Homofobia: aluno é agredido e ameaçado de morte em ônibus escolar em Camaçari

Jovem foi atacado por outros sete adolescentes

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  • Da Redação

Publicado em 2 de março de 2022 às 10:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Camaçari Notícias

Muitos murros na região da nuca, chutes nas pernas e no tórax e muita dor, física e emocional. São essas as marcas do pesadelo vivido por um estudante de 15 anos, agredido no ônibus escolar por outros sete adolescentes durante um ataque motivado por homofobia na última sexta-feira (25). De prenome André, o jovem retornava de mais um dia de aula no Colégio Estadual José Freitas Mascarenhas, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador (RMS), cidade onde mora, quando sentiu os costumeiros xingamentos e palavras depreciativas se transformarem em agressão física e ameaça de morte.

Durante as agressões, uma colega, que estava próxima a André, também foi atingida por um soco na região dos olhos. 

Ao CORREIO, a mãe do jovem, Mara Santana, conta que, passado esses primeiros dias, ele está bastante abalado psicologicamente e continua sentido dores no corpo. André foi levado mais de uma vez à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) local, tendo sido medicado para alívio das dores. Mara reclama o fato de o filho não ter sido submetido a nenhum exame de avaliação de danos mais severos. 

Também abalada, ela diz que no dia das agressões o filho foi acolhido pela mãe da colega também atingida. “Ela colocou meu filho dentro de casa para proteger, mas um deles [dos agressores] continuou ameaçando, disse ‘pode segurar ele aí, mas eu vou matar ele’”. 

“Meu filho está aqui com o psicológico abalado. Tomou muitos murros na região da nuca, chutes nas pernas, no tórax. Está aqui sentindo dores. Já levei para o hospital, duas vezes na UPA, mas só passa paliativo. Teria que fazer um exame mais preciso para ver se atingiu alguma coisa”. 

Escalada de violência Mara relata que até a última sexta-feira, André nunca havia contato em casa o que vivia no ambiente estudantil, principalmente no ônibus, mas que as agressões físicas o obrigaram a romper o silêncio. “Ele não contava porque tinha medo. Mas depois me falou que já tinha acontecido outras vezes situações de bullying, xingamentos, mas porrada era a primeira”. André é aluno do 1° ano do curso profissionalizante de Segurança do Trabalho. 

“Ele está com o psicológico abalado, chorando toda hora, dizendo que não aguenta. Ele fica olhando o vídeo e dizendo ‘que covardia foi essa e eu não pude fazer nada’. Foram sete em cima dele, realmente não podia fazer nada. Ele é um menino que já tem os problemas dele. Ele é paciente do Caps. Segundo o psiquiatra ele é hiperativo”. 

Apesar do diagnóstico inicial, o jovem está com as consultas regulares interrompidas. Segundo Mara, ela deixou de leva-lo há cerca de um ano ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) por conta dos custos de deslocamento. André também interrompeu o uso de medicação já prescrita. 

A Secretaria Estadual de Educação confirmou a ocorrência das agressões. De acordo com a pasta, o transporte escolar é realizado pelo município em regime de colaboração com o Estado, fazendo o atendimento de estudantes das redes municipal e estadual.  

Acrescenta que a gestão escolar identificou um dos agressores como estudante do colégio. A família da vítima e o Conselho Tutelar também foram acionados, diz a pasta em nota ao CORREIO.

“A SEC já designou um psicólogo para toda a assistência necessária ao estudante e à família. Ressalta-se que as ações pedagógicas orientadas pela SEC contemplam a Educação para as relações de gênero e sexualidade, inclusive na perspectiva de combate a qualquer forma de preconceito e intolerância. A SEC destaca, ainda, que já dialogou com a Secretaria Municipal de Educação de Camaçari para acompanhamento do caso.”

A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) também publicou em sua página oficial uma nota de repúdio. Destacam que “a violência registrada no vídeo é sintoma do ódio que tem crescido no Brasil nos últimos anos e, mais gravemente, tem tirado vidas de jovens e adultos LGBTQIA+ em todo o país”. 

Na publicação, a pasta informa que por meio do Centro de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT da Bahia (CPDD-LGBT), a SJDHDS colocou a equipe jurídica e psicossocial à disposição do estudante e sua família para acompanhar e orientar em relação ao caso e às providências cabíveis. 

Na tarde desta quarta-feira (2), a mãe da vítima, acompanhada pela direção e coordenação da unidade escolar, prestou queixa à delegacia. De acordo com nota da Polícia Civil, a ocorrência foi registrada na 18ª Delegacia Territorial (DT) Camaçari, onde foi relatado que a vítima foi agredida por um grupo de sete garotos, que também proferiram ofensas ao adolescente. A unidade expediu a guia de lesões corporais e vai iniciar a apuração do caso.

*O ato violento foi registrado em vídeo, no entanto, por envolver menores de idade, a reportagem do Correio decidiu não republicar.