpes Além de Santa Catarina, Jean Pierre agia também em outros estados, sempre pela web. Ele contou que enviava e-mails 'infectados' para funcionários de bancos e de órgãos públicos e quando as vítimas abriam, ele tinha acesso ao computador, login e senhas das contas.

O dinheiro era transferido para contas de fachada, chamadas 'laranjas', em diversos bancos, e depois sacado. O estelionatário sempre escolhia contas públicas porque, segundo ele, roubar pessoas físicas não compensava.

O primeiro golpe foi dado em 1999. A vítima foi o Banco do Paraná. Jean Pierre contou que conseguiu desviar R$ 50 mil das contas correntes do governo. Outra ação notável aconteceu em agosto de 2003, quando o pagamento dos servidores do município de Santa Helena, no interior do Paraná, desapareceu das contas. Um montante de R$ 900 mil.

O golpe mais rentável foi dado contra a companhia que tratava do saneamento de Recife, em Pernambuco. Com a ajuda de outras 15 pessoas, Jean Pierre conseguiu transferir R$ 80 milhões. Na época, a quadrilha foi presa. Documentos falsos foram encontrados no imóvel (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Procurado Jean Pierre estava preso no Complexo Penitenciário do Vale do Itajaí, em Canhanduba, Santa Catarina, quando recebeu o direito à saída temporária de Natal e Ano Novo. Era dezembro de 2013. Ele saiu e nunca mais voltou. Desde então, estava vivendo no Uruguai.

Depois que a Polícia Federal incluiu o nome dele na Interpol, Jean Pierre ficou com medo de ser preso no exterior e resolveu retornar para o Brasil. Ele contou que escolheu Salvador por ser uma cidade grande e distante do Sul.  

O estelionatário disse em depoimento para os investigadores da 16ª Delegacia (Pituba), responsáveis pela prisão, que não aplicou golpes em Salvador e que estava vivendo na capital com o dinheiro que acumulou, mas não informou qual o montante.

Quando perguntado se estava arrependido, Jean Pierre disse que ‘não’. “Fui preso mais de 20 vezes e liberado. Eles (polícia) sabiam que eu estava roubando, mas não conseguiam provar porque as leis na internet quase não existiam naquela época. Não me arrependo de roubar o governo”, afirmou, durante entrevista na quarta (12).

Natural de Blumenau (SC), onde também responde a um processo na Polícia Federal, Jean Pierre é formado em Ciências da Computação, divorciado e pai de duas filhas. Ele foi preso com documentos falsos e, por isso, será indiciado pela polícia baiana por falsificação de documentos. A polícia ainda não decidiu quando ele será transferido para Santa Catarina.