Igrejas e templos se preparam para retomar cultos presenciais em Salvador

Centros religiosos voltam a funcionar na Fase 1 de reabertura das atividades na cidade

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 10 de julho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO

Com restrições, igrejas e templos religiosos voltarão a funcionar em Salvador quando a ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva da cidade se estabilizarem em até 75%, pelo período mínimo de cinco dias. Nessa realidade, o município estará na primeira fase do plano de retomada das atividades presenciais, que inclui ainda a abertura de shoppings e comércios de rua acima de 200 metros quadrados. 

Rezando pelos 75%, algumas igrejas e seus fiéis já começaram a se movimentar no sentido da retomada. A Arquidiocese de São Salvador da Bahia, por exemplo, divulgou uma nota oficial assinada pelo Cardeal Dom Sergio da Rocha, novo arcebispo da cidade e primaz do Brasil, com medidas que serão adotadas pelas paróquias quando for atingida a Fase 1.

Entre as orientações e determinações está a realização das missas apenas de segunda a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos, sem restrição de horário. Também deve ser observada a capacidade máxima do templo em 50 pessoas ou, para igrejas que comportam uma quantidade igual ou maior do que 255 fiéis, 20% da capacidade.  A nota oficial também destaca a obrigatoriedade do uso de máscara, álcool a 70 e da higienização do espaço.

Durante a missa, será omitido momentos de abraços e de aperto de mãos, e a comunhão só poderá ser dada nas mãos dos fiéis. O dízimo e as contribuições financeiras ofertadas pelos fiéis serão na saída da igreja. As confissões podem voltar cuidando do distanciamento. Os fiéis que fazem parte do grupo de risco devem ser orientados a acompanhar a missa através dos meios de comunicação. 

Na Basílica do Senhor do Bonfim, padre Edson Menezes da Silva afirmou que, na próxima semana, um documento será emitido com orientações acerca da abertura para os fiéis, voluntários, padres e até turistas. O texto está em fase de conclusão, mas padre Edson já adianta que fará um espaço entre as missas para que os bancos sejam higienizados.

Segurança Pelo cálculo feito pelo reitor do Bonfim, a igreja terá capacidade de 60 pessoas por celebração. Mesmo sem fazer parte do grupo de risco, a estudante Bianca Carneiro, 25, não pretende participar das missas presenciais: “Não me arriscaria a ir. Vou continuar acompanhando as missas online. Fico preocupada com os mais velhos, que podem ser mais afetadas pelo vírus”.

Pastor da Igreja Batista Nazareth, Joel Zeferino disse que a sua igreja não deve aderir à volta presencial.  “Vamos manter as atividades somente virtual, enquanto não houver segurança para as pessoas. Ou reduz drasticamente o número de casos ativos ou surge uma vacina. Sem isso, não tem condições de voltar”, disse. Para ele, as celebrações religiosas podem ser um fator de contágio.“Já vimos casos de pastores que não tinham suspendido os cultos e que faleceram da doença. Entendo que há o desejo de retornar, mas  precisamos fazer esse sacrifício pelo coletivo”, concluiu. 

Já o espírita José Medrado, fundador da Cidade da Luz, afirmou que a volta das atividades no centro não acontecerá de forma imediata, assim que a fase 1 seja atingida. “Eu não estou convencido de que esse seja o momento ideal. Devo ficar uma semana a 10 dias analisando os outros templos, para ver o que vai acontecer e como as pessoas vão se comportar. Isso vai me servir de parâmetro”, disse.  Segundo Medrado, nos encontros mais cheios, a Cidade da Luz chegava a receber duas mil pessoas. Com as novas regras, esse número será reduzido para 400. 

Definir quem poderá participar dos encontros é um desafio para o líder espiritual. “Quero evitar aglomeração na porta, por isso, acho que não vai ser por ordem de chegada. Sendo assim, iremos marcar a presença por telefone? Como vou fazer para controlar que não venha mais gente?”, questionou-se.  

Regras para terreiros devem ser diferentes

Para o presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), Leonel Monteiro, as regras estabelecidas pela prefeitura no plano de retomada das atividades presenciais precisam se adequar às realidades dos terreiros. Ele disse que o grupo está em contato com Casa Civil municipal, que deve emitir um protocolo setorial que leva em conta as especificidades do setor.

 “É importante que sejam orientações preventivas, informativas e educativas. Não punitivas. É fundamental que o protocolo não contemple a punição de comunidade secular de terreiro por não cumprir todas as regras, por não ter condições financeiras de aplicá-las”, diz Leonel.  Ele destacou ainda a diferença física dos terreiros para as igrejas, o que cria essa necessidade de especificação. “Nossa forma de culto não é como nos templos. O contato físico na nossa religião é algo fundamental, que acontece com as pessoas incorporadas e nos toques dos instrumentos. Precisaremos do apoio municipal na doação de materiais higiênicos, que não poderão faltar”, completa.  

 A sugestão apresenta à Casa Civil pela AFA é de que a retomada das atividades dos terreiros aconteça em quatro fases, de acordo com a ocupação dos leitos de UTIs. Na fase 1, com ocupação de 75%, seria permitido a entrada apenas dos membros da casa, sem aglomeração, e sendo priorizado a ventilação natural.  Já na fase 2, com ocupação em  70%, o acesso das pessoas será permitido conforme a capacidade de cada terreiro, prezando o distanciamento social. Nessa fase, ainda não será possível usar os instrumentos, para não incentivar  participação coletiva.

 A fase 3, com 60% de ocupação, os terreiros já poderão começar programar o calendário litúrgico para outubro em diante. Será também evitado o compartilhamento dos instrumentos, que já poderão ser tocados. “Permanece o controle de acesso e os mais velhos continuarão afastados, por serem do grupo de risco”, diz  Leonel.  Na fase 4, no pós-pandemia, haverá a retomada das atividades mantendo os protocolos de segurança necessários. “Só nessa etapa os terreiros poderão voltar a receber turistas”, afirma. 

Confira as respostas de todas as dúvidas enviadas para a Arquidiocese de Salvador:

CORREIO: Atualmente, o que é permitido ser celebrado nas igrejas católicas e sob quais condições? Missas e casamentos com a presença de público já acontecem? 

Arquidiocese: Nossas atividades (Missas) não foram canceladas, apenas houve uma grande restrição na quantidade de pessoas por conta da aglomeração. Quanto aos outros sacramentos (casamentos e batizados, por exemplo), eles foram realizados, na medida do possível, seguindo as normas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). 

CORREIO: Como vai ser o controle e a escolha dos fiéis que poderão participar da Missa?   

Arquidiocese: Cada paróquia possui uma realidade e, diante disso, o pároco poderá ver a melhor maneira de acolher esta quantidade de fiéis, seguindo os “Protocolos e Critérios de Reabertura” do Governo do Estado da Bahia e da Prefeitura de Salvador. 

CORREIO: Quantos padres tem a Arquidiocese de Salvador? Quantos são idosos? 

Arquidiocese: Temos 297 padres diocesanos e religiosos. Destes, acima de 60 anos, são 57 padres diocesanos e 37 religiosos. 

CORREIO: Os sacerdotes que fazem parte do grupo de risco poderão voltar, conforme as orientações pastorais? 

Arquidiocese: Os sacerdotes que estejam em grupo de risco, claro que eles não poderão voltar. Estes padres devem celebrar para as pessoas que convivem diariamente com eles, de forma que não se exponham e também que não coloquem as pessoas de suas convivências em risco. 

CORREIO: Fiéis do grupo de risco são orientados ou são obrigados a não participar dos cultos presenciais? No caso, por exemplo, dos idosos que não perdem uma Missa, a paróquia teria autoridade de não permitir a entrada?  

Arquidiocese: Seremos fiéis aos protocolos determinados pelos órgãos competentes. O cuidado será a bandeira da nossa retomada gradual das Missas. Com caridade, faremos o possível para que pessoas do grupo de risco, neste momento, não se exponham e nem coloquem em risco as próprias vidas ao saírem das casas para participar das Missas presenciais. 

CORREIO: Todos os padres da Arquidiocese estão favoráveis a abertura das igrejas? 

Arquidiocese: Sim, é o desejo de todos. 

CORREIO: Se algum padre se sentir à vontade, poderá permanecer com os trabalhos no formato atual, as chamadas missas online?   

Arquidiocese: Para atender aos fiéis que ainda não podem participar das Missas presenciais, os padres podem e são aconselhados a manterem as Celebrações Eucarísticas com transmissão, ao vivo, sem deixar de celebrar as presenciais. 

CORREIO: Na fase 1, será possível voltar o sacramento da confissão? 

Arquidiocese: O sacramento da Confissão poderá retornar com os devidos cuidados, seguindo o Protocolo estabelecido pelo Governo do Estado e pela Prefeitura de Salvador (é importante destacar que a Confissão só pode ser realizada pelos padres). Nenhum sacramento deixará de ser oferecido, com os devidos cuidados. 

CORREIO: A manutenção das missas online, além de alcançar os fiéis do grupo de risco e que decidiram não quebrar o isolamento social, pode alcançar um novo público para a Igreja Católica?  

Arquidiocese: Estamos vivendo um novo tempo, tempo de atender os fiéis em todas as instâncias. Muitas paróquias optaram por manter, além da Missa presencial, também as Missas pelas plataformas digitais. Isso é maravilhoso porque podemos ir onde nunca fomos... "novos areópagos". 

Confira a lista com todas as orientações da Arquidiocese de Salvador:  

1) As missas serão permitidas de segunda a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos, sem restrição de horário.  

2) As celebrações não podem ultrapassar o máximo de 50 pessoas, observando-se a distância mínima de 1,5 metros entre elas, ou 20% da capacidade do local, o que for maior. É necessário organizar os bancos ou cadeiras para acomodação dos fiéis, de modo a observar o espaçamento exigido. A fixação de marcadores de distanciamento poderá ajudar a observar esta exigência.  

3) São obrigatórios: o uso de máscaras, o fornecimento de álcool em gel 70% e a rigorosa higienização do local.  

4) Na medida do possível, seja oferecido um número maior de celebrações, observando-se o intervalo necessário entre as missas para não causar aglomerações internas e nas proximidades dos estabelecimentos religiosos.  

5) Estarão fechados os espaços para crianças nas igrejas   

6) Pessoas com sintomas que possam indicar Covid-19 não devem participar das celebrações. As pessoas que pertencem aos grupos de risco devem tomar especiais cuidados; sejam orientadas a acompanhar as celebrações através dos meios de comunicação.   

7) Continuam suspensos, na forma presencial, os encontros de catequese, cursos de formação, assembleias, retiros, encontros pastorais e festas comunitárias, para evitar aglomeração de pessoas, recomendando-se a adoção de meios virtuais 

8) As igrejas podem estar abertas durante o dia para visitas de oração ou adoração ao Santíssimo Sacramento, desde que observados os requisitos determinados pelos Protocolos; portanto, sem jamais permitir aglomeração de pessoas. 

Na realização das Missas, outras regras serão aplicadas:   

1) Omitir o abraço da paz, não dar as mãos na oração do Pai Nosso e ao comungar, receber a hóstia na mão.  

2) A distribuição da comunhão deve ser feita com o uso de máscara facial e a prévia higienização das mãos.  

3) Na procissão para a comunhão eucarística, os fiéis devem respeitar o distanciamento recomendado.  

4) Os microfones devem ser devidamente higienizados, evitando-se o seu uso comum. 

5) Não devem ser distribuídos folhetos litúrgicos de uso comum.  

6) O recolhimento do dízimo ou da oferta dos fiéis - a contribuição financeira dada no momento da Missa conhecido como “ofertório” - será realizado na saída da igreja, seguindo os critérios de segurança.  

7) Os sacerdotes e diáconos podem realizar atendimento pessoal dos fiéis, com os devidos cuidados para preservar a própria saúde e daqueles que buscam a ajuda da Igreja, como o distanciamento, a higienização das mãos e o uso de máscara facial. Quem estiver com a saúde debilitada ou com quadro gripal deve evitar o contato com as pessoas, especialmente com os grupos de risco.  

8) É recomendado a continuidade da transmissão das missas através dos meios de comunicação social.  

* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro