Igreja de Nossa Senhora da Saúde e Glória é entregue após nove anos de obras

Templo já foi cenário da minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1998, e agora deve ser inserido no roteiro do turismo religioso

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 9 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Fróes

Demorou, mas a glória finalmente voltou para a Igreja de Nossa Senhora da Saúde e Glória. Totalmente restaurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e  Artístico Nacional (Iphan), após nove anos de obras, o templo religioso, um dos mais antigos da Bahia, foi entregue nesta segunda-feira (8) com as características típicas das igrejas de Salvador: grandiosidade, riqueza de detalhes, diversidade de imagens e figuras sacras e um forte apelo ao turismo religioso. 

“Ainda não está no roteiro religioso, mas eu creio que em pouco tempo a Pastoral do Turismo vai incluí-la”, profetiza o padre Valson Sandes, responsável pela igreja. Para Fabio Mota, secretário de Cultura e Turismo de Salvador, essa inserção já é uma realidade. “Nesse exato momento, a gente está fazendo a roteirização, a sinalização turística, estamos montando toda uma programação”, confessa.  

Tanto Fabio como o padre Valson estiveram na cerimônia de reabertura da igreja, que teve ainda a presença do Prefeito Bruno Reis, dos ministros da Cidadania, João Roma, e Turismo, Gilson Machado e do secretário de Turismo da Bahia, Mauricio Bacellar. Todos foram unânimes em falar sobre a importância turística dessa igreja, que, em 1998, foi cenário das gravações da minissérie Dona Flor e seus dois maridos, inspirada na obra de Jorge Amado.   A reforma da igreja custou  R$ 8 milhões  (Foto: Paula Fróes) "É lógico que recuperar uma igreja dessa é para atender aos fiéis, mas também tem a função de estimular o turismo religioso, gerar emprego e renda, algo que ainda não conseguimos potencializar na cidade por causa da pandemia, apesar da canonização de Santa Dulce em 2019”, disse o prefeito Bruno Reis, que aproveitou a cerimônia para assinar a ordem de serviço para execução das obras de requalificação do largo da Saúde, que fica ao redor da igreja.  

"Reformar igrejas é lembrar que estes espaços são detentores de um grande patrimônio. Não se trata de religião. O que mais impressiona numa entrega de restauro como esta é o caráter intangível, lembrando que um dia a sociedade se mobilizou pela fé para construir estes espaços", recordou o ministro da Cidadania, João Roma. Já o colega do Turismo, Gilson Machado Neto, reforçou o trabalho exercido pela pasta.  

“Essa igreja é um monumento belíssimo. Foram em torno de R$ 8 milhões investidos aqui dos quase R$ 25 milhões aplicados na Bahia em reformas do Iphan em igrejas, o que agrega valor histórico, cultural e ao turismo religioso”, relatou. A intervenção é fruto do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC Cidades Históricas). 

Igreja foi construída em agradecimento pelo fim de uma epidemia  No total, as obras de requalificação da igreja duraram nove anos, tempo em que ela ficou fechada. “Em 2012, ela já tinha muitos sinais de degradação. Foi feita uma primeira intervenção no telhado, mas percebeu-se que o altar principal poderia desabar, o que necessitou mais obras”, lembra o padre Valson. Apesar da demora, a entrega neste momento tem um peso simbólico. É que a igreja foi construída, em 1723, como agradecimento pelo fim da Grande Peste de Marselha de 1720, uma epidemia que matou cerca de 100 mil pessoas no mundo, inclusive em Portugal, país a qual o Brasil fazia parte, na época.  

Por isso que o templo recebe o título de Nossa Senhora da Saúde e Glória. “Nesse tempo de fim de pandemia, a entrega dessa obra é fundamental. Nós recorremos a mãe de Deus para que o mais breve possível a dor e a lagrima seja extirpada dos nossos olhos”, classifica o padre Valson, que era só alegria com a paróquia. Além do telhado e do altar, a reforma contemplou restauro integral do edifício e dos elementos artísticos, pinturas e imagens de arte sacra, além de adequação às normas de acessibilidade universal.  

O projeto buscou oferecer mais segurança e conforto aos fiéis e visitantes, além de recuperar características originais e exaltar o valor histórico do templo na capital baiana. Também foram realizados serviços de infraestrutura elétrica e hidrossanitária, criação de plataforma elevatória para acessibilidade, e construção de um novo anexo com o objetivo de alocar atividades de apoio e potencializar ações sociais da paróquia.  

De acordo com o historiador Rafael Dantas, o surgimento dessa igreja condicionou a ocupação urbana à sua volta, dando origem do bairro da Saúde.“Essa é a segunda cumeada da cidade, uma parte mais afastada do Centro Histórico, onde Salvador nasceu. Está, portanto, mais afastada do roteiro turístico, mesmo sendo uma igreja muito importante. Minha intenção é inseri-la. Estou trabalhando nisso junto com a Arquidiocese”, revela.  Para quem mora no bairro da Saúde, se a igreja vai ser mais frequentada por turistas ou não, isso nem importa. “Minha alegria é poder ver isso aqui aberto novamente. Estava sem ir à Missa e agora voltarei a frequentar a casa de Deus”, disse a professora aposentada Marcia Espírito Santo, 80 anos. Ela soube pelo porteiro da inauguração da igreja e fez questão de participar da cerimônia civil. “Não fazia ideia que ia ser hoje. Quando vi essa igreja aberta, chega me emocionei”, revela.  

Dona Marcia, no entanto, vai ter que esperar um pouco para participar da Missa lá. É que ainda não há previsão de quando as celebrações religiosas serão retomadas. “Estamos vendo se em 15 dias conseguimos fazer a Missa de reabertura, com o Arcebispo, que ainda se recupera de uma cirurgia e está com a agenda restrita. Só depois é que divulgaremos os horários das celebrações e de outras atividades na paróquia”, conta o padre Valson. Até lá, ele pede que os fiéis continuem rezando pelo fim da pandemia.“Nossa Senhora da Saúde e Glória está cuidando de Salvador”, garante.