Igreja da Conceição foi montada em Salvador; blocos de pedra têm marcações

Pedras de lioz foram trazidas de Portugal para serem montadas em forma de igreja na capital

Publicado em 19 de dezembro de 2020 às 10:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

O caminho até as duas torres que abrigam os sinos da Basílica da Conceição da Praia é impressionante. São blocos de pedra perfeitamente encaixados e depois fixados com chumbo, do piso até o mirante. Não é que esse tipo de construção seja tão diferente assim de outras obras da época – a igreja foi erguida entre os séculos XVIII e XIX. O que diferencia a Conceição da Praia é que a igreja foi encomendada e ‘produzida’ inteira em Portugal. Os imensos blocos de pedras de lioz foram trazidos em navios e a igreja, então, foi inteiramente montada aqui.

Na parte externa e interna, não é possível ver marcações, embora as pedras tenham tons visivelmente diferentes. Mas nas estreitas escadarias que passam por dentro da igreja e levam até o topo das torres, algumas letras e números indicam uma possível orientação de montagem.

Próximo a uma das janelas da torre esquerda há um ‘G’ entalhado na pedra. Nos pequenos ‘quartos’, encontramos um ‘X’, uma marca triangular’ e um ‘C’. Já no topo da torre direita, um ‘A’ perfeitamente entalhado. E ainda uma marcação cortada que se assemelha a um ‘27’. Do lado direito de uma das janelas que ficam no meio da escadaria em espiral de acesso à torre há uma letra 'G' entalhada num bloco de pedra (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Quem percebeu os entalhes foi o historiador Rafael Dantas, que acredita que eles sejam uma espécie de marcação para mostrar como as pedras deveriam ser encaixadas.  “Eu acredito que essas marcações são visíveis só nas escadarias porque as pessoas não tinham acesso a elas. Essas mesmas marcas podem estar lá dentro entre um bloco e outro. Podem ser marcas indicando a montagem ou sinais das pedreiras”, afirma.[[galeria]]

Esses sinais estão nas pedras usadas para montar a igreja conhecida hoje. No fundo da Basílica encontra-se preservada a segunda capela, do início do século XVIII. A anterior, de taipa, não existe mais. Foi a primeira a ser construída, a mando de Tomé de Sousa, no século XVI, quando trouxe uma imagem da Conceição. “Chama Conceição da Praia porque aqui era uma montanha e a água batia aqui”, conta José Gonçalves, gerente de manutenção da igreja. Capela da Conceição erguida no início do século XVIII é anterior à Basílica que conhecemos hoje; ela encontra-se preservada e pode ser acessada pela igreja atual (Foto: Nara Gentil/CORREIO) A imponência da atual Basílica e o número de sinos remetem ao poder. “A Freguesia da Conceição era uma das mais importantes da cidade. A Irmandade era poderosa demais e a igreja estava localizada em uma posição estratégica, entre o Comércio, a Cidade Baixa e a Alta”, explica Rafael. Quem chegava a Salvador passava por lá, inclusive a Família Real.