Homenageados em parque, dinossauros nunca foram encontrados na Bahia

Fatores geográficos e econômicos explicam falta de fósseis

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Moura
  • Gabriel Moura

Publicado em 8 de janeiro de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho / CORREIO

Ao entrar na Lagoa dos Frades e se deparar com as esculturas de dinossauros gigantescas não é difícil fazer uma viagem no tempo e se imaginar naquele lugar há centenas de milhões de anos, só que com as feras de verdade. Mas quem apostar na Bahia para realizar um safári jurássico só poderá fazê-lo na imaginação, já que até hoje jamais foi encontrada prova de que os dinos habitaram o estado.

Claro que isso não significa que um Aeolosaurus jamais tenha subido um morro qualquer e parado onde hoje seria Brotas, ou um Triunfosaurus tenha parado para fazer uma boquinha no lugar em que hoje funciona o Feiraguay. Paleontólogos ouvidos pelo CORREIO apontam dois indícios que reforçam a tese de que pode ter existido um "Baianossauro".

Pense num pterossauro

A primeira pista é um dente de pterossauro - que não é um dinossauro, mas viveu na mesma época - encontrado em Salvador por volta do ano 1700. A segunda é que fósseis - qualquer registro de um animal, como parte do corpo ou pegada -, já foram encontrados em estados como Ceará, Pernambuco e Minas Gerais, o que pode indicar que em algum momento provavelmente eles cruzaram a fronteira. Pterossauros foram aves gigantes que viveram no mesmo período dos dinossauros (Foto: Divulgação)

Mas cadê os dinos?

Para encontrar os jurássicos é preciso entender primeiro onde e quando eles viveram. Os gigantes habitaram a Terra por cerca de 170 milhões de anos - de 230 a 60 milhões de anos atrás -, mas Cristiana de Cerqueira Santana, professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), diz que eles provavelmente viveram na segunda metade do Cretáceo, entre 145 e 65 milhões de anos atrás.“Antes disso a Bahia estava no centro de um supercontinente chamado Gondwana, que englobava o que hoje é América do Sul, África, Antártida, Índia, Madagascar e Oceania. Ou seja: aqui era um enorme deserto inabitável, sem fontes de água e alimento. Só com a separação da América do Sul com a África que, ocorrida cerca de 100 milhões de anos atrás, que essa área tornou-se habitável para grandes animais, como os dinossauros”, explica a professora.Mas ainda assim não seria toda a Bahia que poderia ter o privilégio de receber esses visitantes. Enquanto no litoral, principalmente Recôncavo, formaram-se florestas com rios e lagos, boa parte do interior adquiriu uma paisagem semelhante aos Lençóis Maranhenses, com grandes montanhas de areia. Ponto vermelho indica onde ficava Salvador há 150 e 120 milhões de anos atrás, quando começou a separação (Foto: Reprodução) E por que não acham, Charlene?

Mesmo tendo uma boa noção de onde poderiam ser encontrados os fósseis, alguns obstáculos nos separam de ter um dino pra chamar de nosso. O primeiro é, claro, a falta de investimento na área. Não há paleontólogos especializado em dinossauros no estado. Os que vieram de fora estuda outros animais ou a vegetação, enquanto os nativos se dedicam principalmente à megafauna e a grandes mamíferos, cujos registros são abundantes.

“Seria muito caro financiar uma busca por fósseis de dinossauros, pois seria algo partindo do zero. E, infelizmente, não há quem financie isso por aqui. Então os cientistas daqui preferem focar em áreas que eles terão como pesquisar, por serem mais abundantes e já haver literatura sobre”, explica Simone Moraes, professora de paleontologia da UFBA. Dinossauros em parque viraram meme na internet (Foto: Reprodução) Além disso, outros fatores atrapalham os candidatos a “Ross baiano”: primeiro que o local mais provável de se encontrar registros, o Recôncavo, é o mais populoso. Então muito do que poderia ser achado está embaixo de casas e prédios neste momento. Também joga contra o fato de que ossos de aves, como os dinossauros, são frágeis e nosso solo não consegue preservá-los bem.

Baianossauros

Mas de uma coisa podemos ter certeza, nenhum dos dinossauros presentes nas esculturas da Lagoa, no Stiep, habitou a Bahia, ou sequer o Brasil. Os tiranossauros, o assustador T-Rex, habitavam as terras que hoje são os Estados Unidos, a Ásia e Canadá. Já os velociraptors eram mais comuns na Mongólia, enquanto o braquiossauro era nativo da Europa e África, além da América do Norte.Veja mais: Há risco de nevar em Salvador? Veja explicação meteorológica Vídeo: Meteoro é visto em várias cidades da Bahia Em terras tupiniquins foram encontradas, ao menos, 27 espécies. Alguns desses provavelmente pisaram em solo baiano, como o angaturama limai, que teve fósseis encontrados no Ceará e em Pernambuco; o gigante de 20 metros maxakalissauro, descoberto em Minas Gerais; e o também enorme titanossauro, conhecido como pescoçudo, também foi achado no interior da Paraíba. Todos esses viveram no período cretáceo. Apelidado de 'protetor do sertão', angarutama tinha 6 metros e se alimentava de peixes (Foto: Divulgação) Poço de piche

Os dinossauros sumiram do planeta mais ou menos 65 milhões de anos atrás. Hoje a teoria mais aceita é de que a extinção foi causada por um meteoro gigante, com aproxidamente 10km de diâmetro, que caiu no México causou o evento cataclísmico.

Além das mortes causadas pelo impacto, a queda também levantou uma enorme nuvem de poeira que cobriu o planeta inteiro por séculos, impedindo a entrada da luz do sol. Com isso, não só os dinossauros, mas boa parte da vida no planeta foi dizimada.

Corroboram para essa teoria a descoberta feita em 1990 de uma cratera de 180km no México que teria sido aberta há 65 milhões de anos, mesma época da extinção, além da descoberta de uma grande concentração de irídio em rochas do período Cretáceo. Este mineral é muito raro na Terra, mas comum em meteoritos.

E se algum dino sobrou para contar história aqui na Bahia, ele pode ter sido finalizado pelo meteorito de Bendegó, o maior do Brasil, descoberto aqui no estado, em 1784, em Monte Santo.

Com orientação do editor Wladmir Pinheiro